VIDA URBANA
Nova cracolândia em JP
Comerciantes da rua Sá de Andrade reclamam do perigo e dizem que a via é um ponto de consumo e distribuição de drogas à noite.
Publicado em 22/03/2014 às 6:00 | Atualizado em 11/01/2024 às 18:45
A rua Sá de Andrade, ao lado da sede do 1º Batalhão de Polícia Militar (PM) da Paraíba, no bairro do Varadouro, em João Pessoa, virou uma nova cracolândia. Comerciantes reclamam do perigo e dizem que a via é um ponto de consumo e distribuição de drogas à noite. Enquanto isso, o Conselho Tutelar da Região Norte já alertou autoridades e órgãos de segurança para a necessidade de providências urgentes. Um jovem usuário de drogas foi assassinado no local no início do mês de fevereiro.
O conselheiro Tutelar da Região Norte, Luiz Brilhante, confirmou que muitas reclamações já foram recebidas sobre o consumo de crack entre os jovens na rua Sá de Andrade.
“Foram muitas reclamações de comerciantes, que falaram do perigo. Nós mandamos, no final do ano passado, relatório para o Ministério Público, juiz da Infância e Juventude, Delegacia da Infância e Juventude e para o comandante geral da PM”, explicou.
Brilhante também ressaltou que há necessidade de uma ação conjunta entre órgãos, mesmo que o consumo seja feito por adolescentes. “Sabemos que a situação envolve crianças e adolescentes. Mas quando se trata de um caso de tráfico, o Conselho Tutelar tem que ter apoio da delegacia e da PM. Estamos preocupados também porque as pessoas estão com medo de passar por ali no final da tarde”, enfatizou.
Um comerciante, que preferiu não se identificar por questão de segurança, ressaltou que a situação do local é bastante tensa.
“Eles chegam aqui por volta das 17h30 da tarde. São meninos e meninas. A gente fica com medo. Mas o que incomoda mesmo é a sujeira que deixam porque urinam e fazem uma baderna”, relatou. “Já vi esses jovens pedirem dinheiro a motociclistas que passam por esta rua. E quando esses motociclistas não têm dinheiro para dar, levam tijolada”, relatou.
O mesmo comerciante também lembrou que um outro dono de estabelecimento da rua tentou afastar os jovens viciados do local, mas não conseguiu. “Ele tinha colocado até óleo diesel na calçada para evitar que eles fiquem por lá. Mas não tem jeito, eles permanecem. E o pior é que isso tudo acontece bem ao lado do quartel do primeiro batalhão. Mesmo assim, não é feito nada”, criticou.
O subcomandante do 1º Batalhão da Polícia Militar, major Oscar Beuttenmuller, assegurou que a polícia está atenta aos problemas na área e que o policiamento já foi intensificado para garantir segurança aos comerciantes.
“Estamos com policiamento 24 horas na rua. Até as 19h, os policiais fazem rondas a pé e depois disso colocamos viaturas motorizadas do quadrante”, informou. Ainda conforme o oficial, o próprio batalhão já entrou em contato com o Ministério Público da Paraíba (MPPB) para buscar soluções sobre a situação dos usuários de drogas na rua.
“Em janeiro, antes dos homicídios na região, fizemos uma Exposição de Motivos, narrando os acontecimentos com os moradores de rua, e enviamos para a promotora do Ministério Público responsável pela curadoria do cidadão, Sônia Paula Maia”, afirmou. “Gostaríamos que fosse montada uma força-tarefa para cuidar da questão, junto com a prefeitura e o governo do Estado. Em março, reiteramos esse pedido e essa semana a própria promotora já falou com o comandante sobre os detalhes dessa ação”, acrescentou.
PROJETOS DE COMBATE AO CRACK
O secretário de Políticas Públicas de Combate às Drogas, da Secretaria do Desenvolvimento Humano do Estado, Tullio Polari, mencionou que desde o ano passado existe um convênio entre os governos estaduais e municipais com Brasília para acabar com o vício do crack entre a população paraibana.
“O plano 'Crack é Possível Vencer' teve um investimento para o nosso Estado de R$ 118 milhões. Esse valor foi divido entre as prefeituras de Campina Grande, de João Pessoa e o governo do Estado”, observou.
“O pacto consiste em duas etapas: a primeira trata da segurança e a segunda, da prevenção. Em João Pessoa, a prefeitura escolheu o Centro, enquanto o Estado escolheu o bairro de Mandacaru, dois dos mais afetados pela questão das drogas”, prosseguiu. Para a primeira etapa, conforme Polari, houve a aquisição de novos equipamentos, como veículos, armamentos, fardamentos e câmeras de alta resolução.
“Na segunda fase, vão ser instalados núcleos de atendimento ao público, pontos para receber os usuários de drogas e moribundos das ruas. Estes núcleos são casas de passagens, ferramentas para apoiar essas pessoas”, destacou, esclarecendo que o governo do Estado vem atuando de forma incisiva para acabar com o problema.
Em relação aos projetos desenvolvidos para os dependentes químicos que habitam as ruas, a assessora da Diretoria de Assistência Social, da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), Zuleide Pereira, frisou que o órgão vem trabalhando igualmente para cuidar e tratar dessa população.
“Temos três ou quatro equipes denominadas 'Consultório na Rua'. É um grupo de abordagem relacionado à saúde que vai às ruas mediante denúncia ou demanda espontânea para prestar atendimento aos moradores de rua”, salientou. “E se um usuário de droga quiser encaminhamento para tratamento, as equipes o conduzem até um Caps (Centro de Atenção Psicossocial) para esse acompanhamento”, continuou.
Zuleide também citou projetos como o 'Ruartes' e o Centro Pop (Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua).
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