VIDA URBANA
Mais de 70% dos acidentes registrados em CG são causados por homens
UEPB traçou perfil das ocorrências nas ruas de CG em 2014 e constatou que 77,4% foram cometidas por pessoas do sexo masculino.
Publicado em 08/04/2016 às 8:31
Era um sábado à noite quando Newton Cunha, de 33 anos, conduzia sua motocicleta na avenida Floriano Peixoto, em Campina Grande, e colidiu com um carro em alta velocidade. O acidente aconteceu à altura do bairro São José, e o jovem morreu antes mesmo de ser socorrido. A ocorrência que vitimou Newton foi apenas um dos 4.438 acidentes de trânsito registrados em Campina Grande em 2014.
Desse total de acidentes, 3.435 foram cometidos por homens, o que corresponde a 77,4%, contrariando a ideia de que mulheres são piores na direção, já que elas foram responsáveis por apenas 22,6% das ocorrências. E as motocicletas, guiadas por condutores com idades entre 20 e 30 anos foram os veículos que mais se envolveram em acidentes, a maioria deles em vias conhecidas das estatísticas na cidade como a avenida Floriano Peixoto, a Argemiro de Figueiredo e a Assis Chateaubriand.
Estes e outros dados fazem parte de um estudo desenvolvido pelo pesquisador Bruno Agra Ferreira, no Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde (Nutes) situado no Campus I da UEPB, com o apoio do Departamento de Estatística da Superintendência de Trânsito e Transportes Públicos (STTP), que traçou um perfil das ocorrências registradas nas ruas da cidade no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2014.
Segundo o pesquisador, o objetivo principal do estudo foi mapear os acidentes na área urbana da cidade. “Nossa preocupação foi estimar as áreas de risco e identificar a existência de características comuns nos acidentes envolvendo motocicletas, de forma a auxiliar na tomada de decisões de órgãos governamentais, visando à segurança viária, a redução do número e a gravidade dos acidentes de trânsito, e consequentemente, preservar a saúde e a vida dos indivíduos”, ressaltou.
Para o psicólogo Tiago Rocha, a presença maior de homens em acidentes de trânsito pode estar relacionada a um comportamento descuidado e a sensação de poder, comuns do gênero. “Na verdade é um fenômeno. Eu não vejo como um fator único, mas como uma conjunção de vários fatores. O fator social em relação à ingestão de bebidas alcoólicas, ligado a uma atividade um pouco mais arriscada, aventureira, que é característico do gênero, faz com que os homens acabem se envolvendo frequentemente em acidentes”, frisou.
O estudo mostra ainda que 82,5% dos condutores que se envolveram em acidentes apresentavam sinais de embriaguez e que o intervalo das 17h até as 18h é o recordista em ocorrências. Já em relação ao dia da semana, o sábado – quando muitas pessoas saem para se divertir e acabam cometendo infrações - é quando ocorre a maior parte dos acidentes. Já os equipamentos de segurança, itens obrigatórios para condutores de veículos só eram utilizados em 90,8% dos casos.
Seja por imprudência do condutor, ou de fatores adversos, a cada dia esses números crescem mais, assim como a frota de motocicletas da cidade, que passou de 39.545 em 2011 para 48.844 em 2015. Os acidentes envolvendo motociclistas são também os principais responsáveis pelas internações no Hospital de Trauma de Campina Grande, que é a referência para esses casos. Somente nos últimos dois anos, a unidade atendeu 22.180 acidentados de trânsito, grande parte deles de Campina Grande, conforme relatou o diretor Geraldo Medeiros. “Vejo isso todos os dias e com uma grande preocupação. Os acidentes de trânsito e, de forma particular, os que envolvem motos são uma epidemia, um verdadeiro problema de saúde pública”, afirma.
Maio Amarelo
Para diminuir a quantidade de acidentes na cidade, a STTP está preparando o 'Maio Amarelo', evento que coloca em evidência o debate sobre a questão da segurança no trânsito, além de ações de prevenção de acidentes e de mortes nas vias. Conforme o superintendente da STTP, Félix Araújo Neto, mais do que chamar a atenção da sociedade sobre os altos índices de mortes, feridos e sequelados permanentes no trânsito, a intenção é mobilizar governo, empresas, e sociedade civil para discutir o tema, engajar ações e propagar conhecimento, abordando toda a amplitude da questão de deslocamentos mais seguros.
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