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COTIDIANO

Áudio revela suposta 'propina da merenda' paga a professor por empresário da Famintos

Publicado em 20/09/2019 às 7:00 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:35

Em conversa, gravada com autorização da Justiça, professor diz que recebia R$ 700 e pede 'ajuda' para colega de trabalho

Entre as conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal durante a Operação Famintos, que investiga fraudes em licitações e desvio na merenda escolar em Campina Grande, uma revela uma situação estarrecedora. Um professor, de uma escola pública, trava um diálogo com um dos empresários investigados e diz que recebia R$ 700 por mês do fornecedor dos produtos da escola. A gravação foi feita, com autorização da Justiça, em maio deste ano.

Durante o diálogo, ele ainda pede o aumento do valor da suposta propina para R$ 1 mil, alegando que o restante seria repassado para um colega de trabalho. O colega, de acordo com a gravação, teria auxiliado o professor no processo de reeleição para o conselho escolar. Em um dos modelos do PNAE, a compra da merenda é feita diretamente pelas escolas.

O nome do professor será preservado pelo Blog, já que ele não está sendo formalmente investigado no âmbito da Operação Famintos. A voz dele também foi distorcida, para evitar qualquer tipo de identificação. O empresário, alvo do suposto pedido de propina, é identificado nos relatórios da Polícia Federal como sendo Severino Roberto Maia de Miranda, denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por envolvimento no suposto esquema de fraudes.

https://soundcloud.com/joao-paulo-597766321/audio-modificado

Veja a transcrição:

Professor: Eu queria fazer um pedido ao amigo.

Empresário: Diga lá.

Professor: Olhe, eu ganhei de novo a eleição a duras penas. Eu vou ficar mais dois anos.

Empresário: Ô coisa boa.

Professor: A partir de setembro termina esse meu mandato... Aí, o que é que acontece... Tu sabe que sou muito verdadeiro contigo.

Empresário: Humhum.

Professor: Eu tive um apoio de um professor que é meu vice-presidente do conselho. Muito forte lá.

Empresário: Ahnhã.

Professor: Pra me poder me permanecer lá, tudo isso.

Empresário: Hum.

Professor: Aí, não tem aquele negocinho da carne que você me dá todo mês?

Empresário: Hum.

Professor: Aquela diferençazinha que dá quase setecentos reais?

Empresário: É.

Professor: Aí, eu queria saber de você se era possível fechar umas comprinha de mil todo mês?

Empresário: A gente vai e aumenta lá... alguma coisinha que seja lá.

Professor: Porque eu pegava, eu dava um negocinho a ele, sabe?

Empresário: Pronto. Eu boto e dou uma aumentada nas compras lá, fecha no negócio lá.

Professor: É, porque assim, é... setecentos, mais ou menos já dá de carne, né? A diferençazinha que tu me dá.

Empresário: É, a gente aumenta na nota, porque eu não posso dar mais do que esse valor não. Eu já tô dando muito, que ninguém dá isso não.

Professor: É, aí, eu...

Empresário: Só quem dá isso, só quem dá isso sou eu. Ninguém dá não, viu.

Professor: É, eu sei. Aí eu vou pegar, eu vou. Tem que dar uma ajuda a ele, sabe? Todo mês dar um negocinho a ele.

Empresário: Pronto. Tá bom. Ok.

Professor: Aí, quando tu me repassar o negócio ... no mês, eu repasso pra ele também.

Empresário: Ok. Pois tá bom.

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João Paulo

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