VIDA URBANA
Homicídios de jovens crescem 236% em 10 anos na Paraíba
Em 1999, foram 138 registros, enquanto que no ano passado o órgão contabilizou 464 casos, um aumento de 236%.
Publicado em 11/04/2010 às 7:53
De Jacqueline Santos do Jornal da Paraíba
“Quando eu fumava maconha só dava fome e vontade de dormir. Agora, com o crack, eu só tenho desejo de roubar e roubar para ter mais”. A declaração é de Thiago (nome fictício), um jovem viciado que começou a usar drogas aos 12 anos de idade. Com 17, ele decidiu que não havia outra solução para tentar pôr um fim à vida de destruição que está levando a não ser procurar ajuda. Mas isso só aconteceu depois que o garoto quase morreu nas mãos dos traficantes.
Dados da Secretaria de Saúde do Estado que mostram os óbitos por homicídios de paraibanos na faixa etária entre 12 e 24 anos apresenta um crescimento alarmante nas estatísticas. Em 1999, foram 138 registros, enquanto que no ano passado o órgão contabilizou 464 casos, um aumento de 236%. Os especialistas asseguram que as drogas sempre estão por trás dessas mortes violentas.
A cada ano que passa, o crack, a mais devastadora de todas as drogas, faz um número maior de vítimas. Thiago está na relação dos usuários marcados para serem exterminados. E não são poucos. Somente este ano, seis adolescentes que vinham sendo acompanhados pelos conselheiros tutelares da região Norte, em João Pessoa, foram assassinados por dívidas acumuladas por conta do consumo ou por envolvimento direto com o tráfico.
“O crack dá a tônica principal da violência que assola a nossa juventude. Nas comunidades pobres ele é vendido como bebida. Não existe um só lugar onde não seja encontrado”, lamentou o conselheiro tutelar Sérgio Lucena. De janeiro a dezembro de 2009, o Conselho da Região Norte, que abrange 13 bairros e 40 comunidades, registrou 11 mortes de adolescentes que estavam sob os cuidados do órgão.
Se o ritmo de homicídios prosseguir na mesma intensidade do que foi contabilizado no primeiro trimestre deste ano (seis vítimas), a expectativa é de que no final do ano 24 usuários que contam com o aparato do Conselho Norte sejam ceifados ao longo de 2010, ou seja, seis mortes a cada três meses. Em comparação com 2007, percebe-se que o índice é ainda mais preocupante, visto que foram quatro assassinatos de jovens nos doze meses desse ano, quase três vezes menos do que no ano passado.
Sérgio Lucena lembra que o último caso foi o de uma adolescente de 15 anos chamada Silvana (nome fictício), moradora da comunidade do Riachinho, no Treze de Maio, na capital. Apesar das inúmeras tentativas de salvá-la, a menina voltava às mesmas companhias e a dependência foi mais forte do que o empenho das pessoas para ajudá-la. Ela começou como usuária e para conseguir dinheiro e alimentar o vício começou a ser usada como ‘aviãozinho’ pelos chefes do comércio ilegal e entrou na prostituição.
A menina foi se envolvendo aos poucos e acabou no tráfico. Silvana foi encontrada morta no Altiplano, na capital. “O conselho fez de tudo. Conseguimos abrigo, internamento, visitamos constantemente a família. Mas infelizmente o crack foi mais forte. Ela perdeu a noção da vida”, conta Lucena. Além de morar em um local onde o acesso à criminalidade é maior, o histórico familiar da adolescente era trágico, já que o pai foi morto por conta das drogas.
Eram 18h quando um grupo de seis homens invadiu a casa de três cômodos, sem banheiro, onde o menino vive com a mãe e o irmão de 18 anos, localizada no bairro Padre Zé, na capital. Os poucos objetos da casa, como geladeira e fogão, foram completamente destruídos pelo bando. Eles estavam em busca de Thiago para matá-lo por conta de uma suposta dívida de R$ 1 mil. “Eu não vendo, só consumo. Essa história de que eu estou devendo é mentira. Inventaram isso aí”, garante.
No momento do ataque, o garoto acompanhava a família em um culto evangélico. Mas essa não foi a primeira vez que tentaram pôr fim à vida dele. O jovem lembra que quando estava em tratamento no Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Caps I) foi surpreendido na saída por dois homens que o seguiram em uma moto. “Vi logo de longe eles querendo me pegar. Entrei na Bica (Parque Arruda Câmara) e eles continuaram mirando em mim. Aí entrei no cano e fui sair do outro lado. Usaram até binóculo para me ver”, conta.
Quando chegou em casa, a mãe de Thiago foi surpreendida com a destruição que encontrou. Se estivesse lá naquela hora, a perda seria irreparável: a vida do próprio filho, o que não se compara os prejuízos financeiros com o fogão amassado e a geladeira (nova) sem porta que os traficantes deixaram. Thiago disse que eles costumam ir em grupos de seis e apenas dois vão armados.
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