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CULTURA

Literatura de chuteiras

Futebol contagia o mercado editorial brasileiro, que segue até a Copa de 2014 publicando livros sobre o tema. 

Publicado em 04/12/2013 às 6:00 | Atualizado em 04/05/2023 às 13:17

“Nossa literatura ignora o futebol – e repito: nossos escritores não sabem cobrar um reles lateral”, dizia Nelson Rodrigues (1912-1980), autor de algumas de nossas melhores páginas sobre o tema.

Se os nossos escritores continuam grandessíssimos pernas de pau (em uma partida organizada na Feira do Livro de Frankfurt, em outubro, a seleção brasileira de escritores sofreu um debacle acachapante da seleção alemã: perdeu de 9 a 1, com gol de honra do biógrafo Celso de Campos Jr.), o futebol está ganhando lugar de destaque em nossa literatura.

Este fim de ano são vários os lançamentos sobre o esporte: das ficções O Drible (Cia. das Letras, 224 páginas, R$ 38,00), de Sérgio Rodrigues, e O Último Minuto (Cia. das Letras, 224 páginas, R$ 38,95), de Marcelo Backes, à edição comemorativa de Flamengo é Puro Amor (Record, 240 páginas, R$ 32,00), coletânea de 111 crônicas escolhidas de José Lins do Rego (1901-1957).

Até a Copa do Mundo de 2014, o mercado editorial brasileiro seguirá nesta ‘febre de bola’ (para citar o romance de Nick Hornby, reeditado há pouco pela Cia. das Letras), que contaminou autores como o paraibano Sérgio de Castro Pinto, cujo livro de poemas em torno do gramado já está pronto e sairá pela Escrituras às vésperas do Mundial.

“O título, por enquanto provisório, será A Flor do Gol, expressão extraída de um poema que eu fiz para o jogador Didi (1928-2001), um dos atletas da seleção brasileira homenageados no livro”, explica Sérgio de Castro Pinto, um flamenguista “saudável”, como o conterrâneo José Lins do Rego, que se inspirou em figuras como Jairzinho, Garrincha (1933-1983), Vavá (1934-2002), e Leônidas da Silva (1913-2004) para compor a obra.

“São poucos os poemas. Talvez eles não formem sequer uma equipe de futebol de salão”, brinca Sérgio, que pretende acrescentar, às estrofes futebolísticas, versos referentes a um outro mote mais recorrente em sua literatura: os animais.

Leitor de Edilberto Coutinho (1933-1995), Sérgio de Castro Pinto destaca a colaboração do escritor de Bananeiras (no Brejo, a 141 quilômetros de João Pessoa) para a literatura praticada no certame, agora tão em moda: “Edilberto era um que, contrariando Nelson Rodrigues, não tinha noção nenhuma de bola mas era um grande espectador, e ganhou o Prêmio Casa de Las Américas por Maracanã, Adeus: Onze Histórias Sobre o Futebol (1980)”, lembra o poeta.

Segundo Sérgio, Edilberto é autor ainda de outra coletânea que registra o laço afetivo de José Lins do Rego com o futebol (Zé Lins: Flamengo Até Morrer, de 1984) e está, ao lado de Drummond (1902-1987) e Melo Neto (1920-1999), entre os precursores da ‘literatura de chuteiras’: “Estes nomes transformaram a literatura em um jogo onde a palavra se transforma na bola e a página no gramado”.

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Jornal da Paraíba

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