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VIDA URBANA

Mãos masculinas em atividades femininas

Homens estão se tornando cada vez melhores, seja nas atividades domésticas, de beleza ou ainda, nos trabalhos manuais.

Publicado em 25/11/2012 às 8:00


Vivemos em um mundo de transição de valores, onde as mulheres aprendem mais sobre liberdade e os homens em como se adaptar às mudanças do sexo oposto. A cultura patriarcal ainda não sucumbiu, mas muitos homens estão rompendo com os antigos valores morais para se debruçarem em trabalhos que os deixem felizes e satisfeitos. Hoje, as “atividades femininas” abrem suas portas para o sexo masculino e não há como negar que os homens estão se tornando cada vez melhores, seja nas atividades domésticas, de beleza ou ainda, nos trabalhos manuais.

Na casa do aposentado Joel da Nóbrega, de 78 anos, o trabalho não para. Entre linhas e agulhas, ele passa o dia inteiro fazendo o que mais gosta, tricô. Há quatro anos, o aposentado vem desenvolvendo este trabalho e o faz tão bem que seus produtos já foram levados até para o exterior. Mas Joel contou que no início, tudo não passou de um exercício, uma espécie de hobby que, depois de algum tempo, se tornou uma profissão com um bom retorno financeiro.

“Eu havia me aposentado na época e para não ficar parado de tudo comecei a fazer tricô, já que a minha mulher também praticava em casa. Entrei para o clube de mães e fiz alguns cursos, comecei a gostar mesmo da atividade e a transformei em uma profissão”, contou. Tamanha é a paixão por esta atividade, que Joel acorda cedo para começar a tricotar. “Eu começo logo cedo e só paro para comer e dormir”, brincou. Para ele, a atividade é comum como qualquer outra, apesar das chacotas de alguns amigos.

“Eu levo tudo na esportiva, até porque tudo não passa de uma brincadeira. O importante é que eu esteja feliz e realizado”, disse ele. Joel ainda faz parte de uma minoria de homens que deixa de lado o preconceito e o machismo para se dedicar ao que realmente gosta e com isso ajuda a desmistificar o conceito de que pessoas do sexo masculino devem se limitar em atividades consideradas específicas do gênero.

De acordo com a doutora em Ciências Sociais Idalina Santiago, a formação da sociedade brasileira, com a colonização europeia, foi fortemente marcada por construções de gênero patriarcais, as quais destinavam aos homens os espaços públicos e às mulheres, a domesticidade. “Esta construção patriarcal de gênero passou a ser abalada pela organização das mulheres, insatisfeitas com sua condição de submissão e subordinação”, disse.

Para ela, as mudanças de comportamento estão acontecendo paulatinamente em toda a sociedade, haja vista a grande incidência de mulheres participando de cargos públicos e em profissões consideradas “masculinas” e, em menor proporção, homens assumindo postos até então exclusivamente alocados às mulheres. “Contudo, não podemos considerar que a cultura patriarcal, encucada em nossas cabeças por mais de 500 anos, tenha sucumbido. Vivemos um período de transição de valores que incluem a construção de novas relações de gênero, assentadas em princípios simétricos, em contraposição aos traços patriarcais que resistem em se manter”, explicou.

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Jornal da Paraíba

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