ECONOMIA
Alternativa: cultura já adaptada ao Sertão eleva faturamento
Apesar da seca prolongada, maior produtor de cactos do Nordeste cresceu 30% neste ano.
Publicado em 06/12/2015 às 8:00
Se para a maioria dos produtores paraibanos o clima seco do Sertão e a escassez de chuvas são inimigos da plantação, há pelo menos 4 anos, para o empreendedor Alcides Filho Orson, 43 anos, esses fatores são verdadeiros aliados da sua plantação.
Nos três mil metros quadrados de terras cultivadas no Sítio Riacho de Pedra, município de Pombal, às margens da BR-230, não se vê nenhum tipo de alimento fincado no chão, mas o produto que lhe rende, mensalmente, um faturamento de até R$ 15 mil pode até estar na mesa das famílias, mas com a função única de ornamentar. São os chamados cactos, que são resistentes ao solo árido do Sertão e apropriado às altas temperaturas do semiárido nordestino. Diferentemente da maioria dos produtores da Paraíba, Alcides Orson investiu em uma espécie totalmente adaptada à região em que vive. Por isso, ele não sofre os prejuízos comuns aos agricultores do Sertão nem do seu município de Pombal, distante 380 quilômetros da capital paraibana.
VENDA DE PRODUÇÃO
Ao todo são 200 variedades de cactos nas estufas. O negócio, em plena forte estiagem prolongada do Sertão, tem tudo para prosperar. Segundo o empreendedor, um fornecedor da rede Carrefour se interessou em comprar a produção no próximo ano. “Quando vieram me procurar, a produção ainda estava pequena, então pedi um prazo até o final deste ano para expandir. A ideia é comercializar para a rede em Recife, João Pessoa e Natal. Estamos aumentando o número de mudas para que não haja falta de produto quando fecharmos o negócio”.
EXPANSÃO
Enquanto muitos agricultores sofrem com a perda da cultura tradicional por causa dos quatro anos seguidos de seca, Alcides Orson comemora o crescimento da produção. Diferente de outras culturas predominantes no semiárido paraibano como milho e feijão, que deverão amargar mais uma vez perdas com a seca, as vendas de produção de cactos já cresceram 30% este ano sobre o ano passado. Os produtos são vendidos para estados do Nordeste como Pernambuco (principal cliente), Rio Grande do Norte, Ceará, além da Paraíba. As espécies cultivadas no Sítio Riacho de Pedra já participaram, inclusive, de feiras como a 'ExpoCrato', no Ceará.
O conhecimento sobre o cultivo da planta, porém, foi adquirido bem longe do Nordeste. Ao trabalhar durante 12 anos em uma plantação de cactos na cidade de Imigrante, no Rio Grande do Sul, Alcides Orson se encantou pelos cactos e começou a colecionar em casa. “A partir daí surgiu a ideia da gente cultivar, porque a região é boa para produção, sempre quente. No Rio Grande do Sul eles têm praticamente 6 meses de calor estável e 6 meses de frio. Lá, no inverno, os cactos param de crescer”.
E como calor não falta em Pombal, as espécies se desenvolvem durante os 12 meses do ano. Mas a cultura ainda é administrada de forma artesanal. O produtor ainda não investiu, por exemplo, em um sistema mais moderno de irrigação. No sítio, as espécies recebem água através de mangueira de chuveiro. Dessa forma, há maior economia de água, produto escasso na região.
Experiência é case de sucesso
A iniciativa do produtor, em aproveitar as características da região semiárida para ampliar o seu agronegócio é bem-vista pelas entidades. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Paraíba (Faepa-PB), Mário Borba, destacou que ações como as de Alcides Orson podem ser a saída para o produtor rural do semiárido.
Contudo, Borba criticou a falta de iniciativas dos gestores públicos de incentivarem a plantação de culturas pouco adaptadas à estiagem do Nordeste.
“Se você está numa região de seca, tem que adaptar a cultura ao local. Mas entra ano e sai ano e o governo insiste em distribuir sementes de milho e feijão para os agricultores do semiárido. Essas culturas exigem muita água para se desenvolver, o que a região tem de menos”.
Segundo ele, no Cariri Ocidental e Oriental há outros exemplos de mudança de atitude de produtores rurais que lutam para manter a sobrevivência da renda. “Muita gente está trocando o gado bovino pela cabra, porque este animal é mais apropriado para o Sertão. Onde se cria uma vaca pode-se manter 10 cabras”, exemplificou.
SEBRAE
O gerente da unidade do Sebrae de Sousa, João Bosco da Silva, salientou que a história de Alcides Orson é um case de sucesso. “Ele é o principal produtor de cactos da Paraíba e se tornou um case de sucesso porque viu uma oportunidade de negócio que ninguém tinha explorado antes. Ele soube trabalhar um produto da própria região”.
Segundo João Bosco, o produtor de Pombal já fornece cactos para ornamentar os eventos do Sebrae, como o Inova Sertão, realizado no mês de outubro.
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