Eles continuam com pique para o trabalho mesmo depois dos 60

No Dia do Idoso, o JORNAL DA PARAÍBA apresenta histórias de pessoas que, apesar de estarem na terceira idade, encontram motivação para permanecerem ativas.

Trânsito, barulho, poluição e correria. A rotina estafante das grandes cidades costuma ser estressante até para aqueles que conseguem manter a calma diante de situações extremas. Apesar disso, tem gente que, mesmo com a oportunidade de viver dias mais tranquilos com a aposentadoria, não pensa em deixar de trabalhar. É o caso de Terezinha Rodrigues Silva, de 63 anos, que é funcionária de um supermercado de João Pessoa.

Segundo a idosa, que está na empresa há mais de uma década e atua como empacotadora, não existe a possibilidade de parar, ainda que esteja prestes a se aposentar. “Se quiserem, eu continuo. E se não for aqui, vai ser em outro lugar”, afirma, com a convicção de quem carrega ao mesmo tempo a experiência da maturidade e o vigor característico da juventude. “O trabalho não mata ninguém, pelo contrário, dá mais alegria para a gente, principalmente para alguém como eu, que está acostumada a sempre fazer alguma coisa".

E Terezinha comprova o que diz com uma lista de atividades. Antes de ser empacotadora, por exemplo, a idosa foi professora e trabalhou no comércio, vendendo joias e roupas. Já no supermercado onde bate ponto atualmente ela se diz “polivalente”. “Aqui a gente faz de tudo um pouquinho. Eu já fui da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), fui office girl – uma office girl da melhor idade, diga-se de passagem –, fui da parte de demonstração de produtos, fui um monte de coisas e vou continuar fazendo tudo o que me mandarem”, comenta.

Eles continuam com pique para o trabalho mesmo depois dos 60

Terezinha atende os clientes do supermercado onde trabalha sempre com um sorriso no rosto. (Foto: Phillipe Xavier)

Subir e descer escadas, pegar produtos, correr atrás do gerente: o dia a dia de Terezinha no supermercado não é moleza. E tanta disposição não passa despercebida nem pelos chefes nem pelos clientes. Ela faz questão de frisar que é uma das funcionárias mais queridas. “Eu gosto de trabalhar com o público porque ele transmite coisa boa. Quando os clientes gostam, eles olham nos nossos olhos e dizem isso”, menciona, acrescentando, em tom de desdém, o que costuma fazer quando se depara com gente mal humorada. “Ah, gente complicada a gente tem que relevar para poder viver, né?”

Números além da idade
O economista Mauro Nunes, de 73 anos, é outro que não pretende largar a profissão nem tão cedo. A despeito de ter construído uma trajetória bem sucedida prestando consultoria para diversas empresas e órgãos, como o Sebrae, ele ressalta que sente como se ainda estivesse no início da carreira. “Como vou viver 106 anos, tenho muito tempo ainda pela frente. Quero deixar experiências, preparar mais pessoas, é assim que quero continuar”, diz aos risos.

Aliás, Mauro afirma que considera o trabalho uma diversão. Segundo ele, o que não o deixa satisfeito é ficar parado, sem ter nada para fazer. “Se eu não estiver produzindo alguma coisa, criando algo e tendo ideias, já fico preocupado. Preciso estar em constante atividade, seja pensando em metodologias, conceitos e novos projetos, seja escrevendo artigos para publicação”, destaca.

E os artigos do economista são publicados periodicamente em sites e redes sociais, ferramentas da internet que ele tem forte domínio. “Nunca tive resistência às tecnologias, acho que elas são aliadas que vieram para facilitar e dar mais agilidade ao trabalho”, explica Mauro, que declara também não ter medo de desafios. “Obstáculo é para ser vencido. Ninguém nasce para ser derrotado. Nós nascemos para vencer e vamos vencer. Por isso eu trabalho, para ser vencedor”.

Eles continuam com pique para o trabalho mesmo depois dos 60

Mauro Nunes se mantém ativo mesmo com 73 anos e diz que ainda tem muito trabalho pela frente. (Foto: Francisco França)

Especialista aponta benefícios
Para a geriatra Elsie Onofre, o trabalho depois dos 60 anos é benéfico, desde que o idoso queira e tenha condições físicas para responder às demandas que o serviço exige. “É excelente, porque faz com que ele se mantenha intelectualmente ativo, algo que para a memória, por exemplo, é maravilhoso, além de influenciar na autoestima e no bem-estar como um todo”, cita, apontando, ainda, os efeitos negativos da falta de ocupação para alguns.

“Tem paciente meu que quando se aposenta mostra nitidamente o declínio que o ócio traz, como a falta de ânimo, a depressão. Por isso, acho que se a pessoa não puder trabalhar, precisa buscar alguma outra alternativa, como exercícios físicos ou algum hobby, principalmente intelectual”, continua.

E para ilustrar as novas dinâmicas positivas relacionadas à terceira idade, a especialista chama a atenção para um fenômeno curioso: o de idosos com mais de 80 anos que cada vez mais buscam a independência. “Vejo isso com frequência em meu consultório. Eles resolvem os próprios problemas, vão ao supermercado, ao banco, continuam ativos. É algo que tem se tornado bastante comum”.