Comunidade
5 de agosto de 2022
06:15

João Pessoa em bairros: Varadouro narra origem e formação da cidade

Bairro do Varadouro é um dos mais importantes da cidade, sendo o principal bairro de João Pessoa, onde a cidade se origina e se expande.

Matéria por Dani Fechine

A cidade de João Pessoa comemora 437 anos em 2022, com uma evolução característica da capital. Falar sobre a cidade é também relembrar a importância que muitos bairros tiveram e ainda têm em sua construção. O Varadouro, por exemplo, é um dos mais importantes da cidade, sendo o principal bairro de João Pessoa, onde a cidade se origina e se expande. “O Varadouro tem essa importância justamente por isso, porque é o berço da nossa cidade, a cidade se origina nessa localidade”, destaca a professora de história Camila Araújo. 

Sendo o bairro mais antigo de João Pessoa, o Varadouro assistiu, no dia 5 de agosto de 1585, à celebração do pacto de paz entre portugueses e indígenas, representado por João Tavares, e o índio Piragibe, cacique dos Tabajara, às margens do Rio Paraíba.

A partir desse momento, inicia-se a construção da cidade, de uma área urbana. Camila Araújo conta que, até meados de 1930, a cidade de João Pessoa era muito caracterizada pela divisão entre cidade alta e cidade baixa.

“No bairro do Varadouro, principalmente no momento colonial e imperial, a gente tem a formação da cidade. A diferença da cidade alta e da cidade baixa vai definir quais são as áreas. As ordens das igrejas vão se instalar na cidade alta, que fica no bairro do Varadouro, se transformando no local da aristocracia, onde as igrejas estão presentes, como a Ordem de São Francisco, Ordem dos Carmelitas. É onde ficam os prédios de organização do estado. E na cidade baixa tem esses fluxos dos trabalhadores e indígenas que viviam nessa região. Nessa parte da cidade baixa acontece a vida urbana, é onde o comércio se desenvolve”, explica a professora.

Por se tratar de uma área onde há constante circulação de pessoas, vai ser na cidade baixa onde vai ocorrer a formação de moradias, no entanto, muitas não resistiram ao tempo.  

A área do Varadouro era povoada por indígenas antes da colonização portuguesa e holandesa. A professora de história ressalta que o local é, principalmente, uma área de trabalhadores. Quando a cidade vai se desenvolvendo no período colonial, é possível observar uma maior movimentação. Era a área viva da cidade, com comércio, fluxo de pessoas e porta de entrada do Estado da Paraíba. 

Hoje, o bairro do Varadouro ainda segue com sua importância para a cidade, mas não essencialmente uma importância comercial. “O Varadouro tem uma importância histórica, como uma área de tombamento muito importante, são mais de 100 prédios tombados pelo Iphan e Iphaep”, revela Camila Araújo.

 Porto do Capim. Foto: Krystine Carneiro/G1 

Porto do Capim: cidade que nasce e que fica

Falar do Varadouro é trazer à tona também a história do Porto do Capim. É onde nasce a cidade. Os primeiros moradores eram, em sua maioria, pescadores e trabalhadores que faziam funcionar a cidade.

“O Porto do Capim é uma comunidade tradicional e ribeirinha, o berço de João Pessoa, onde tudo começou, então o Porto do Capim está relacionado em todo processo histórico da cidade com o Varadouro”, afirma Joyce Lima, representante da Associação de Mulheres do Porto do Capim e do Coletivo Garças do Sanhauá.

De acordo com a professora de história Camila Araújo, a comunidade apresenta uma série de características, costumes e modos de viver próprios. “Esse estilo de vida é um pouco diferente do que vem acontecendo no resto do espaço urbano, mas a gente tem no Porto do Capim uma valorização histórica e cultural do que é aquela região e do que aquele espaço representa”, complementa. 

Os moradores do Porto do Capim apresentam forte ligação com o Rio Sanhauá, afluente do Rio Paraíba e onde acontece a fundação da cidade de João Pessoa. Por terem mantido os costumes, a comunidade do Porto do Capim é característica daquele local. “Eles têm costumes que pessoas que moram na Zona Sul ou Zona Norte não possuem. São pessoas que têm uma ligação muito forte com o rio, utilizando da pesca para consumo próprio e fonte de renda”, explica Camila Araújo. Hoje a população do Porto do Capim é a porta voz do que é o nascedouro da cidade. 

 Moradores do Porto do Capim criam movimento em defesa da comunidade, em João Pessoa. Foto: Dani Fechine/Jornal da Paraíba 
O Porto do Capim tem uma representatividade forte, pois a cultura é viva. A história de João Pessoa é o Porto do Capim”.
Joyce Lima - Associação de Mulheres do Porto do Capim e Coletivo Garças do Sanhauá

O próprio Ministério Público reconhece o Porto do Capim como população tradicional e ribeirinha. Essa denominação os diferencia do restante da cidade, caracterizando o elo com o território e afirmando que os costumes são tradicionais. “Por isso devem e vão ficar naquela localidade”, enfatiza Camila Araújo.

A professora explica que os costumes tradicionais do Porto do Capim não são unicamente relacionados ao estilo de vida com o rio, mas também por se tratar de uma comunidade periférica, central, urbana e, ao mesmo tempo, com características rurais. 

Com população majoritariamente pessoense, o Porto do Capim se formou enquanto comunidade tradicional e ribeirinha na década de 1930 com a saída do Porto para Cabedelo, apresentando uma mudança comercial muito forte na cidade de João Pessoa. É uma região que mantém a tradição familiar mesmo com a saída do Porto. Hoje a comunidade é tradicional ribeirinha porque essas primeiras famílias continuaram e constituem o espaço urbano. Hoje há mais de 500 famílias residindo no local.