No bairro de São José, na zona norte de Cajazeiras, no Sertão da Paraíba, o grupo Louceiras de Cajazeiras produz peças a partir do barro. A líder é dona Lourdes Souza, que há mais de 50 anos trabalha com a técnica e fez questão de passar para suas filhas e netos.
O grupo Louceiras de Cajazeiras foi reconhecido como patrimônio imaterial da Paraíba. O projeto de lei do deputado Júnior Araújo foi sancionado pelo governador João Azevêdo e publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), no dia 4 de maio de 2023.
Uma das filhas de Dona Lourdes, Carla Heloísa, espera que com o reconhecimento, o grupo possa ter mais valorização.
Estamos honradas, felizes e sobretudo esperançosas porque assim, mesmo com toda relevância, nós tivemos e ainda temos muitas dificuldades, então penso que esse título vai trazer uma melhor valorização e melhores condições de trabalho e assim incentivar a participação de mais pessoas”.
Formação do grupo Louceiras de Cajazeiras
Todos os sábados, na rua Epifânio Sobreira, no Centro de Cajazeiras, as filhas de dona Lourdes vendem as peças produzidas durante a semana. Sem bancada ou mesa, os potes, as canecas e outros itens são expostos no chão.
As peças são produzidas por dona Lourdes e suas filhas Carla Heloísa, Suênia, Sueidy, Clarice (Nenê) e Cícera. Também auxiliam na produção o esposo da matriarca, seu Luiz Gonzaga, os genros Kercio e Franco, o sobrinho Carlos César e a tia Maria Francisca. As netas Maria Luiza, de 15 anos, e Suzy Isabel, de 11 anos, já estão aprendendo a técnica e ajudando a família.
Dona Lourdes aprendeu a técnica com a mãe dela, aos 10 anos, e fez questão de passar para as cinco filhas. Quatro delas têm outras profissões, como Heloísa que é professora, mas continuam trabalhando paralelamente na produção das louças.
Reservada, a matriarca preferiu não participar da entrevista, mas disse que se sente “muito feliz e orgulhosa” de ver que os filhos e netos valorizam o trabalho. Dona Lourdes afirmou também que ficaria mais feliz se as filhas pudessem ajudar mais e ter a louça como trabalho exclusivo.
Produção das peças
Heloísa explicou que a produção dura a semana inteira e começa ainda no domingo. “Trabalhamos durante a semana, iniciando no domingo, e fazemos a queima na quinta feira. As peças pequenas que secam mais rápido demoram dois dias, as maiores vão até a quinta feira, momentos antes da queima”.
Dona Lourdes faz a maioria das peças, e os familiares realizam o acabamento. “Existem dois tipos de acabamento, um deles é com a peça ainda um pouco molhada, alisando com um sabugo de milho e um pente. Depois, quando a peça seca, alisamos com uma pedra lisa de rio e um plástico que chamamos de pá”.
Importância afetiva e histórica
Para Heloísa, o que começou como um trabalho de subsistência se tornou uma forma de manter os laços familiares e preservar a história. Ela ressalta que, mesmo tendo outra profissão, não abre mão desses momentos de compartilhamento de conhecimento.
“Mesmo com outros empregos, ajudamos para não perder esse contato familiar de estar junto. Então, penso que, pessoalmente, tem essa importância afetiva e, socialmente, é um trabalho ainda muito requisitado que vem perpassando culturas ganhando novos designers mas mantendo nossas origens históricas, por isso gostaríamos muito que não acabasse”.