A história de Warley no Botafogo-PB é marcada por títulos, liderança, carisma e o resgate da idolatria do torcedor alvinegro a um jogador que marcou época no clube. Pela Maravilha do Contorno, ele foi atleta, gerente, técnico interino e símbolo de um time que conquistou, junto dele, seis títulos e um acesso. Posteriormente, sua trajetória chegou ao fim para que a carreira como treinador efetivo fosse iniciada. No entanto, a história foi escrita e precisa ser, sempre que possível, lembrada.
Antes de falar sobre sua glória construída a camisa botafoguense, vale relembrar que Warley começou sua história no futebol da Paraíba em 2011, quando aceitou o convite para defender o Treze e realizar um dos maiores sonhos de seu pai. No fim desse mesmo ano, a transferência dele para o Campinense pegou a todos de surpresa. Pelo Galo da Borborema e pela Raposa, ele conseguiu ser o grande nome das edições do Campeonato Paraibano dessas duas temporadas, faturando o título estadual pelos dois e um acesso à Série C pelos Alvinegros. Ao todo, pelo rivais de Campina Grande, ele marcou 43 gols (20 pelo Treze e 23 pelo Campinense).
Para chegar ao Botafogo-PB, a negociação entre o então atleta e o clube foi objetiva, clara e sem arrodeios. Quando se preparava para viajar até Brasília, onde tinha residência fixa, Warley recebeu uma ligação do seu empresário, que já havia tido um primeiro contato de Nelson Lira, que era o presidente do Alvinegro.
O projeto apresentado pelo clube, que seria comandado pelo técnico Marcelo Vilar, com quem já havia sido campeão no Treze, somado à possibilidade de quebrar um tabu de quase 10 anos sem títulos do Belo, o sezudiu. De pronto, ele aceitou. Viajou por pelo 20 dias para perto da família, na capital federal e retornou para onde escreveria uma história e tanto em sua trajetória. Daí em diante, o sim do experiente atleta, que já havia construído e tanto no futebol nacional e com passagens também pelo exterior, rendeu momentos inesquecíveis.
2013 e 2014: vínculo com a torcida, liderança e títulos
A ida de Warley ao Botafogo-PB foi quase um passaporte para que o torcedor do Belo retornasse com a força que a equipe de 2013 precisava. Com um elenco qualificado e fechado na busca de grandes feitos, W9, como passou a ser conhecido no futebol paraibano, foi, diretamente, um dos responsáveis por afinar o entrosamento entre arquibancada e jogadores.
Um dos pontos fortes para que essa relação ficasse estreita foi o início de temporada do Alvinegro mandando jogos na Graça. O estádio era pequeno e a torcida ficava perto do time. Dentro das quatro linhas, o Botafogo-PB correspondia, convencia e contava com o fino do futebol do capitão e artilheiro Warley, sedento por gols, títulos e por uma identificação, que era questão de tempo, com a massa botafoguense.
Quando a gente imaginou que seria prejudicial ao clube, foi o contrário. Foi quando a gente resgatou que todo amor tinha pelo Botafogo-PB. O jogo era na quarta. Na segunda-feira, os ingressos já estavam esgotados. Todo jogo era lotado. Com 30 minutos de jogo, já estava 2, 3 a 0. A gente jogava pelo torcedor, porque a gente sabia que eles estavam com essa gana de ser campeão. Eu, como capitão da equipe, fazia de tudo para passar aquele sentimento que o torcedor estava para os jogadores"
O sentimento, de fato, foi bem assimilado e regeu o Botafogo-PB ao longo daquele ano. O saldo ao término do Campeonato Paraibano foi para lá de animador, já que o clube foi campeão estadual depois de nove anos, em uma final inesquecível contra o Treze, no Amigão. Posteriormente, veio a Série D do Brasileiro, em que o Belo conseguiu o acesso à Série C e o título da quarta divisão, inédito na carreira de Warley.
No entanto, o ex-jogador precisou de muita resiliência para passar por um momento de instabilidade técnica após uma lesão ainda no Campeonato Paraibano. E, com a chegada do atacante Fausto, acabou perdendo espaço e indo para o banco de reservas. Mas não deixou de lado a voz para os seus companheiros e também a representatividade para os botafoguenses. E a justificativa de tudo isso foi dada no confronto mais importante da temporada, contra o Tiradentes, do Ceará, que valeu o acesso.
O ser humano não pode ser uma pessoa jogando e outra pessoa no banco. Tem que ser a mesma pessoa. É caráter. Se você é um líder, independente da situação que você estiver, você sempre vai ser um líder. O que é que eu devia ao torcedor? Eu devia respeito ao torcedor e aos meus atletas. Não era porque eu fui ao banco de reservas que eu ia me calar e não ser mais o Warley. Pelo contrário. Foi aí que eu peguei mais força, não só com palavras, mas com atitudes. Contra o Tiradentes, a gente estava perdendo por 1 a 0 aqui (em João Pessoa), e o Marcelo Vilar me chamou no intervalo. A gente conseguiu virar o jogo (ele fez dois gols) por 2 a 1 e fomos com uma vantagem muito grande para Fortaleza. Isso que é importante"
Além dos títulos conquistados no ano de 2013, Warley conquistou o bicampeonato paraibano no ano seguinte, com menos protagonismo dentro de campo. Na reta final da Série C daquele ano, com o Belo no G-4, ele foi dispensado pela diretoria e encerrou, ali, a sua primeira passagem pelo Alvinegro da Estrela Vermelha.
