VIDA URBANA
PB investe pouco em saneamento básico
Pesquisa revela que Estado foi o terceiro do NE que menos aplicou recursos em 2009
Publicado em 30/08/2011 às 0:12
Nathielle Ferreira
A Paraíba é o terceiro Estado do Nordeste que menos realizou investimentos na área dos serviços de abastecimento de água e esgoto em 2009. As informações fazem parte da pesquisa mais recente sobre o assunto e foram divulgadas neste mês pelo Ministério das Cidades.
Os dados estão na 15ª edição do Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos, estudo feito com base no Sistema Nacional de Saneamento Básico (Snis). Em 2009, a Paraíba empregou R$ 45,6 milhões no abastecimento de água e esgotos, enquanto a Bahia, que ficou em primeiro lugar no ranking, aplicou R$ 458,7 milhões na área. Os recursos paraibanos só foram superiores aos do Maranhão (R$ 36,5 milhões) e de Alagoas (R$ 3,4 milhões).
De acordo com o estudo, o segundo Estado que mais investiu no abastecimento de água e esgoto foi Pernambuco, que aplicou R$ 440, 5 milhões. Em terceiro, ficou Piauí, com R$ 292,7 milhões. Em seguida, vieram Ceará, que empregou R$ 137,8 milhões; e Sergipe, com R$ 135,8 milhões.
Qualidade de vida
A falta de investimentos influencia na qualidade de vida de pessoas como a dona de casa Valesca Kelly Barbosa. Moradora da comunidade Saturnino de Brito, em Jaguaribe, a moça não tem ligação de água encanada própria e nem sistema de esgotamento sanitário. O marido dela, o ajudante de pedreiro, André Ramos do Nascimento, conta que a água que abastece a casa vem de uma clínica médica, instalada ao lado da comunidade.
“Antes, quando a clínica não existia aqui, a gente tinha que ir buscar água na praça (Bela Vista). Lá tinha uma torneira. A gente levava baldes e trazia com agua dentro. Agora, o dono da clínica deixou a gente fazer uma ligação e receber a água dele”, afirmou André.
Para Valesca, a falta da ligação própria de água representa um transtorno a mais. Na casa só há uma torneira. A dona de casa precisa usar um pedaço de mangueira para levar a água para a pia. Ela tem que usar bacias para lavar roupas e louças. “A gente queria ter ligação de água sim, mesmo que isso significasse numa conta no final do mês. Porque a conta de água é um comprovante de endereço e serve até para fazer compras no comércio”, declarou.
Segundo os moradores, a comunidade não tem ligação de esgoto. Os dejetos que saem dos banheiros são levados por canos e despejados numa reserva ambiental que fica próximo às casas. Devido à ausência do saneamento básico, as crianças da área costumam ficar doentes com frequência.
Só 20 cidades tratam esgotos corretamente
Para o engenheiro sanitarista Edmilson Fonseca, a falta de investimentos em saneamento básico influencia diretamente na saúde das pessoas. O especialista, que é membro da Associação de Engenharia Sanitária e Ambiental, explica que é direito da população ter acesso à água de qualidade e em quantidade suficiente para atender suas necessidades diárias. O mesmo direito é reservado ao saneamento básico. No entanto, muitas cidades ainda não contam com esses serviços. “No Brasil, 40% das cidades não têm saneamento básico. Na Paraíba, dos 223 municípios, apenas 20 tratam corretamente de seus esgotos”, ressaltou.
O engenheiro lembra que em 2007 o presidente Lula sancionou a Lei n.º 11.445, que trata do abastecimento de água e de esgotos no país. A legislação foi resultado de 20 anos de luta dos engenheiros sanitaristas. Entre outras ações, a lei determina aos governantes que elaborem políticas para garantir o tratamento correto dos esgotos.
Ações da Cagepa
A reportagem tentou entrar em contato com a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) para obter informações sobre os investimentos feitos na área, mas não obteve êxito. A assessoria de imprensa do órgão informou que o coordenador da equipe de Comunicação estava doente e que ele é a única pessoa autorizada a conceder qualquer tipo de informação ou agendar entrevista com os diretores da instituição.
Em matéria divulgada no dia 25 de maio deste ano e disponível no portal da Cagepa, o presidente do órgão, Deusdete Queiroga Filho, afirmou que a empresa pretende investir quase R$ 329 milhões em obras de esgotamento e abastecimento de água.
As ações farão parte do Plano de Investimentos em Obras de Saneamento para o período de 2011 a 2013.
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