Enterrando seus mortos

Indicado ao Oscar em duas categorias, ‘Tão Forte e Tão Perto’ estreia nesta sexta-feira (24) nos cinemas paraibanos.

O processo de luto envolve cinco etapas: negação, dor, culpa, aceitação e adaptação.

Uma das maiores tragédias americanas do início do século, o 11 de Setembro submeteu quase três mil famílias a este processo inerente à perda de seus entes queridos.

Vítima indireta do episódio, toda uma sociedade viu suas bases aparentemente estáveis ruírem junto com as torres gêmeas, que até hoje deixam um vão triste no horizonte apinhado de Manhattan.

A indústria cinematográfica, que já foi símbolo da pujança desta sociedade, também passou por um processo de luto após a queda das duas torres.

A primeira reação, naturalmente, foi a de banir o tema da sétima arte.

Exemplos não faltam para tal, e o mais emblemático foi o caso do primeiro filme da franquia Homem-Aranha (2002), que teve as cenas que incluíam o World Trade Center como cenário cortadas em sua versão final.

Ao longo da última década, o luto pelo episódio rendeu algumas dezenas de títulos que perpassam por questões como o heroísmo de personagens envolvidos na catástrofe e seus efeitos na vida cotidiana das pessoas.

Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close, EUA, 2011), que estreia hoje em duas salas em João Pessoa e uma em Campina Grande, marca a tentativa de Hollywood de se adaptar ao desastre que ainda está na memória dos EUA.

Indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Ator Coadjuvante (para o sueco Max von Sidow), o filme é ambientado nesta atmosfera de perplexidade que dominou o mundo após ‘o pior dos dias’, nas palavras do jovem protagonista Oskar Schell (interpretado pelo promissor Thomas Horn).

Oskar é um garoto de 11 anos que perdeu seu pai, Thomas (Tom Hanks), no atentado. Enquanto divide o teto com a mãe deprimida, Linda (Sandra Bullock), o menino tenta lidar com a morte procurando por uma ‘pista’ deixada em vida pelo pai.

Nesta peregrinação ele conhece ‘O inquilino’ (Von Sidow), um idoso que aluga um quarto no apartamento de sua avó. É ele quem vai ajudá-lo a buscar os vestígios deixados pelo pai e enfrentar os traumas que sua ausência causou.

Dirigido por Stephen Daldry (Billy Eliott, As Horas e O Leitor), o longa-metragem reforça os pendores do cineasta inglês por temas delicados e por protagonistas em tenra idade.

As lentes que já desvendaram um narrativa nos bastidores do Holocausto em O Leitor (2008), revela agora outras camadas da chaga aberta pelos ataques terroristas do 11 de setembro.

Puxando o enredo, como em Billy Elliot (2000), um protagonista obstinado, que passa por uma série de provações até o desfecho de uma história que tem o mesmo clima das outras produções do diretor.

Na galeria do Oscar, com os cinco títulos de sua filmografia (o primeiro, Eight, é um curta-metragem de 1998) Daldry já coleciona indicações para 18 estatuetas.

Além das duas em que concorre este ano, foram três em Billy Elliot (melhor diretor, ator e atriz coadjuvante), oito em As Horas (melhor filme, diretor, ator, atriz, figurino, edição, roteiro adaptado e trilha sonora) e cinco em O Leitor (melhor filme, atriz, diretor, roteiro adaptado e fotografia).