VIDA URBANA
Garotos envolvidos em barbárie já estão soltos
Os três adolescentes participaram do 'estupro coletivo' ocorrido na cidade de Queimadas.
Publicado em 06/02/2015 às 9:06 | Atualizado em 22/02/2024 às 19:39
Após quase três anos de internação no Lar do Garoto, em Lagoa Seca, no Agreste paraibano, os três adolescentes envolvidos na 'Barbárie de Queimadas', já estão nas ruas novamente. A saída deles foi confirmada pela direção do Lar do Garoto e a advogada de defesa. Os acusados estavam no abrigo desde fevereiro de 2012, quando o crime aconteceu, e teriam que ser liberados no máximo até o próximo dia 12, quando o caso completará três anos. Os outros sete acusados foram condenados e seguem cumprindo suas penas em presídios de João Pessoa.
Os adolescentes saíram do Lar do Garoto na última sexta-feira, mas a informação só foi confirmada ontem, pela direção e pela advogada. Logo nas primeiras horas do dia, eles deixaram o abrigo. Segundo moradores da cidade, que não quiseram se identificar, apenas um dos acusados voltou para Queimadas e foi visto caminhando pelas ruas, mas poucas pessoas sabem da saída deles. Os outros dois não estão mais na Paraíba. Um viajou para Goiás e o outro para o Rio de Janeiro, com parentes.
O juiz da Vara de Infância e Juventude, Max França, que preside o processo, não quis falar sobre o assunto e explicou que não pode dar detalhes do caso, pois o processo transcorre em segredo de justiça. Em entrevista recente ao JORNAL DA PARAÍBA, o magistrado havia confirmado que a saída deles aconteceria no máximo até o dia 12 de fevereiro, porém a liberação poderia ocorrer dias antes, por questões de segurança, tendo em vista a repercussão do caso, que virou destaque em todo o Brasil.
A advogada Joilma Ferreira de Oliveira, que fez a defesa de dois dos adolescentes envolvidos, também confirmou a saída deles e explicou que agora eles não devem mais nada à Justiça. “Eles cumpriram a medida socioeducativa prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Durante este três anos fizemos vários pedidos de liberdade, mas todos foram negados pela Justiça, que manteve a pena com rigidez”, contou a advogada.
Apesar da barbaridade do ato, para a Justiça, os acusados estão com a ficha limpa. “Como o ato aconteceu durante a adolescência, não pode ser caracterizado como um crime, mas sim como um ato infracional, praticado por eles, que na época tinham menos de 18 anos. A medida socioeducativa foi cumprida e eles também não terão registro de antecedentes criminais em suas certidões”, explicou Joilma Ferreira.
A diretora do Lar do Garoto, Paula de Oliveira, destacou que durante os três anos de internação, os adolescentes passaram por constantes avaliações de comportamento e rendimento das atividades educacionais. “O que tinha de ser feito já foi realizado. Eles não precisam de mais nenhum vínculo com o Lar do Garoto, nem com os acompanhamentos que recebiam enquanto estavam internados. Devem seguir suas vidas normalmente”, frisou.
ADVOGADO CRITICA LIBERAÇÃO DO TRIO
O advogado Francisco Pedro da Silva, que representa a família de Michele Domingues, uma das mulheres estuprada e assassinada, disse que os três acusados não estão prontos para viver em sociedade e são perigosos. “Eles cumpriram os três anos, mas isso não garante que eles se recuperaram. São pessoas que participaram ativamente do estupro de cinco mulheres e o assassinato de duas delas. Eles são perigosos, mas, infelizmente estas são as leis de nosso país. O juiz apenas cumpre o que é previsto e sabíamos que esse dia iria chegar”, disse ele.
Ainda de acordo com advogado, os familiares de Michele Domingues estão com medo ao saberem da saída dos jovens. “Desde o dia do crime, os familiares recebem ameaças e escutam piadas de pessoas próximas aos envolvidos. Inclusive, isso foi relatado por nós durante as audiências. Além da dor da perda, os parentes ainda enfrentam esse tipo de constrangimento, até hoje”, frisou o advogado.
LUTA
Para Isânia Monteiro, irmã de Izabella Pajuçara, que também foi morta pelos acusados, a família já fez o que podia e avalia de forma positiva a resposta da Justiça. “Ainda é muito difícil conviver com a dor, pois é uma realidade que machuca. Nós tivemos que sair do nosso luto para ir à luta por justiça e ela foi feita. Os adolescentes passaram o tempo máximo de internação e os outros já estão todos condenados e cumprindo suas penas.
Agora nós entregamos nas mãos divinas para que Deus possa confortar as almas de Izabella e Michelle, porque na terra não há mais o que ser feito, entre nós”, desabafou a irmã.
Os familiares de Izabella, Michele e das outras vítimas que sobreviveram já agendaram uma missa especial, para a próxima quinta-feira, dia 12 de fevereiro, na igreja da cidade de Queimadas. O ato irá homenagear as mulheres que foram mortas na barbárie, que completará três anos no dia. (Especial para o JORNAL DA PARAÍBA)
Comentários