VIDA URBANA
Bebê abandonado na última quarta-feira continua no hospital, mas passa bem
Recém-nascido encontrado embaixo de uma lixeira em uma rua de Cabedelo tem estado de saúde estável.
Publicado em 03/04/2015 às 7:00
Passa bem o bebê que foi abandonado na última quarta-feira com apenas algumas horas de vida em uma calçada da rua Golfo Amundsen, no bairro de Intermares, em Cabedelo, na Região Metropolitana de João Pessoa.
De acordo com a enfermeira Juliana Ferreira, plantonista da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do Hospital e Maternidade Edson Ramalho, apesar de permanecer internado e sem previsão de alta, o seu quadro clínico é estável e, até o momento, todos os seus exames estão normais. O administrador Jeremias de Oliveira, que salvou o bebê, continua acompanhando seu estado de saúde.
“Ele está bem, estável. É um bebê grande, ativo, esperto. Até o momento seus exames de rotina deram normais, e nós estamos no aguardo dos demais. Desde que ele entrou está em uso de medicações, sendo acompanhado 24 horas por dia”, explicou a enfermeira Juliana Ferreira. No local que tem sido a casa do pequeno Moisés, como foi carinhosamente batizado pelos moradores que ajudaram a socorrê-lo, pequenas doações de fraldas e roupas estão chegando para ajudar a compor o seu enxoval.
Moisés foi o único bebê abandonado este ano na capital, conforme registros da Vara da Infância e Juventude. Apesar disso, esse tipo de situação não é incomum e acontece com frequência em maternidades.
Em todo o ano passado, somente o Instituto Cândida Vargas registrou 16 casos de abandono, que foram encaminhados à Justiça, conforme a diretora multiprofissional da maternidade, Lisieux Pires. Ela explicou que cada mãe que dá entrada na unidade hospitalar recebe um acompanhamento particular para que seja observado se ela tem ou não a intenção de ficar com o filho.
“Todos os profissionais da maternidade são orientados a observar o comportamento das mães. Ver se elas têm comportamento distante, de rejeição, se não quer amamentar. Vemos tudo isso e, então, encaminhamos o caso à Vara da Infância, por meio do projeto Acolher. Então essa mulher é avaliada por psicólogos e do instituto e do setor psicossocial da Vara”, explicou.
“Às vezes a mãe volta atrás, mas, quando não, nós não a discriminamos. Ela é tratada clinicamente, os médicos são avisados e a criança é afastada da mãe e, depois, começa o encaminhamento para que ela seja adotada por alguém que está em uma longa gestação, há anos numa fila de espera”, acrescentou.
O processo de observação na maternidade tem que ser atento. Conforme Lisieux, não eram incomuns casos de mães que chegavam à maternidade com documentação falsa, para a criança já sair registrada no nome de outra mãe, ou sem documentos. “Nós tomamos todas as precauções. Tiramos cópias de todos os documentos das mães. No ano passado encaminhamos 16 casos à Vara da Infância. Não necessariamente esses se transformaram em casos de adoção, porque às vezes a família fica com a criança ou a mãe desiste do abandono, mas estamos duplamente atentos”, completou.
Ao todo, 362 pessoas estão 'em gestação', em uma fila esperando para adotar uma criança, de acordo com o juiz da Infância e Juventude da capital, Adhailton Lacet. No ano passado, 56 crianças foram adotadas, das quais 16 partiram de maternidades da capital. “Todas as maternidades têm parceria com o projeto Acolher e nós cuidamos de cada caso particularmente. Quando a família não quer, registramos a criança e a levamos para um abrigo. Lá, em um ou dois dias, essa criança já estará com uma família”, explicou.
Lacet ainda acrescentou que, no caso de Moisés, apesar de diversas pessoas manifestarem o interesse em ficar com ele, existe uma fila que deve ser respeitada. “A criança ficará no hospital, de onde só sairá com autorização judicial. Ele será registrado sem os pais e esse registro será anulado quando um novo for feito, com o nome do casal que o adotar. Até o momento, a mãe ou a mulher que abandonou ainda não apareceu, então estamos esperando, até porque tem toda a parte criminal deste caso para ser vista ainda”, complementou.
3 Perguntas para Jeremias de Oliveira, administrador de empresas que na última quarta-feira ele encontrou o bebê:
JP: Qual foi a primeira reação que o senhor teve ao se deparar com a criança?
A criança chorava, então eu a peguei rápido, fiquei chocado, não tinha ninguém na rua, então eu comecei a gritar pelos vizinhos. Em poucos minutos todos os vizinhos saíram, depois trouxeram lençóis e acionamos o socorro.
JP: O senhor pensou em adotá-la?
Confesso que me senti mesmo responsável por ela, tanto que a gente tinha a intenção de fazer mais por ela, mas nos disseram que não podemos fazer nada além do que já fizemos, pois existem vários trâmites e uma lista de pessoas à espera para adotar. Eu só senti mesmo uma sensação gratificante.
JP: O senhor acha que essa mãe deveria ter a chance de ficar com a criança?
Eu acho que a Justiça é quem determinará. Essa mãe deverá ser acompanhada e é possível que se arrependa. Todos nós erramos, e eu não a condeno. Que Deus possa cuidar dela. Nós estaremos aqui para fazer o que for possível.
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