VIDA URBANA
PB gasta R$ 0,68 por dia com pacientes do SUS
Tribunal de Contas diz que é preciso analisar números mais detalhadamente.
Publicado em 10/07/2014 às 6:00 | Atualizado em 05/02/2024 às 16:40
A Paraíba é o quarto estado do país que menos gastou com usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em 2013. A constatação integra uma pesquisa divulgada ontem pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e revela que cada paciente custou ao governo R$ 0,68 por dia. O valor é quase cinco vezes menor que a média nacional (R$ 3,05) e está longe de chegar à realidade de países que oferecem o mesmo modelo de acesso universal à saúde, como Inglaterra e Espanha. Os gastos da Paraíba resultam dos recursos enviados pelo governo federal e contrapartida do Estado e municípios.
Os dados levantados pelo CFM foram agrupados a partir das despesas apresentadas pelos gestores estaduais, municipais e federais à Secretaria do Tesouro Nacional (STN) na 'função saúde'. Conforme os dados do Conselho, o valor liquidado na Paraíba no ano passado foi de R$ 956.327.781,60, montante superior aos disponibilizados a estados como Roraima, Acre e Amapá, que gastam pelo menos três vezes mais com cada paciente atendido no SUS.
O valor de R$ 0,68 gasto com cada paciente que procura a rede pública no Estado corresponde a R$ 244,31 por ano, quantia quase três vezes menor do que os custos disponibilizados na rede pública municipal de João Pessoa em 2013. Segundo os dados, a capital gastou com cada usuário do SUS R$ 1,87 por dia e o equivalente a R$ 672,30 por ano.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), João Medeiros, o levantamento apresentado pela entidade federal reflete as carências na rede pública de saúde no Estado, como demora na marcação de consultas e exames, além da precariedade no atendimento.
“Mesmo não conhecendo a fundo, sabemos que esses dados são preocupantes e se refletem no atendimento que a população recebe, como demora nas consultas, superlotação. Ainda são poucos os recursos empregados na saúde e faltam mais investimentos”, criticou João Medeiros.
As consequências relatadas pelo representante do CRM refletem-se na realidade diária nos principais hospitais públicos do Estado, sejam federais, estaduais ou municipais. Moradora do município de Pirpirituba, no Agreste, a dona de casa Euclídia da Silva sabe o que é depender do SUS quando precisa de atendimento médico. “Quando a gente adoece é muito difícil ser atendido na minha cidade e dependendo do problema, nem no hospital de Guarabira resolve”, lamentou a dona de casa que na tarde de ontem trouxe a filha com problemas na gestação para receber atendimento na capital.
Embora ainda não tenha tomado conhecimento da pesquisa do CFM, o superintendente do Tribunal de Contas da União na Paraíba (TCU), Rainério Rodrigues, lembrou que é preciso analisar de que maneira esses gastos com o SUS estão sendo aplicados na Paraíba bem como a qualidade dos serviços. “É preciso avaliar e saber detalhadamente como foi gasto esse dinheiro. Nem sempre quem gastou mais aplicou melhor e o contrário também”.
O secretário de Saúde de João Pessoa, Adalberto Fulgêncio, disse que os dados da capital apresentados na pesquisa “não são ruins” e lembrou que a cidade recebeu um bom investimento no ano analisado. Contudo, ele adiantou que a situação da saúde pública no município necessita de mais recursos e protocolos para organizar os serviços. “Independente da esfera, nós sempre precisamos de mais recursos públicos.
Também reconheço que nós precisamos de mais gestão e protocolos que regulem a demanda. Tem que ter esse sistema regulatório, porque a procura é sempre maior do que os serviços oferecidos. Então, esses gastos precisam ser regulados através de protocolos acordados”, explicou.
A reportagem procurou, por email e telefone, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde e também o secretário da pasta, Waldson de Souza, para comentar os dados estaduais. Mas, até o fechamento desta edição, não obteve resposta.
LEITOS, TUBERCULOSE E DENGUE
A pesquisa do CFM também trouxe dados sobre a quantidade média de leitos no SUS disponibilizados para os pacientes na Paraíba e em João Pessoa. No Estado, a relação é de 1,76 leito para cada 800 habitantes. Já na capital, essa taxa é de 2,74.
Outros dados apresentados referem-se às taxas de incidência de tuberculose e dengue. No Estado, para cada grupo de 100 mil habitantes, 28,96% tinham tuberculose e na capital, 45,14%. Quanto à dengue, a taxa foi de 41,53% no Estado e 535,10% na capital.
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