Transformar o interesse de estudantes em trocar a tela de um celular ou o entretenimento das redes sociais para consumir livros físicos é um desafio para educadores. Em uma escola pública de Sousa, no Sertão da Paraíba, a sala de aula abre portas para o estudante transferir conhecimentos e sentimentos para os livros.
Na Escola Estadual Cidadã Integral Técnica de Sousa, os alunos são incentivados por professores a transferirem os seus pensamentos e emoções para o papel. Em conjunto, os alunos escrevem e publicam livros físicos.
O projeto na escola pública é promovido pelos professores Nilson Rutizat e Daniele Pereira.
“A gente incentiva o estudante a ser protagonista, a ser um escritor protagonista, ele ter esse contato com a literatura e que esse contato faça ter um significado na vida desse estudante. A gente trabalha com rodas de leitura, com oficinas de escrita literária”, explicou o professor.
As aulas de língua portuguesa e literatura passaram a ser mais práticas e ter um rendimento ainda mais notável. Os estudantes passam a ter maior contato com obras de escritores renomados da literatura brasileira, como Ariano Suassuna, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, dentre tantos outros grandes nomes da literatura e, através do trabalho de escritores de referência, os professores buscam trazer essas obras para a vida cotidiana dos estudantes através desse projeto.
“A forma como a gente trabalha é exatamente trazer a literatura para o cotidiano dos estudantes para que eles percebam que através da literatura eles podem expressar seus sentimentos, sentimentos esses que a maioria tende a esconder e a literatura tende a ser a libertação”, explicou a professora Daniele.
Se para os professores o projeto tem sido gratificante, para os alunos é ainda mais importante. Na opinião de alguns dos estudantes com obras já publicadas, a oportunidade de relatar e publicar os seus sentimentos tem sido reconfortante.
Por trás dos relatos presentes em cada livro publicado por alunos da escola, existe uma fragilidade que foi contornada pela literatura. Pelo prazer em escrever. São os casos de Roberta Pereira, Danilo da Silva e Flexson de Sousa Silva, que driblaram momentos adversos ou dificuldades de sociabilização para colocar no papel e publicar o que sentem.
Através da professora Daniele eu publiquei o meu primeiro livro e, para mim, é gratificante ver todo mundo lendo meu texto, porque [quando o escrevi] foi num momento em que eu estava frágil”, disse Roberta.
Eles [professores] insistiram nesse projeto e por eles trazerem para a sala de aula eu pude desenvolver mais. Eles me ajudaram a me reconhecer, porque eu era bem tímido e com essa produção literária eu pude tirar essa timidez de dentro de mim”, relatou Danilo.
Eu chegava a escrever livros, poemas, textos, só que sempre tive medo de publicar ou mostrar para qualquer outra pessoa. Depois que os textos foram publicados no livro, eu vi que muitas pessoas gostaram e eu me senti mais seguro em escrever e mostrar minhas escrituras”, explicou Flexson.
São histórias de vida como as de Roberta, Danilo e Flexson que inspiram tantos outros estudantes a escrever. E como a busca pela educação de qualidade pode ser transformadores na vida de quem está envolvido. Para a professora Daniele, o projeto busca desenvolver as habilidades e potencialidades contidas e adormecidas nos estudantes para que os alunos possam crescer através do toque da educação e com uma considerável contribuição da literatura - e suas referências.
“O projeto não desenvolve apenas a leitura e a escrita, ele desenvolve um jovem estudante como um ser global, como o jovem sendo autônomo, solidário e competente. E o projeto em si ele desenvolve essa gama de possibilidades”, finalizou Daniele.