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VIDA URBANA

Usuários insatisfeitos com USFs

População reclama de demora no atendimento, falta de médicos e prestadores de serviço despreparados nas unidades da capital.

Publicado em 08/09/2013 às 11:55 | Atualizado em 14/04/2023 às 17:23

Demora de atendimento, falta de médicos e prestadores de serviço mal preparados. É isso que os pacientes reclamam toda vez que procuram uma Unidade de Saúde da Família (USF) em João Pessoa. Em duas dessas unidades, Alto do Mateus e Valentina, a reportagem encontrou usuários revoltados e insatisfeitos com a qualidade do serviço.

O comerciante Francisco Barbosa da Silva esteve na semana passada na USF Nova Conquista, do Alto do Mateus, bairro onde mora. Ele levou a filha de nove meses que há três dias estava com tosse e vômitos. Para ser atendido ele passou mais de quatro horas esperando, com a criança no braço, visivelmente debilitada. “Infelizmente o atendimento é péssimo, ninguém faz nada”, declarou. “É um descaso”, completou.

A dona de casa Maria das Graças Modesto também reclamou da USF Nova Conquista. Segundo ela, muitas vezes não há médicos e quem passou horas esperando, volta para casa sem atendimento. “Há dias que tem apenas um médico para atender todo mundo, a demora é demais”, comentou. Para conseguir uma ficha ela chegou antes das 7h.

Para a auxiliar de serviços Juliane Bezerra, o maior problema é o tratamento dos médicos. “Tem doutor que nem olha para nossa cara, mal fala. A gente é atendido em dois, três minutos”, frisou. Ela disse ainda que há médicos que se recusam a dar a requisição para os encaminhamentos necessários, mas não soube dizer os nomes dos profissionais. “Estou precisando de exames de vista e de alergia, mas até agora não consegui”, afirmou.

No dia que visitou a USF do Alto do Mateus, a equipe do JORNAL DA PARAÍBA foi impedida de entrar no prédio pela apoiadora e o guarda do local, que tentaram, inclusive, proibir as entrevistas na calçada. A atitude dos prestadores de serviço revoltou alguns pacientes, a exemplo da dona de casa Josileide Vieira. “Se a imprensa é tratada desse jeito, imagina nós pacientes”, disse em tom de indignação.

A aposentada Eunice Cunha Oliveira foi à USF para pegar comprimidos para o tratamento de hipertensão, mas voltou para casa de mãos vazias. “Já vim três vezes e não tem meu remédio. Não posso comprar e acabo prejudicada”, afirmou. Ela se queixou também da falta de médicos. “Tem doutor que só vem no dia que quer”, acrescentou. Sem dinheiro para pagar, a aposentada já passou meses esperando um encaminhamento para consulta ou exame.

SECRETÁRIO DE SAÚDE REBATE AS QUEIXAS

O secretário de Saúde de João Pessoa, Adalberto Fulgêncio disse primeiramente que a reclamação sobre a falta de médicos nas USFs da capital é um problema isolado. “Pode ocorrer de um médico adoecer. A falta desses profissionais não é algo recorrente, mas que sempre quando acontece deixa os usuários insatisfeitos”, afirmou Fulgêncio.

Em relação à demora nos encaminhamentos para consultas e exames especializados, o secretário explicou que a carência de médicos de algumas áreas explica o problema. “O mercado de médicos em João Pessoa enfrenta algumas dificuldades, e isso tem como consequência a demora no encaminhamento”, disse Fulgêncio, que garantiu não desconsiderar as críticas da população. Segundo ele, as principais dificuldades são para especialidades como médicos e obstetras.

Sobre a falta de medicamentos, outra queixa dos usuários, o secretário admitiu a necessidade de melhorar a logística da distribuição de remédios na atenção básica. Segundo ele, até o final deste ano a população terá nas USFs medicamentos voltadas para a atenção básica, como remédios para febre, tosse ou anemia, por exemplo.

Medicamentos para problemas de média complexidade serão disponibilizados nos Caps e distritos e os de alta complexidade nos hospitais. “Essa organização vai facilitar a vida do usuário”, opinou. A falta de comunicação entre os profissionais da farmácia e os médicos acaba criando problemas que não existem, segundo o secretário.

