VIDA URBANA
46,6% dos alunos de JP não vão ao médico
Estudo realizado pelo IBGE mostra que dos quase 3.000 estudantes ouvidos, apenas 53,4% passaram por procedimentos com profissionais de saúde.
Publicado em 26/07/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 14:36
“Ela já é uma mocinha. Ela precisa de um ginecologista para ter uma maior orientação sobre sexualidade, por exemplo, para quando for iniciar sua vida sexual esteja consciente das consequências e informada sobre tudo, mas, infelizmente, não a levo ao médico com frequência”, declarou Joselma Oliveira, ao se referir à filha de 14 anos. A filha de Joselma faz parte dos 46,6% dos alunos do 9º ano, em João Pessoa, que não procuraram qualquer serviço ou profissional de saúde no ano passado, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2012 (Pense – 2012), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o estudo, dos quase 3.000 estudantes ouvidos, 53,4% passaram por procedimentos com profissionais de saúde.
Desses, 55,7% meninas e 50,9% meninos. Outra constatação apontada na pesquisa é que os estudantes da rede privada têm mais contato com o serviço de saúde: 59,5% daqueles que realizaram qualquer procedimento médico pertencem às escolas particulares, enquanto 50,6% são de instituições públicas.
Uma estudante de 14 anos disse que na última semana passou por uma consulta médica, mas confessou que este não é um hábito. “Fui na clínica porque apareceu uma mancha estranha no meu olho. Eu quase não vou ao médico, só costumo ir quando estou com algum problema”, relatou.
“Não lembro a última vez que fui ao médico. Tenho a saúde boa, por isso mal busco consultórios”, completou um estudante de 15 anos.
As condições financeiras de uma família acabam influenciando na frequência com que esses adolescentes buscam o serviço de saúde, como considerou a comerciante Joselma Oliveira, 32 anos, que tem uma filha de 14 anos. “Nós que não temos condições de pagar um plano de saúde, ficamos, exclusivamente, dependente do Sistema Único de Saúde (SUS) e por todos os problemas e dificuldades do sistema público, que já é conhecido, a busca pelo serviço só acontece em último caso, ou seja, quando aparece algum problema de saúde”, ponderou.
Joselma Oliveira acrescentou ainda que gostaria de levar a filha adolescente ao médico com maior frequência, já que ela está em fase transitória, da infância para a adolescência, mas que devido à demora na marcação de consultas e realização de exames, acaba desistindo de procurar o serviço.
Já a atendente Inayana Alves é mãe de um menino de 11 e disse que a saúde e o bem-estar do filho está em primeiro lugar na vida dela. “Independente de qualquer coisa, desde que meu filho nasceu, que procuro levá-lo sempre ao médico, seja por algum problema de saúde, como uma virose ou um simples resfriado, ou como prevenção, só para acompanhamento de rotina mesmo. No máximo a cada três meses o levo ao médico”, declarou.
Para a técnica da área de Saúde da Criança e Adolescente, da Diretoria de Atenção à Saúde da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), Jane Morais, os dados preocupam, mas não surpreendem. “Nos primeiros anos de vida dos filhos, os pais costumam levá-los às consultas com mais frequência, por ser uma faixa etária prioritária. Quando eles vão crescendo esse hábito desaparece. Isso é uma preocupação nacional, mas infelizmente é algo culturalmente estabelecido”, disse.
Incentivo. Segundo a especialista, existem políticas de incentivo ao acompanhamento médico de crianças e adolescentes, mas ainda assim o retorno é insuficiente. “As consultas deveriam ser contínuas, por isso o Ministério da Saúde estimula o Programa Saúde na Escola, para que as crianças, adolescentes e seus pais sejam incentivados ao acompanhamento da saúde, mas ainda vemos muita dificuldade em aproximar os pais da escola, por isso muito jovem não faz consulta médica preventiva, deixam para ir ao hospital quando já estão doentes”, apontou Jane Morais.
Em João Pessoa, 150 escolas aderiram ao Programa Saúde na Escola, como fomento ao acompanhamento médico de crianças e adolescentes. “A ideia é trazer as unidades de saúde até as escolas. Os alunos fazem exames de rotina, verificam como está a saúde e também têm outras formas de auxílio, como explicações sobre sexualidade”, contou a técnica da área de Saúde da Criança e Adolescente.
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