VIDA URBANA
Decisões não são cumpridas
Recuperação da área da Mata do Buraquinho degradada ainda não foi feita, contrariando ordem de Justiça.
Publicado em 16/03/2014 às 8:00 | Atualizado em 18/07/2023 às 14:32
No mesmo posicionamento favorável ao Ministério Público Federal (MPF) em 2009, a Justiça Federal pediu ainda que a área degrada em decorrência das ocupações irregulares fosse recuperada pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Conforme o decisão judicial, cabe a estes órgãos reflorestar a área e ainda ao Ibama a responsabilidade de reconstruir a cerca que limita a área de preservação. No entanto, não é o que se vê no local onde existiu a comunidade Paulo Afonso.
O muro que delimita a área da Mata do Buraquinho, na faixa que é de responsabilidade do Ibama, foi reconstruído. Mas há buracos na estrutura e falta de manutenção durante todo o percurso, o que facilita a ação de vândalos, que despejam lixo e derrubam árvores da reserva. Na parte da comunidade São Geraldo, os moradores informam que a coleta de lixo é realizada regularmente. Eles alegam que a sujeira encontrada dentro da mata e próximo às residências é de responsabilidade de pessoas que não são moradoras da comunidade.
O aposentado Antônio Laurentino, que mora na São Geraldo há 16 anos, revela que o lixo que se acumula na mata é trazido de fora e por pessoas de outros bairros. Restos de móveis, resíduos domésticos ainda embalados, além de animais mortos são deixados constantemente na área verde. “Muita gente coloca o lixo na mata e são pessoas de fora, de outros bairros.
Pessoas chegam de outros locais, a qualquer hora do dia, e jogam o lixo aqui. A gente limpa, o carro passa, mas no outro dia fica a mesma coisa”, reclamou.
Em parte do terreno onde existia a comunidade Paulo Afonso o descaso com o meio ambiente continua e o descarte inadequado de lixo é o principal problema. Segundo os moradores da área, quase todos os dias restos de móveis, eletrodomésticos, entulhos de construção e outros resíduos são deixados no local. Para se ver livre do mau cheiro e insetos atraídos pela sujeira, alguns moradores ateiam fogo nos materiais, o que também pode causar danos à reserva.
O procurador-jurídico da Cagepa, Fábio Andrade, informou que a empresa, juntamente com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), reconstruiu o muro que delimita a Mata do Buraquinho, conforme a recomendação judicial. Já sobre o processo de reflorestamento na área onde existiu a comunidade Paulo Afonso, o representante da estatal alegou que a empresa já solicitou a demanda ao Ibama e aguarda uma resposta do órgão federal. No entanto, ainda não há previsão para a execução do projeto.
A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA tentou contato telefônico com a superintendência do Ibama para saber mais informações sobre a ação de reflorestamento. Mas, até o fechamento desta edição não obteve resposta.
INSEGURANÇA E MEDO NO LOCAL
Além da degradação ambiental, as áreas invadidas pelas duas comunidades também favorecem a crimes, como tráfico de drogas e estupros. Moradores das proximidades denunciam que adolescentes estariam utilizando os terrenos abertos na mata para práticas ilegais e temem ser vítimas da violência.
No trecho da mata onde existiu a comunidade Paulo Afonso, os moradores denunciam que adolescentes já foram levadas para a reserva e sofreram abusos sexuais. O local também é propício para esconderijo de assaltantes. “De vez em quando a gente vê garotos entrando aí com mulheres. Como o local é esquisito, eles usam para estupros e também para se esconder da polícia.
À noite aqui é perigoso e muita gente já foi assaltada”, disse um comerciante que preferiu não se identificar.
Já na comunidade São Geraldo, o problema, segundo relato dos moradores, é o tráfico de drogas. A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA esteve no trecho da comunidade, próximo a um motel, e verificou que um grupo de jovens e adolescentes utilizava o “quintal” de uma das casas, localizada praticamente dentro da mata, para usar e comercializar entorpecentes.
Um morador das proximidades que não quis se identificar relata que é constante a entrada de adolescentes e adultos no interior da mata. Segundo ele, a maioria utiliza os fundos das casas como acesso. “Têm dias que eles entram na mata, em grupo, e passam o dia aí. Depois saem drogados. Tem gente até de fora mesmo”, completa.
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