VIDA URBANA
38 crianças esperam adoção
Apesar de possuir 250 pessoas interessadas em adotar, 38 crianças e adolescentes permanecem em abrigos esperando por uma família.
Publicado em 05/01/2013 às 6:00
Apesar de possuir a quarta maior quantidade de pretendentes em fazer uma adoção, do Nordeste, a Paraíba não conseguiu, no ano passado, encontrar famílias para 38 crianças e adolescentes que estão aptos a serem adotados. Por causa disso, eles permaneceram em abrigos, enquanto que 250 pessoas estavam inscritas no cadastro de interessados em fazer adoção no Estado. Preferência por cor, idade e sexo é a principal causa dessa realidade.
Os dados são do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), um serviço criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para facilitar a adoção no Brasil.
Até dezembro do ano passado, o sistema possuía 28.780 pessoas inscritas em adotar uma criança ou adolescente. Deste total, 10.866 declararam que não têm preferência pela etnia do adotado, ou seja, aceitam fazer a adoção independentemente da cor da criança. A quantidade das pessoas que não fazem restrição por causa da cor soma 37,76% dos cadastrados no sistema.
Para a pesquisadora e secretária executiva de Estado da Mulher e da Diversidade Humana, Gilberta Soares, o indicativo é considerado positivo, mas ainda é uma mudança tímida diante da consciência social e cultural que precisa ocorrer no Brasil.
Ela lembra que, até algum tempo atrás, a maior preferência das pessoas era por crianças brancas, de olhos e cabelos claros.
Por conta disso, as crianças negras eram deixadas de lado. “Isso era consequência de uma cultura racista e discriminatória que ainda está enraizada em nossa sociedade: de que o branco e loiro é superior em relação às demais raças”, observa.
Por outro lado, a pesquisadora acrescenta que a adoção feita entre pessoas de raças diferentes ainda precisa ser melhor estudada. Com 25 anos de militância de luta contra a desigualdade racial, ela explica que o Brasil sofre de um fenômeno chamado de “embranquecimento cultural do negro”.
“É preciso realizar estudos e acompanhar, por exemplo, a educação que casais brancos estão dando a crianças negras.
Temos que avaliar se essa criança está sendo ensinada a se reconhecer como uma pessoa negra ou se ele é ensinada a se reconhecer como um branco, negando sua cultura e suas origens. Com isso, tenta-se esconder a disparidade existente entre as duas raças. O negro ainda é menos escolarizado, menos empregado e tem menos acesso a políticas públicas.
Ainda temos muito trabalho pela frente para mudarmos essa realidade”, observa.
Apesar das sutis mudanças apontadas pela secretária, o juiz da Infância e Juventude de João Pessoa, Fabiano Moura de Moura, destaca que a preferência por cor, idade e sexo ainda é o principal adversário das adoções. Ele explica que o aumento no número de pessoas interessadas em adotar na Paraíba, se deve ao trabalho que vem sendo feito pela Justiça.
“Estamos incentivando as pessoas a se inscreverem. Mas ainda é grande a preferência por recém-nascidos, do sexo feminino e da cor branca. Quando aparece uma criança com esse perfil, surgem diversos casais interessados em adotá-la. Enquanto que outras, por terem cor ou idade diferente, permanecem durante anos em abrigos”, declara.
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