Medo do zika faz mulheres adiarem o sonho de engravidarem

Mudança de planos é observada tanto nos consultórios de obstetras quanto em clínicas de reprodução assistida. Na Paraíba 56  casos já foram confirmados

Diante de um cenário de incertezas e informações desencontradas acerca da relação entre as possíveis consequências do zika vírus (sendo uma delas a microcefalia em bebês), muitas mulheres têm adiado o sonho da maternidade na Paraíba. A mudança de planos é observada tanto nos consultórios de obstetras quanto em clínicas de reprodução assistida. A Paraíba é o segundo Estado do país com o maior número de casos, sendo 56 confirmados e outros 423 em investigação, conforme dados do Ministério da Saúde (MS). O primeiro é Pernambuco. 

Uma dessas mulheres é a estudante Deyse Luna Freire, de 27 anos, moradora de Campina Grande. Ela planejava a gravidez do primeiro filho para este ano, mas resolveu adiar os planos. A princípio, quando os primeiros casos de microcefalia começaram a surgir, a ideia da gravidez ainda resistia, mas foi perdendo força à medida que as notícias alertavam a população para o risco das complicações causadas pelo zika vírus.  “Como não tinha nada definido, apenas informações desencontradas, e eu queria muito ser mãe, não queria adiar meus planos. Ainda não se falava em surto”, explicou. 
 
Deyse chegou a conversar com o marido, Leonel Freire, que tomaria todos os cuidados necessários, como usar repelente “o dia todo, todos os dias”. Mas o marido, cauteloso, também estava preocupado com as notícias que falavam do aumento de casos de microcefalia em bebês associados ao zika vírus no Brasil, sobretudo nos estados do Nordeste, dentre os  quais se destacam Pernambuco e Paraíba. “Diariamente ele (Leonel) via as matérias e percebeu o aumento dos casos. Em um mês, já não se falava só em microcefalia, mas em várias outras doenças”, relatou. 
 
Depois disso, as conversas entre o casal já não eram mais sobre possíveis nomes para o bebê, cores do quarto, enxoval. O assunto agora se resumia ao zika vírus. “Além de um cuidado que eu já deveria ter na gravidez por ter tromboflebite (ormação de coágulo nas veias) ainda teria um cuidado maior com a zika. Sabemos que não estamos imunes. Podemos cuidar da nossa casa, mas o dia a dia na rua nos põe em risco”, frisou. Segundo o Ministério da Saúde, o zika é uma doença nova no Brasil e surgiu pela primeira vez em maio de 2015. 
 
Em meio a esses acontecimentos, o casal refletiu junto e tomou a decisão de adiar o sonho de ter um filho. “A gente conversou e percebeu que seria um risco muito grande nesse momento porque não temos a menor clareza do que está acontecendo. Decidimos adiar até ter algo sólido e as pesquisas avançarem. Não quero que a primeira decisão para me tornar mãe coloque meu filho em risco. Ter um bebê agora me deixaria muito feliz, mas viver com medo do que pode acontecer, acredito que seria uma gravidez preocupante para nós”, afirmou.