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CULTURA

A ficção de Chico Dantas

Exposição do artista Chico Dantas recria ambiente boêmio da rua da República; mostra fica em cartaz até 16 de março.

Publicado em 13/02/2014 às 6:00 | Atualizado em 23/06/2023 às 12:24

Antes um reduto pulsante da boemia pessoense, ponto de encontro entre intelectuais, mulheres e poetas da noite, hoje é uma região em franco abandono, cá e lá ocupada por lojas comerciais e oficinas mecânicas. O passado esquecido da rua da República, no bairro do Varadouro, foi recriado ficcionalmente por Chico Dantas em Diário de Café, exposição que o artista abre nesta quinta-feira, às 20h, na Usina Cultural Energisa.

Composta por dez painéis com imagens obtidas a partir de recursos audiovisuais e tratadas digital e manualmente, a série que fica em cartaz até o dia 16 de março em João Pessoa é a terceira etapa de uma pesquisa que Chico Dantas vem conduzindo desde 2010, quando produziu o vídeo Via República (com o qual participou da 16ª edição do Videobrasil, em São Paulo).

"Eu venho pesquisando aquela área há quatro anos, conversando com antigos moradores e guardando as histórias na memória, juntando um repertório de informações", conta Chico Dantas, que em 2011 foi premiado no Setembro Fotográfico com República de Lata, ensaio no qual clicou as fachadas das oficinas e os portões de ferro característicos da região.

Se quem passeia pela rua da República atualmente não é capaz de contar a história perdida daquelas esquinas, Chico Dantas recorda-se dela muito bem: o lugar foi um dos abrigos de sua juventude, quando se mudou de Santa Rita para João Pessoa em 1964, no ano do Golpe Militar, quando então contava com apenas 14 anos.

"Minha adolescência foi naquela região e eu tinha um tio da Polícia Militar que me contava muitos episódios dos estabelecimentos que ele frequentava", lembra Chico, que em um painel de um metro e vinte cinco por um metro e oitenta recria um dos mais famosos deles: o do "tiro no espelho".

"Foi uma ocorrência passional que se passou em um dos que haviam por trás dos cafés, separados por cortinas, onde as mulheres se encontravam com os clientes", explica o artista.

"Uma destas mulheres escreveu uma declaração de amor no espelho, com batom, e um cliente enfurecido, tomado pelo ciúme, destruiu o espelho a bala."

A reconstituição da cena demanda um processo complicado: "Eu monto a cena conforme os relatos e, com a ajuda de recursos videográficos, gero a fotografia digital a partir de um programa de edição de vídeo. Depois imprimo a imagem em impressora jato de tinta e trabalho com a pintura acrílica. É um trabalho ficcional, no qual eu ocupo um sítio histórico abandonado com arte."

Imagem

Jornal da Paraíba

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