ECONOMIA
Vendas têm menor alta da década
Vendas dos supermercados perderam força e a atividade de veículos teve o pior resultado desde 2003, reduzindo o crescimento.
Publicado em 14/02/2014 às 6:00 | Atualizado em 23/06/2023 às 12:24
As vendas do comércio varejista cresceram 4,3% em 2013, o pior resultado em 10 anos, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Inflação, crescimento menor da renda, aperto no crédito e juros mais altos contribuíram para o desempenho moderado.
As vendas dos supermercados perderam força e, a despeito da redução do IPI, a atividade de veículos teve o pior resultado desde 2003, reduzindo o crescimento do varejo ampliado para 3,6% no ano. O volume vendido no segmento de móveis e eletrodomésticos também perdeu vigor, apesar dos incentivos governamentais.
Em dezembro, as vendas recuaram 0,2% em relação a novembro, surpreendendo o mercado. No conceito ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, a queda foi de 1,5%. Analistas alertaram que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do 4º trimestre possa vir mais fraco do que o esperado. Seis entre as dez atividades pesquisadas tiveram retração em dezembro, o que sinaliza que a economia ficou estagnada no segundo semestre, avaliou o economista-chefe da Mauá Sekular Investimentos, Alessandro del Drago. "O cenário de recessão técnica não está descartado. O quadro da economia é recessivo".
Outro fator que atrapalhou o desempenho do varejo em 2013 foi o encarecimento do crédito. Dados do Banco Central mostram que a taxa de juros ao consumidor passou de 33,9% em dezembro de 2012 para 38,0% em dezembro de 2013, lembrou Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Entretanto, Bentes acredita que a principal justificativa para um varejo mais morno no ano passado foi mesmo o aumento de preços.
"A desvalorização de 15% na taxa de câmbio em 2013 atrapalhou bastante. O comércio no Brasil está cada vez mais dependente dos importados, e essa alta do dólar pegou o varejo um pouco de surpresa", avaliou. A CNC calcula que a inflação do varejo atingiu uma alta de 7,3% em 2013. Em 2012, quando o comércio varejista cresceu 8,4%, a inflação do setor foi bem menos intensa, aumentou 4,3%. "Com uma inflação tão alta, as vendas costumam murchar, como murcharam", declarou Bentes.
A atividade de móveis e eletrodomésticos está entre as prejudicadas pelos aumentos de preços. O segmento cresceu 5,0% no ano passado, contra uma a alta de dois dígitos em 2012 (12,2%). "Em 2013, a parte de móveis teve queda de 1,6% nas vendas. Esse decréscimo a gente explica por preços. O preço de artigos de mobiliário aumentou 9,2% (no ano)", apontou Aleciana Gusmão, técnica da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.
Na avaliação dos lojistas, o menor crescimento das vendas indica que o comércio brasileiro entrou num ciclo de crescimento mais moderado. A projeção das entidades é que para 2014, as vendas a prazo avancem entre 4% e 4,5%, já descontada a inflação do período. O resultado é próximo ao registrado em 2013: 4,12%, segundo o SPC Brasil e 4,3%, para o IBGE.
“O comércio varejista continua crescendo, mas a um ritmo cada vez mais lento. Saímos do ‘patamar chinês’ de expansão para um nível mais moderado. Nos últimos anos, o consumo interno foi o grande motor de impulsão da economia brasileira, mas o modelo já dá sinais de esgotamento”, afirma Pellizzaro Junior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
INFLAÇÃO E JUROS ATRAPALHARAM
De acordo com Pellizzaro Junior, no ano de 2013, o varejo não contou com os mesmos fatores macroeconômicos que ajudaram a aquecer o setor nos anos anteriores, como os altos índices de geração de emprego, expansão da renda real e a larga oferta de crédito mais barato. O aperto inflacionário e a escalada dos juros básico da economia também afetaram a confiança do consumidor.
“O efeito da inflação sobre a renda dos trabalhadores foi corrosivo ao longo de 2013 e reduziu o poder aquisitivo.
Some-se a isso, o fim gradual de isenções e reduções tributárias, como o do IPI para eletrodomésticos, automóveis e móveis, que contribuiu para o menor crescimento das vendas do varejo”, explica Pelizzaro Junior.
Na avaliação de Pellizzaro Junior, com as vendas no comércio crescendo menos, o governo brasileiro terá de mostrar mais capacidade de gestão do que vem apresentando hoje.
“Para conduzir o Brasil a um crescimento competitivo, saudável e duradouro no médio e longo prazo, a primeiro passo é rever a atual política fiscal, que precisa ser mais rígida nos cortes dos gastos de custeio, inclusive com novas regras de eficiência e produtividade para o setor público. Desse modo, os juros ao consumidor poderão diminuir e o empresariado ser desonerado”, defende Pellizzaro Junior.
A valorização do dólar em relação ao real também encareceu os microcomputadores, desacelerando as vendas da atividade de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação em 2013. Após anos de deflação, os microcomputadores fecharam o ano 6,3% mais caros.
A despeito da redução do IPI para automóveis, a atividade de veículos teve alta de apenas 1,4% nas vendas, contra um aumento de 7,3% em 2012.
"Como os veículos são bens duráveis, a capacidade de substituição desses bens é um pouco limitada. Ninguém troca de veículo todo ano", justificou Aleciana. "Apesar das políticas de incentivo do governo, elas não têm tido o mesmo impacto que em anos anteriores", acrescentou.
No entanto, o crescimento da frota de automóveis no País nos últimos anos impulsionou o setor de combustíveis e lubrificantes em 2013. Mas o destaque do ano foi o segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico, beneficiado por um salto nas vendas pela internet das lojas de departamento, diz o IBGE.
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