CULTURA
Indies estreiam em Patos
6ª Edição do Festival Cinema com Farinha fica em cartaz em Patos até o próximo sábado; longa 'Dia de Preto' é um dos destaques da programação.
Publicado em 25/10/2012 às 6:00
Quem disse que não dá para fazer cinema no Brasil sem apelar para o dinheiro público? Dia de Preto (Brasil, 2011), destaque da programação desta quinta-feira da 6ª edição do festival Cinema com Farinha, em Patos (Sertão), prova que sim, é possível.
"Claro que o fato de nós três sermos servidores da Ancine foi determinante para que não pudéssemos contar com recursos públicos", esclarece Marcos Felipe, um dos três diretores do filme que estreia hoje, às 21h, na Praça Getúlio Vargas.
Tanto Felipe quanto os colegas Daniel Mattos e Marcial Renato trabalham na Agência Nacional de Cinema, todos eles em superintendências ligadas diretamente ao financiamento de produções audiovisuais.
"Isso na verdade mais atrapalhou que ajudou", garante o estreante, que conduz o projeto coletivo de Dia de Preto desde o ano de 2000, antes de seu ingresso na Ancine, quando chegou a pleitear editais de fomento, sendo aprovado em um e esbarrando na captação de recursos.
"Desde o princípio, este caminho não era uma opção. Tivemos que fazer uma espécie de poupança para rodar o longa", conta o profissional de 37 anos, que diz fazer um cinema influenciado pela tradição americana, ícone de sua infância nos anos 1980.
"Não vou dizer que o cinema americano influenciou 100% do filme, mas influenciou 99%. Temos (ele e os outros cineastas) mais ou menos a mesma idade e crescemos vendo este tipo de cinema. Na década de 1980, o cinema brasileiro era praticamente inexistente. Tinha a pornochanchada, numa fase decadente, então ver filme brasileiro nesta época era uma grande porcaria que só servia para sacanagem", dispara.
Entre as inspirações assumidas em Dia de Preto, Felipe cita De Volta para o Futuro (1985) e Curtindo a Vida Adoidado (1986): "Não tenho como renegá-los, se conseguisse fazer uma lista dos grandes filmes de que eu gosto, quase todos seriam americanos".
Não à toa, a ficção, que tem vasta carreira em festivais, foi premiado por sua trilha sonora e seus efeitos especiais, respectivamente, no Sunset Film Festival e no Maverick Movie Awards, ambos ocorridos este ano na casa do Tio Sam.
"É sintomático que, na terra dos efeitos especiais, eles resolvam dar um prêmio nesta categoria para um filme estrangeiro", exalta o diretor. "Acho que nos comunicamos melhor nos EUA que no Brasil. Não era nosso objetivo, mas não tinha como não refletir na tela esta nossa cultura".
Segundo Felipe, Dia de Preto vai além: mistura toda essa bagagem que ecoa também no faroeste espaguete ao som de Sérgio Leone com um tema bem brasileiro, o racismo e suas raízes na escravidão. A fábula moderna remete à lenda do primeiro escravo que ganhou liberdade no Brasil após a Lei Áurea. O título dialoga com a expressão 'Dia de branco', abolida no jargão do politicamente correto.
A previsão de estreia nacional é no dia 23 de novembro, em cinco praças, incluindo João Pessoa (única capital do Nordeste a fazer parte de um circuito montado sem o auxílio de distribuidoras independentes, fruto do contato direto entre os diretores e as cadeias de cinema).
O 6º Cinema com Farinha fica em cartaz em Patos até o próximo sábado. A agenda de hoje começa às 8h30, com uma mostra infantil nos auditórios da Fundação Ernani Sátyro (Funes) e do bloco de jornalismo das Faculdades Integradas Patos (FIP).
Às 16h, haverá coletiva com os realizadores participantes e, às 19h, haverá uma exibição de um cinejornal seguida das mostras competitivas de curtas-metragens.
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