VIDA URBANA
Excluídos da saúde pública
Voltar para casa da porta de hospitais, sem conseguir atendimento médico, virou rotina para muitos pacientes na Paraíba.
Publicado em 26/02/2012 às 8:00
O acesso à saúde é um dos direitos básicos garantidos pela Constituição Federal. Assim como a educação, o lazer e a segurança, a saúde é um direito que se estende a todos os cidadãos, independentemente de classe social, cor ou orientação sexual. Mas na prática não é isso o que acontece. O acesso à saúde é um dos grandes desafios dos gestores públicos, que nem sempre demonstram interesse em melhorar a situação.
A consequência do descaso atinge diretamente quem mais precisa: a população que depende do Sistema Único de Saúde (SUS). Voltar para casa sem atendimento médico virou rotina no país e também na Paraíba. No Estado, apesar dos investimentos feitos nos últimos anos, a situação ainda é preocupante. Nas portas dos hospitais, de qualquer um deles, é possível ouvir o apelo de homens, mulheres e crianças por uma saúde de qualidade.
Entre eles está o estudante Randres Araújo da Silva. Há 15 dias, no município de Pedras de Fogo, ele jogava bola com os amigos quando se machucou e rompeu o tendão. Com muita dor, foi socorrido para o Ortotrauma de Mangabeira, em João Pessoa, onde foi atendido depois de algumas horas. Mas o problema não estava resolvido. “O médico disse que tinha de fazer uma cirurgia, mas infelizmente não havia vagas disponíveis. Sem opção, tive de voltar para casa”, revela.
Alguns dias depois o estudante voltou ao Ortotrauma com a família na esperança de conseguir um leito. Não deu certo e mais uma vez ele voltou com a sensação de abandono que só sabe quem já precisou de atendimento médico na rede pública. “Sinto dores na mão, tenho medo que o problema se agrave”, diz Randres, mostrando o braço enfaixado. Sem dinheiro para pagar atendimento em uma clínica particular, tem de esperar. “A justificativa é sempre a mesma, a de que tem que desocupar um leito”, destaca.
A dona de casa Maria Helena Ferreira também é testemunha do descaso da saúde pública. Toda vez que a filha de oito anos adoece, ela sai da comunidade Cidade Verde, no bairro das Indústrias, para o Hospital Infantil Arlinda Marques, em Jaguaribe.
E toda vez, o roteiro é o mesmo. “Passo horas e horas esperando atendimento. Algumas vezes a médica sequer toca na minha filha”, declara. Mas há quem elogie a rede pública de saúde em João Pessoa.
A aposentada Elissa da Silva Leal é prova disso. “Sempre que precisei fui atendida sem problemas, não vou dizer que temos os melhores hospitais, mas a situação não é das piores”, frisa. Na semana passada, o marido da aposentada teve uma crise de epilepsia e foi socorrido para o Hospital do Valentina, onde recebeu o atendimento necessário. “Não tenho do que reclamar”, finaliza.
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