Paulo Ró lança novo trabalho solo

Um artista que começa a carreira conciliando o som que tira de latas d’água e do violão pode lançar um trabalho cerca de 20 anos depois da ideia inicial e dizer o seguinte: “eu fiz do jeito que eu tinha que fazer, do jeito que eu quero ser lembrado”. Cantus Popularis é o terceiro disco individual da carreira dele e vai ser lançada hoje à noite no Teatro do Sesi em João Pessoa, num show às 20h (serviço).

Mais do que uma releitura das tradições culturais da Paraíba, o CD é um esforço para divulgar os divertimentos populares nos folguedos, por um artista que vivencia essas experiências. “As músicas são uma grande brincadeira, na prática as pessoas se divertem quando cantam essas canções, porque a música da cultura popular tem uma coisa de ingenuidade, e eu precisava divulgar isso”, explica o artista que mora em Lucena, onde participa suas inspirações.

Dá pra ouvir a voz do povo cantando as histórias de pescadores em 'Na força da lua'; a luta política nos versos ‘nossa bandeira é cativa/ defende nossa nação’ de 'Loas de cambinda'; e ainda a religiosidade do povo que vê no ‘rosário de maria o céu encher de glória e a terra de alegria’, na música Santana dá louvor.

O álbum tem 16 faixas, algumas delas instrumentais, que passeiam pela ciranda, coco, a música minimalista e algumas doses de heavy e trash metal. É o caso de ‘Coco aboiado’, que abre com um riff pesado de quase um minuto e meio, emenda na embolada, volta pro rock, e finda no coco. Tudo isso cantando ‘Olha o boi! Gado manso’. Mas feito com autoridade de quem não está preocupado em “experimentar”, mas em fazer misturas conscientes que definem uma identidade.

Financiado por um edital de 2008 do Fundo de Incentivo Cultura do Estado (FIC), o projeto deveria ter saído em 2009, mas houve complicações no processo. A mão só voltou à massa no ano passado, e agora o artista finaliza em João Pessoa uma turnê que já passou por Sousa e Cajazeiras. Segundo Paulo Ró, esse trabalho já vem sendo maturado desde os anos 1980 e se chamaria Raízes Elétricas: "A mudança no nome tenta trazer um pouco da ancestralidade que é a cultura popular tem", explicou.

INÍCIO DA CARREIRA

Paulo Roberto do Nascimento (Paulo Ró) começou na música na década de 70, quando em parceria com irmão Pedro Osmar fundou o grupo Jaguaribe Carne, que faz uma música experimental e continua ativo até hoje. Os destaques do grupo são os discos de lançamento Jaguaribe Carne Instrumental (1993), que teve mil capas artesanais diferentes, e um dos mais recentes, o Vem no Vento (2003). Passaram pelo grupo nomes como Chico César, Vital Farias, Totonho, Paulinho Ditarso e Escurinho.