Box reúne todo o ‘Ciclo da Cana’

Lançamento comemora os 80 anos de lançamento da narrativa de estreia de José Lins do Rego.

Publicada pela José Olympio em abril, com tiragem limitada de 500 exemplares, a caixa Ciclo da Cana-de-Açúcar (a partir de R$ 100,00) reúne os cinco romances que moteiam o cessar das moendas dos engenhos nordestinos.

Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Banguê (1934), Usina (1936) e Fogo Morto (1943) são compilados em comemoração aos 80 anos de lançamento da narrativa de estreia de José Lins do Rego, que chegou aos cinemas em 1965 e, nas palavras do colega Gylberto Freire, iniciou um "novo romance em língua portuguesa".

"O frescor desta novela, curta, escrita em poucos atos, mas capaz de flagrar tantas cenas saborosas de um mundo que se esvaiu, o dos engenhos canavieiros, é algo notável", opina Bernardo Borges Buarque de Hollanda.

"Como observou João Ribeiro, em crítica de época, Menino de Engenho inovou com a temática da sexualidade infantil, tocando ficcionalmente em temas que eram na época tratados por teóricos como Sigmund Freud. Sua dicção telúrica e sua prosa, por assim dizer, cinematográfica deram uma fluidez à narrativa regionalista, até então estanque, fixada em uma moldura por demais tributária do meio geográfico".

O romance foi um dos alvos da controvérsia levantada pela recém-descoberta correspondência entre Carlos Drummond de Andrade e Cyro dos Anjos, na qual o poeta mineiro denuncia que escritores como Zé Lins e Rachel de Queiroz "não sabem escrever".

"Os diversos grupos que hoje enfeixam a história do movimento modernista tiveram, ao longo do tempo, pontos de confluência e de divergência, de aproximação e de distanciamento. Fazia parte das necessidades de determinados círculos literários que apareciam: afirma-se em detrimento de outras correntes, muitas delas separadas pelas dimensões continentais do país", abranda Bernardo de Hollanda.

"Se estas críticas foram feitas, vale lembrar a crônica de Drummond publicada no dia seguinte à morte de José Lins do Rego, em setembro de 1957. Nela o chama de um autor fabuloso, com o duplo sentido de um escritor com grande imaginação e de um romancista de talento extraordinário. Foi a última palavra de Drummond sobre Zé Lins" .

Bernardo atenta, também, para uma porção ainda oculta da obra de Zé Lins: "Nos colégios, apenas sua obra sobre o mundo canavieiro é abordada. É o caso de sugerir que se leiam igualmente romances que retratam literariamente outras paisagens, inclusive o universo urbano do Rio de Janeiro".