“Muitas vezes não tem o composto sulfato ferroso em comprimido, mas tem em xarope. Reconhecemos que a comunicação precisa melhorar”, destacou.
Ainda de acordo com Fulgêncio, cada USF terá um coordenador. O objetivo é otimizar o atendimento ao usuário e prestar um serviço de melhor qualidade.

Ele condenou o tratamento dispensado por alguns funcionários a usuários e à imprensa (como o que ocorreu no Alto do Mateus, onde a apoiadora e o guarda expulsaram a equipe do JORNAL DA PARAÍBA). “Teremos uma cobrança mais rígida. Acreditamos nos profissionais de saúde e daremos oportunidades aos profissionais para que eles melhorem o tratamento com as pessoas”, frisou.

FALTA DE VACINA

Sobre a falta de vacinas na USF do Valentina, o secretário classificou o fato como inadmissível e disse que isso é falta de gerenciamento. Segundo ele, com uma ligação o problema seria resolvido, tendo em vista que a rede municipal de saúde tem todas as vacinas obrigatórias pelo Ministério da Saúde.
“Os apoiadores ou diretor do distrito poderiam ligar e pedir, mas eu mesmo vou verificar o caso e adotar as providências”, garantiu.

Durante entrega da USF Estação Saúde, no Geisel, semana passada, o prefeito Luciano Cartaxo disse que a prefeitura está se esforçando para que as USFs funcionem ao sábados. “A saúde não tira férias, não tem final de semana, por isso estamos lutando para que a população possa ter o atendimento também aos sábados”, declarou o prefeito, sem informar quando isso deve realmente acontecer.

PROBLEMAS SE REPETEM NA USF ROSA DE FÁTIMA

Na Unidade de Saúde da Família (USF) Rosa de Fátima, no Valentina, pelo menos 15 cadeiras estão com o encosto quebrado, mas isso se torna um detalhe diante das reclamações dos usuários que moram na localidade. Segundo eles, falta médicos, remédios e vacinas. Os pacientes reclamam, mas parecem que não são ouvidos.

No dia que a reportagem esteve no local encontrou o servente de pedreiro João Paulo Araújo. Ele tinha chegado às 6h para pegar um remédio controlado que precisa tomar, mas às 10h30 ainda não tinha conseguido falar com o médico. “A gente tem que esperar. Toda vez que venho aqui é essa demora, é um absurdo”, declarou o servente. O clima entre pacientes e servidores parece não ser dos melhores. “Se a gente pergunta alguma coisa, elas respondem com ignorância”, revelou.

No corredor onde fica a sala do médico, a reportagem flagrou mulheres que aguardavam há mais de cinco horas pelo atendimento. Para passar o tempo elas conversam, mas em alguns momentos a paciência vai embora. Não há organização por parte da USF. Segundo os pacientes, são eles os responsáveis por formar a fila, já que nenhuma ficha é entregue. A consequência disso é que outras pessoas acabam entrando na frente de quem chegou bem mais cedo.

A dona de casa Idalice dos Santos disse que quando precisa de um encaminhamento, passa meses esperando a USF marcar. “Se a pessoa tiver de morrer, vai morrer e o encaminhamento não chega. É um descaso”, declarou a mulher, que estava com a filha de 10 anos para ser avaliada pelo médico. A costureira Jane Alves de Lima disse que “os médicos tratam muito mal os pacientes”. Sem alternativa, pela falta de condições financeiras de ir a uma clínica particular ou pagar um plano de saúde, ela se vê obrigada a suportar a humilhação.
Nesse mesmo dia, a auxiliar de serviços Rosilene da Silva Santos voltou para casa indignada porque levou o filho de três anos para tomar a vacina, mas foi informada que estava em falta.

“A gente vem de longe, a pé, e quando chega aqui não tem vacina. É a segunda vez que procuro e recebo um não”, explicou. Não era só a vacina que o filho de Rosilene precisava que estava em falta. Uma enfermeira disse que há um mês a vacinação estava suspensa e a equipe aguardava a chegada dos lotes.

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Jornal da Paraíba

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