Flávio Tavares sai da disputa

Desistencia do artista se dá em meio a uma discussão acerca das campanhas, que já estão sendo articuladas antes da abertura do edital.

O artista plástico Flávio Tavares anunciou ontem à reportagem a retirada de sua candidatura à cadeira nº 14 da Academia Paraibana de Letras (APL), vaga deixada após a morte do poeta Ronaldo Cunha Lima.

A exemplo do que ocorreu em 2008, quando Flávio Tavares saiu da disputa pela cadeira hoje ocupada por José Nêumanne Pinto, o artista abdicou do pleito de sucessão, que agora orbita em torno de postulantes como Antônio Mariano e José Bezerra Filho.

A declaração veio na esteira de uma discussão acerca das campanhas que já estão sendo articuladas antes da abertura do edital para o posto, que ocorrerá no próximo mês, após solenidade em homenagem à memória de Ronaldo.

Segundo Flávio Tavares, seu ingresso no páreo se deu por sugestão dos próprios acadêmicos e que ele, "de maneira alguma quis faltar com o respeito aos sentimentos da família Cunha Lima".

"Senti-me honrado e gratificado com os telefonemas que recebi e, por causa disso, conversei com alguns acadêmicos na ocasião do lançamento do livro de Hildeberto Barbosa Filho", conta Flávio Tavares, referindo-se à sessão de autógrafos que reuniu parte dos imortais na semana passada.

"Mas depois desta animosidade, não há a menor possibilidade de eu conversar novamente sobre isso", justifica, mostrando-se decepcionado com a postura da APL que, em suas palavras, "beira a esquizofrenia": "Só posso pensar que isso faz parte de um jogo maquiavélico em que artistas são confundidos com mocinhos e bandidos, uma manobra de colocar em evidência os maus, que estão querendo a vaga, e os bons, que ficam calados à espreita deste pódio olímpico".

O artista plástico, que comemorou 50 anos de carreira ano passado, também expressou sua postura em relação ao título de "imortal": "Imortal, para mim, é vampiro. Não é através da Academia que você vai se tornar um imortal. O papel do artista é fazer arte. E eu já estou dentro da APL com dois quadros", diz Tavares, autor das telas em homenagem a Augusto dos Anjos e Ariano Suassuna que a APL ostenta em sua sede.

Outro fator que levou à desistência de Flávio Tavares a consorciar-se à APL foi o estado de saúde delicado de seu irmão mais novo, o jornalista Carlos Tavares, do Correio Braziliense.

"Estou numa fase sentimental muito difícil e me perturbo muito facilmente. Eu agradeço a lembrança mas não quero fazer parte deste jogo da liturgia acadêmica".