2016 e 2017: um quase acesso e um quase descenso
No ano de 2015, Warley aturou pelo River-PI e foi campeão piauiense pelo Galo Carijó. Mais um título em sua carreira, o quinto estadual consecutivo. Novidade mesmo foi ele, em novembro desse mesmo ano, acertar o seu retorno para o Botafogo-PB para a temporada 2016. Isso mesmo. Para quem não se lembra, ele foi contratado com a proposta de ser garoto-propaganda do Belo e, no meio do ano, realizar um jogo de despedida para anunciar sua aposentadoria. A diretoria alvinegra só esperava ter que refazer todos os planos.
Mesmo reserva, Warley foi o artilheiro do Botafogo-PB em 2016. Foram nove gols marcados. Muitos deles garantiram resultados importantes para o Belo. Ou seja, o então atleta ainda tinha o que oferecer tecnicamente e ajudou a equipe a chegar ao vice-campeonato paraibano, às oitavas de final da Copa do Brasil e ao quase acesso à Série B, quando o time perdeu o traumático jogo para o Boa Esporte, em Varginha, por 1 a 0, sofrendo gol nos acréscimos. O seu bom desempenho fez com a direção e o treinador Itamar Schulle usassem do diálogo para convencer que ele jogasse por mais um ano, como ele explica de forma resumida.
Quando voltei, em 2016, a promessa era de terminar o ano, mas eu acabei o artilheiro da equipe (na temporada). Eu entrava, fazia gol e voltava para o banco. E fui o artilheiro da equipe. E aí o pessoal (da diretoria) disse: "Não dá para encerrar (o contrato e a carreira) agora". E aí eu falei: "Então, tá bom. Vamos para mais um ano"
A temporada seguinte foi um tanto que avessa a anterior. Apesar do título paraibano no primeiro semestre, o Botafogo-PB não mostrava um bom futebol nas competições mais relevantes do calendário e sofreu bastante com a queda vertiginosa de rendimento ao longo da Série C. Entre más apresentações, trocas de treinadores e um rebaixamento que parecia iminente, Warley marcou apenas um gol (um golaço, contra o Confiança) na temporada e preferiu, após a calma das emoções do duelo contra o Sampaio Corrêa, que livrou o clube da queda, optar pela aposentadoria.
Em 2017, fomos campeões mais uma vez. Mas culminou em um ano na Série C que a gente não foi muito bem. Vencemos o Moto Club aqui, tínhamos que ganhar do Sampaio Corrêa lá dentro (na rodada final). E conseguimos. Mas depois daquilo ali, eu falei: "Para mim, acho que deu, já". Em 21 anos de carreira, eu nunca caí. Até hoje. E não seria naquele ano. Ainda mais em um clube que eu tinha uma história, como é o Botafogo-PB. E aí culminou de encerrar minha carreira por aqui, com o convite de permanecer na diretoria"
Daí em diante, aos 39 anos, Warley pendurou as chuteiras, abraçou a função de dirigente do Botafogo-PB, no cargo de gerente de futebol. Posteriormente, ele passou a fazer parte também da comissão técnica de Evaristo Piza, quando já começou a sinalizar e movimentar seu desejo de se tornar treinador. Pelo Belo, W9 ficou até janeiro deste ano, quando acertou a sua ida ao Nacional de Patos e estreou a sua carreira à beira do gramado de forma efetiva.
"Vida de treinador não é fácil"
Depois de comandar o Botafogo-PB por três jogos, ainda como interino, acumulando uma vitória, um empate e uma derrota, Warley resolveu começar 2021 dando vez ao seu desejo maior depois de aposentado. Foi aí que ele abriu negociação com o Nacional de Patos e, rapidamente, acertou sua ida ao Canário do Sertão para comandar a equipe no Campeonato Paraibano.
A expectativa, porém, foi contrastada com a realidade. Em sete jogos, quatro empates, três derrotas, quatro pontos somados e um rebaixamento no estadual que não aconteceu por conta do critério de desempate por saldo de gols, com a Perilima se dando pior. Trabalho e disposição não faltaram, mas passou longe de ser como o agora técnico desejou começar efetivamente sua carreira à beira do gramado.
No segundo semestre, o convite para treinar o Sousa era desafiador. Isso porque ele regeria o Dinossauro na disputa da Série D do Brasileiro. O início foi até animador, com uma vitória duríssima contra o Campinense. Foram dois êxitos, inclusive, dois empates e duas derrotas. Como o Alviverde já não andava bem com a perda de atletas importantes da campanha que o levou à decisão do Campeonato Paraibano, Warley acabou deixando o cargo.
Foi um ano de oportunidades que eu tive. Agradeço à diretoria do Nacional de Patos e do Sousa, que me deram essa oportunidade de começar. Foi um ano de muito aprendizado. A gente está sempre estudando, fazendo cursos, para que possa dar esse legado também à beira do gramado. É mais complicado. Você busca uma ideia, mas, às vezes, não consegue. E a culpa é sempre sua. Aprendizados demais. E agora vai começar uma nova temporada. Alguns contatos já me procuraram. Vida de treinador não é fácil. É dar sequência para ter uma vida mais tranquila à beira do gramado, com vitórias e fazendo as coisas bem feitas"
Cheio de experiência, boas histórias, e, sem dúvidas, com muito a acrescentar ao futebol da Paraíba, em especial, a certeza é de que a história que Warley construiu no esporte ficaram marcados em sua memória, em sua história, e também nas dos clubes por onde passou. No entanto, os gramados e as malhas das redes paraibanas balançadas são, sem dúvidas, privilegiados pelo balanço de emoção provocado a cada gol anotado.