Sobram empregos em Ciências da Computação e ‘cabeças’ são exportados

Polo tecnológico de CG é referência na formação.

Karoline Zilah

A Paraíba tem o privilégio de ter um curso de Ensino Superior que disputa o título de melhor do Brasil. Criada em 1976, a graduação em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) alcançou o status de melhor das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com nota máxima, equiparando-se a outros cinco do país, segundo o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), do Ministério da Educação, tendo recebido nota máxima nos três quesitos avaliados. Isto em um cenário onde há mais de 800 cursos reconhecidos pelo MEC neste segmento.

Mesmo tendo a chave para o sucesso nas mãos, as universidades ainda não formam uma quantidade suficiente de profissionais para atuarem na área. A realidade constatada pelo coordenador do curso na UFCG, Dalton Serey, e confirmada pelos levantamentos do Sine Estadual e da Catho Online, é de que a oferta de estágio e empregos é maior do que a disponibilidade de trabalhadores.

Para o professor, que acompanha o desempenho dos alunos durante a formação acadêmica e depois que eles concluem o curso, é muito comum que as empresas ofereçam o emprego antes do aluno ser diplomado. Mais garantido ainda, segundo ele, é que o egresso seja contratado. “Da metade para o término do curso, o aluno já está empregado, tanto presencialmente, em uma empresa de sua cidade, quanto à distância, para trabalhar em casa, remotamente”, explica.

O que justifica a grande procura por especialistas nesta área está, na verdade, ao nosso redor. Basta olhar para o seu ambiente de trabalho e seus objetos pessoais para perceber quantos aparelhos eletrônicos cercam o homem do século XXI. “Nos últimos dez anos, a notoriedade do curso tem aumentado bastante pela demanda crescente nos profissionais em Computação. Isso porque tem aumentado a dependência da população em tecnologia. Antes, ela ficava confinada em setores de processamento de dados, hoje invadiu a mesa de todo mundo. Sem ela, não se consegue trabalhar. A internet obrigou tudo a estar online”, comenta Dalton Serey.

Há vagas x faltam profissionais

Embora Campina Grande se configure como um polo tecnológico do ponto de vista de pesquisa e formação acadêmica, a realidade é que a demanda não está sendo totalmente preenchida, porque as faculdades ainda não formam um número suficiente de profissionais para atuar na área. É o que avalia Renan Rodrigo dos Santos, gerente da S.Toledo Produções Multimídia, empresa sediada há 13 anos em Campina, tendo como carro-chefe o desenvolvimento de sistemas para web, como portais, blogs e lojas virtuais, além de CDs interativos, entre outros.

Atualmente, a empresa tem quatro oportunidades de trabalho abertas, mas não consegue preenchê-las facilmente. “Sentimos bastante dificuldade porque, apesar de Campina Grande ter muita gente inserida em seu polo tecnológico, não encontramos especialistas em programação PHP. Eles dedicam-se mais à linguagem de programação Java”, diz. “Quando encontramos um profissional no perfil, fazemos de tudo para segurá-lo na empresa, pois já sabemos do déficit no mercado”, complementa.

E no caso desta empresa que trabalha com desenvolvimento de sites, o período eleitoral promete ampliar as oportunidades. Segundo Renan dos Santos, nesta época a demanda de trabalho aumenta de 20 a 30%, mas é somente em cima da hora, daquele ‘jeitinho brasileiro’, que os políticos contratam o serviço, exigindo agilidade dos programadores. “Temos um acréscimo no número de projetos, mas pouca mão de obra para desenvolvê-los”, comenta.

O ‘déficit’ ao qual Renan se refere é uma das preocupações no curso de Ciências da Computações. Segundo o coordenador, Dalton Serey, o número de vagas no vestibular está aumentando. A estimativa é de que a UFCG admita 180 alunos por ano e forme 50 profissionais no mesmo período. Além dela, outras instituições oferecem cursos de níveis técnico e superior, a exemplo da UFPB, IFPB, Asper, UEPB, Unipê e Facisa.

Exportação de talentos

O alto padrão dos profissionais formados na Paraíba faz com que as empresas os assediem ainda na universidade, ou assim que eles se formam. “Este é um dos problemas que a gente quer ajudar a resolver. A Paraíba não absorve todos os profissionais que forma. Na minha leitura pessoal, há uma fuga de ‘cabeças’. Temos egressos no Brasil inteiro, e em vários países do mundo”, explica o coordenador Dalton Serey.

Ele monitora o destino dos alunos saídos da UFCG e está desenvolvendo um mapa. Pelo que conseguiu apurar até agora, a instituição exportou ‘mentes brilhantes’ para os Estados Unidos, Canadá, França, Inglaterra, Alemanha, Suíça, Austrália, Chile, Espanha e Portugal, entre outros. No Brasil, eles são mais assediados por empresas de Recife, Brasília e São Paulo. São instituições de grande porte como HP, Google, Microsoft, Petrobras, Chesf e bancos que procuram diretamente a coordenação do curso à caça de talentos.

Renda

Segundo dados da Catho Online, a renda para um profissional recém-formado em curso superior na área de Computação na Paraíba fica entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil. Em fase de carreira consolidada, o salário atinge de R$ 5 mil a R$ 6 mil. Estes dados têm como base os valores oferecidos pelas empresas na hora de cadastrar uma vaga na agência de emprego. Porém, a remuneração não é tão atraente quanto no exterior.

No caso de um aluno saído da UFCG, o topo da carreira chegou cedo. “Outro dia me ligou um ex-aluno para comemorar que chegou aos cinco dígitos com quatro anos de formado, ganhando mais de R$ 10 mil”, brincou o coordenador Dalton.

Apesar das altas cifras proporcionadas pela formação acadêmica, muitos trabalhadores da área desenvolvem suas habilidades na prática, iniciando por curiosidade ou afinidade, e investem em cursos técnicos. São jovens que já nasceram em uma era em que os computadores são parte natural de suas rotinas. Para as empresas, muitas vezes o diploma é dispensável.

O gerente da empresa S.Toledo exemplifica dizendo que metade de seus funcionários não tem qualificação acadêmica na área, mas sim na prática com cursos de webdesign, programação em PHP, programação em flash.

“Infelizmente, na teoria deveria existir uma exigência maior, mas devido à falta de mão de obra nesta área, a gente fica limitado e aceita o candidato à vaga sem comprovação acadêmica. Mas isto não significa que seja uma pessoa incapacitada. Pelo contrário. A partir do momento em que a empresa solicita um candidato, avalia o grau de conhecimento dele com testes práticos. Não adianta chegar com um diploma de doutorado se ele não consegue comprovar prática”, detalha Renan dos Santos.