VIDA URBANA
Nordeste é região com maior número de tremores de terra no país
Falhas geológicas e faixa estreita de solo são favoráveis para abalos. Atividade sísmica em João Câmara (RN) é conhecida desde 1986.
Publicado em 13/01/2010 às 6:49
Do G1
O Nordeste é a região com um dos maiores níveis de atividade sísmica do Brasil, segundo o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP). Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco têm maior incidência de abalos, de acordo com laboratório de sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
"Até dois anos atrás, 60% dos tremores registrados com um espaço de tempo menor entre um e outro ficaram concentrados nesses três estados. É uma característica local por causa das falhas que existem na região", disse Eduardo Alexandre Menezes, da UFRN.
O tremor de terra registrado no Rio Grande do Norte, na segunda-feira (11), teve reflexos em Pernambuco e na Paraíba.
As cidades vizinhas a João Câmara (RN), por exemplo, apresentam tremores recorrentes desde 1986, quando ocorreu o que os especialistas chamam de enxame sísmico, tendo como ponto de partida um abalo com magnitude de 5,1 graus na escala Richter. Na década seguinte foram registrados 60 mil pequenos abalos na região, segundo o IAG.
De acordo com Afonso Emidio de Vasconcelos Lopes, professor de geofísica e sismologia do IAG, a região do Nordeste é formada por vários fragmentos de rochas antigas e por isso é natural haver maior propabilidade de atividade sísmica local.
"As falhas geológicas favorecem a ocorrência de abalos. Outra característica favorável para os tremores são as camadas pequenas de solo no Nordeste, que podem variar de três a 20 metros de terra sobre rocha. Em alguns pontos, essa rocha chega a ficar visível. No Sudeste, essa característica é bem diferente e a camada de solo para absorver a chuva, por exemplo, é muito maior", disse o professor.
Falhas geológicas
No Rio Grande do Norte existem duas falhas geológicas consideradas importantes. "A Falha de Samambaia fica em João Câmara e foi a responsável pelas atividades sísmicas de 1986. Ela tem cerca de 30 quilômetros de extensão por quatro quilômetros de largura. Essa falha fica ao lado da de Poço Branco (RN), que é bem menor, mas também influi nos tremores na região", afirmou Lopes.
Segundo a equipe técnica do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), os tremores registrados no Rio Grande do Norte tiveram relação com uma das duas falhas geológicas. Os dados das estações medidoras ainda estão sendo analisados. O abalo desta terça-feira foi registrado pela estação de Fortaleza, que faz parte da Rede Sismográfica Nacional da UnB, e pela estação de Riachuelo (RN). As duas ficam, respectivamente, a cerca de 400 quilômetros e 35 quilômetros da região central do tremor.
Técnicos da UFRN foram coletar, nesta terça-feira (12), dados das estações do Nordeste, pois o epicentro dos tremores ocorridos desde sábado (9) fica próximo das cidades de Taipu (RN) e Poço Branco, mas a localização exata ainda é preliminar.
Em 2003
Os últimos registros de pequenos abalos na região de João Câmara, segundo dados do IAG e da UFRN, ocorreram em 2003, com magnitudes entre 2,4 graus e 3,4 graus na escala Richter. "Esses eventos, junto com os dois sismos com magnitudes próximas de 4 graus ocorridos nos últimos dias, mostram que a atividade sísmica na região continua significativa, embora com sismos de magnitudes pequenas", disse o professor de geofísica e sismologia.
Lopes faz um comparativo com outros tremores históricos no país. "Para se ter uma ideia da magnitude dos eventos de João Câmara, os maiores sismos ocorridos no Brasil foram os de Porto dos Gauchos (MT), em 31 de janeiro de 1955, com magnitude de 6,2 graus na escala Richter, e o ocorrido no Oceano Atlântico, em março do mesmo ano, em frente a Vitória, com magnitude de 6,1 graus."
O professor disse que as universidades brasileiras trabalham para criar uma rede de informações sobre terremotos em tempo real. "Mesmo quando os sismógrafos estiverem integrados, ainda não será possível prever a ocorrência de tremores", afirmou Lopes.
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