VIDA URBANA
Em Rio Tinto pelo menos 90% dos moradores pagam aluguel
Com ares de província, o município de Rio Tinto, localizado no Litoral Norte da Paraíba, guarda particularidades que muitos desconhecem.
Publicado em 17/05/2015 às 8:00 | Atualizado em 09/02/2024 às 17:03
Com ares de província, o município de Rio Tinto, localizado no Litoral Norte da Paraíba, guarda particularidades que muitos desconhecem. O nome da família Lundgren, fundadora da cidade, tem forte significado para seus moradores: pelo menos 90% deles (cerca de 1,2 mil famílias) pagam aluguel aos descendentes suecos, que continuam donos dos imóveis na cidade quase um século depois da instalação da Companhia de Tecidos Rio Tinto. No município, quase todos os imóveis são alugados, incluindo prédios onde funcionam órgãos da administração municipal.
A situação é vista por muitos moradores como um 'aprisionamento' aos Lundgren, que chegaram ao local por volta de 1917, com o intuito de fazer fortuna. O governo do Estado, através da Companhia Estadual de Habitação Popular da Paraíba (Cehap-PB), tenta resolver o conflito com a abertura de uma linha de crédito junto ao Ministério das Cidades, através do programa Pró-Moradia, para financiar as habitações. Enquanto isso não acontece, os moradores continuam pagando aluguel.
As marcas dos Lundgren estão por toda parte de Rio Tinto, a começar pela Igreja Católica, localizada na praça principal da cidade, onde também há um monumento em homenagem a Frederico João Lundgren, que detinha o controle da fábrica. O município foi sendo povoado com os trabalhadores recrutados para trabalhar na fábrica de tecidos, hoje desativada, porém preservada. A proposta de emprego incluía a moradia, que era gratuita nos dois ou três primeiros meses. Depois disso, os operários passavam a pagar o aluguel, que se tornou uma herança entre as gerações. Rio Tinto é considerada a única 'cidade privada' do país.
Segundo a historiadora Amélia Panet, “famílias inteiras foram atraídas pelos agentes da companhia, com promessas de moradia e bons salários”. A busca era por famílias que possuíam um número considerável de pessoas. Os operários menos qualificados não tinham água encanada em suas casas. Já os considerados de nível mais elevado moravam nas melhores casas do município. Ainda de acordo com Amélia, “na época de grande procura de mão de obra, encontravam-se casas de dois quartos com até quatro famílias, não importando suas procedências, costumes e hábitos”.
O presidente da Associação dos Moradores de Rio Tinto, José Antônio Pereira, disse que o problema incomoda a população e é motivo de tristeza profunda entre os mais velhos. Ele reclamou da demora no andamento do processo no Ministério das Cidades. “Estamos em negociação com o governo estadual, que a princípio demonstrou interesse em resolver nossa situação. Já fomos a Brasília duas vezes para tentar adiantar o processo. O Ministério das Cidades pediu um projeto que já foi enviado, mas até o momento não tivemos retorno”, explicou Pereira.
Ele é um dos muitos moradores que herdou o aluguel dos pais. Há cerca de dois anos, inconformado com a situação, Pereira deixou de pagar o valor referente ao imóvel onde reside e ao outro onde montou uma mortuária, o que representa algo em torno de R$ 180. O presidente da associação disse que fez melhorias na estrutura dos imóveis e que apenas um valor simbólico foi descontado das parcelas, o que ele considerou uma injustiça.
Sem resposta
A reportagem pediu informações ao Ministério das Cidades sobre o pedido de liberação de recursos para o financiamento das moradias em Rio Tinto, mas não recebeu resposta.
Comentários