POLÍTICA
Opinião: 'O Brasil terá o presidente que merece...'
Jamarrí Nogueira mistura história da Alemanha e Haiti e conta por que chora pelo Brasil.
Publicado em 27/10/2018 às 7:00 | Atualizado em 01/03/2023 às 17:26
Crise econômica, desemprego em nível elevado, descontentamento social com o regime democrático, temor de uma ‘revolução socialista’ e empresários e Igreja apoiando a extrema direita (optando por extremistas). Até parece que estamos falando do Brasil, mas esse cenário se refere à Alemanha da década de 1920.
Esse panorama permitiu a ascensão de Adolph Hitler ao poder. Entre 1925 e 1930, o governo alemão abriu mão da democracia e adotou um regime conservador-nacionalista. Coisas do ‘herói’ da Primeira Guerra Mundial, Paul von Hindenburg, que se opôs à natureza liberal democrática da República de Weimar.
Havia uma fome de autoritarismo na Alemanha. E o apoio público aos nacionalistas mais radicais ganhou cada vez mais força. Os alemães já haviam enfrentado uma hiperinflação na década de 1920, mas a Grande Depressão de 1929 pareceu a gota d’água. O Partido Nazista, que tinha apenas 12 representantes no Parlamento Federal, passou a contar com 107 parlamentares nas eleições de 1930.
O crescimento dos extremistas de direita resultou da insatisfação popular e dos desejos de empoderamento (mesmo que às custas de discursos de ódio e opressão das minorias). Os alemães queriam ‘acabar com a farra’ e já tinham certeza de que era melhor para população já ir se acostumando com as novas diretrizes políticas, econômicas e sociais do País.
Basta dizer que, após as eleições de julho de 1932, os nazistas tornaram-se o maior partido alemão no Congresso, com 230 lugares. E Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha no início do ano seguinte. Alguns alemães devem ter pensando assim: “Se ele não governar bem, a gente tira ele nas próximas eleições”.
Triângulo rosa
Bem... Um gabinete ministerial foi montado para controlar o poder de Hitler. E sabe o que ele fez ao assumir? Dissolveu o tal gabinete. O resto da história já conhecemos todos muito bem. A oposição foi eliminada (inclusive com o fim dos partidos) e o regime tornou-se ditatorial. Ditadura instalada, senhoras e senhores, segmentos da sociedade foram demonizados e perseguidos. Prisioneiros de guerra, comunistas, social-democratas, judeus, testemunhas de Jeová, ciganos e homossexuais comeram o pão que o diabo amassou.
Sabemos todos como os gays foram perseguidos durante o regime nazista. Mais de 10 mil homossexuais foram deportados pela ditadura de Adolf Hitler. Nos campos de concentração recebiam nas roupas um triângulo rosa. Em 1935, a legislação contra os homossexuais foi endurecida pelo regime. As estimativas da época apontam que cerca de 100 mil pessoas foram fichadas como gays.
Os termos do parágrafo 175 do código penal foram reforçados: “A luxúria contra o que é natural, realizada entre pessoas do sexo masculino ou entre homem e animal é passível de prisão e pode também acarretar a perda de direitos civis”. Todos os gays passaram a ser cadastrados na Central do II Reich. Depois disso, a perseguição e a condenação. Perseguição e condenação que segmentos sociais brasileiros estão acostumados a sentir...
'Mimimi'
A extrema direita ganha força – muita força! – ao encontrar colo naqueles que jamais acreditaram em planos de governo voltados para as parcelas mais necessitadas da população. A extrema direita encontra colo, ainda, entre aqueles que se decepcionaram com os rumos do centro-esquerda, mas também naqueles que sempre tiveram em si discursos de ódio.
A extrema direita acredita na expressão ‘mimimi’. A extrema direita tem certeza de que ‘bandido bom é bandido morto’. A extrema direita está certa de que é preciso armar os ‘cidadãos de bem’ para que possam atirar contra bandidos... E eu só lembro de Caetano Veloso convidando a todos – musicalmente – “pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado”.
É desse adro que podemos enxergar uma “fila de soldados, quase todos pretos, dando porrada na nuca de malandros pretos, de ladrões mulatos e outros quase brancos - tratados como pretos, só pra mostrar aos outros quase pretos e aos quase brancos pobres como é que pretos, pobres, mulatos e quase pretos de tão pobres são tratados”.
Claro que eu penso no Haiti. Claro que eu penso na Alemanha. Claro que eu choro pelo Brasil, independente do resultado das urnas neste domingo. Porque a polarização agora explícita já é dolorosa demais... Estou do lado dos oprimidos. Porque oprimido é o que eu sou... Quer escolher o lado certo? Recomendo mais leitura e menos ódio. Recomendo mais reflexão e menos fake news... Só assim o Brasil terá o presidente que merece...
* Jamarrí Nogueira é repórter da CBN João Pessoa e escreve sobre arte e cultura no Jornal da Paraíba aos domingos. A coluna está sendo publicada excepcionalmente neste sábado (27) por conta de cobertura especial do segundo turno das Eleições 2018 no domingo (28).
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