COTIDIANO
As Muriçocas erraram feio quando se misturaram com políticos
Publicado em 06/02/2018 às 7:14 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:43
2018.
Ano de eleição.
Lá vão os políticos para o meio do carnaval.
Pode ser legítimo, mas como é feio!
Dá voto?
Tira voto?
Toco nesse assunto por causa das Muriçocas do Miramar.
Afinal, amanha é quarta-feira de fogo.
Para mim, as Muriçocas perderam parte da graça que tinham quando se misturaram com partidos e políticos.
Vamos à história:
Fevereiro de 1987.
Na quarta-feira que antecedia o carnaval, fui abordado, nos corredores da TV Cabo Branco, pelo repórter Saulo Moreno. Ele sugeria a cobertura de um bloco novo que ia descer a Epitácio Pessoa numas carroças.
Mandei cobrir. Pouca gente. Nada indicava ainda que, ali, estava nascendo um fenômeno absolutamente espontâneo e muitíssimo importante para a vida da cidade de João Pessoa.
Desde então, como cidadão e jornalista, acompanho com grande interesse e muito respeito a trajetória do bloco e o papel que desempenhou na consolidação da prévia carnavalesca Folia de Rua.
Não é preciso recorrer a teses sociológicas para compreender o significado de manifestações como essa que nasceu no bairro do Miramar e conquistou uma cidade.
Conquistou como expressão verdadeira e genuína de um povo, com sua alegria fugaz, com a beleza de sua música.
Chegaram as eleições municipais de 2004. O bloco decidiu apoiar uma candidatura a prefeito. E desceu a avenida numa espécie de quarta-feira de fogo fora de época.
A convicção de que Ricardo Coutinho era o melhor candidato (como, de fato, comprovaria em sua muito bem-sucedida gestão) não me impedia de enxergar o equívoco.
O bloco não pertencia aos 60 (ou pouco mais) por cento de eleitores que votaram nele.
O bloco não pertencia nem aos seus fundadores.
O bloco pertencia ao povo de João Pessoa.
Não podia e não pode, portanto, permitir que, a cada campanha, seja qual for o candidato, se produza uma quarta-feira de fogo fora de época.
Partidos e políticos representam pedaços. Mesmo que grandes pedaços.
As Muriçocas do Miramar conquistaram o direito de representar o todo.
O todo é o povo de João Pessoa, que canta com orgulho o hino do bloco e se vê nos versos escritos por Fuba.
Esse vínculo da população com as Muriçocas é um patrimônio que não pode ser maculado por campanhas políticas.
Precisa ser preservado!
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