VIDA URBANA
Violência assusta quem vive na rua
Moradores das avenidas e praças de João Pessoa contam que convivem com o medo de serem assassinados de madrugada.
Publicado em 03/03/2013 às 8:00
O sorriso largo esconde tristes histórias, enquanto a aparência física reflete muito mais que os 45 anos registrados no documento de identidade. Os poucos pertences estão guardados em duas mochilas, encontradas ali mesmo pela rua. Maria Lúcia Cordeiro mora nas ruas de João Pessoa há quatro anos e convive diariamente com o medo de ser assassinada, principalmente durante a madrugada.
Com receio da violência que atinge a população em situação e rua, Maria Lúcia passa as madrugadas acordada, velando o sono do companheiro. No corpo, ela guarda as marcas da violência. No ano passado, ela foi vítima de uma tentativa de homicídio, quando foi golpeada três vezes com uma faca.
“Eu estava trabalhando, quando de repente um homem chegou e me furou. Foi por pura maldade, e isso fez com que eu ficasse com mais medo”, contou.
Natural da cidade de Lagoa Dentro, Maria Lúcia vive embaixo de uma árvore, nas proximidades da Praça da Independência, no Centro de João Pessoa, onde divide espaço com um grupo formado por outros cinco moradores de rua. Para manter o sustento, ela e o companheiro trabalham como catadores.
“É muita covardia. O pessoal não respeita. Já perdi as contas de quantas vezes eu vi os moradores de rua sendo agredidos”, lamentou Maria Lúcia, enquanto somava quantos conhecidos já haviam sido assassinados enquanto dormiam. Foram quatro, entre eles, seu filho, executado enquanto dormia em rua do bairro do Bessa. “Eu prometi que iria morar com ele na rua. Fiz isso para tentar tirar ele dessa vida, mas acabei ficando também”, explicou.
O último assassinato de morador de rua registrado pela polícia, aconteceu no dia 23, no bairro de Jaguaribe. O homem não identificado foi assassinado a pedradas e golpes de arma branca por três homens que ainda não foram detidos. A Polícia investiga a motivação do crime e não sabe se a vítima era envolvida com drogas ou se o assassinato foi por vingança.
Também com medo da violência, Maria Lúcia dorme no durante as manhãs para ficar acordada à noite, como forma de se sentir mais segura. “Quando o pessoal começa a chegar pra conversar, eu aproveito para dormir em segurança. Quando chove fininho, a gente se protege com uma lona mas se a chuva for muito forte, a gente se abriga em uma funerária”, contou.
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