PB registra 400 homicídios em 2015 e capital lidera ocorrências

“Hoje, nem sempre as vítimas de assassinato são só as pessoas envolvidas com o crime, mas também um cidadão que vive sob as leis do Estado e que pode estar passando na rua e ser atingido por uma bala perdida”.

A declaração é do comandante da Unidade de Polícia Solidária (UPS) do bairro de Mandacaru, em João Pessoa, capitão Estevão Nascimento Sabino. Para ele, a realidade da violência que existe na localidade, assim como em qualquer outra cidade paraibana, pode estar mudando os hábitos da população, que convive com a realidade de um Estado que contabilizou 13.023 homicídios, nos últimos 11 anos.

No primeiro trimestre de 2015 já conta com 400 assassinatos. Os dados são da Secretaria de Estado de Segurança Pública e de Defesa Social (Seds) e do Mapa da Violência 2014.

A expressão de medo e o silêncio dos moradores, sobretudo os que residem nas comunidades, e as marcas de bala nos muros, paredes e portões das casas e ruas reforçam os argumentos do policial. “Não é só a pessoa que morreu, mas é preciso também investigar o passado dela e por qual motivo foi assassinada. Hoje em Mandacaru, que é um bairro com tradições culturais como alaursas e quadrilhas, o pessoal tem ficado mais retraído e tem dias que as ruas estão desertas”, argumenta o capitão Estevão Sabino.

O total de assassinatos que ocorreram de janeiro até março de 2015 na Paraíba representa, em média, a morte de quatro pessoas por dia no Estado vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI). Esse quantitativo é 15,6% a mais do que o contabilizado no mesmo período de 2014, quando ocorreram 346 assassinatos. Assim como no ano passado, o município de João Pessoa lidera o ranking de homicídios, com 119 mortes.

Na capital, o número de homicídios registrado no primeiro trimestre deste ano cresceu 23,9% em relação à quantidade de casos no mesmo intervalo de tempo em 2014, quando 96 pessoas foram assassinadas. A quantidade de assassinatos ocorridos em João Pessoa nos primeiros três meses deste ano se aproxima da realidade de Recife (PE), onde aconteceram 147 crimes do mesmo tipo, segundo dados da Secretaria Estadual de Defesa Social de Pernambuco.

Entre as dezenas de casos que ilustram essa realidade em João Pessoa estão os assassinatos de Leonardo Laurentino de Sousa, de 20 anos, e de um adolescente de 14 anos. Os crimes aconteceram nos bairros do Rangel e Mandacaru, respectivamente, na madrugada de 26 de fevereiro.

Os dois rapazes foram mortos por disparos de arma de fogo e ilustram ainda o perfil da maioria das vítimas de assassinato: jovens e moradores de bairros da periferia. “Os jovens estão mais vulneráveis à violência, tanto que os estudos anuais do Mapa da Violência mostram que a maioria das vítimas é formada por adolescentes e adultos jovens, na faixa etária média dos 14 aos 29 anos”, explica o doutor em Sociologia e pesquisador do Núcleo de Violência da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Ariosvaldo Diniz.