Festival mesclou jovens e veteranos

Além de unir gerações de escritores, evento, foi marcado por discussões em torno dos centenários de Nelson Rodrigues e Jorge Amado.

Na sexta-feira, as experimentações literárias de duas gerações distintas ganharam espaço nas conversas entre os escritores: João Paulo Cuenca e Tatiana Salem Levy, escritores que estão juntos no sumário da Granta em Português, lançada este ano, falaram sobre seu recente convívio com a literatura e debateram sobre a questão da ‘verdade na ficção’.

"A verdade não está no que eu estou escrevendo", afirmou João Paulo Cuenca, visivelmente mais à vontade com os holofotes que a sua retraída interlocutora, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura deste ano. "Eu não escrevo para obter respostas. Eu não tenho sequer a esperança de chegar a uma resposta", completou Cuenca, que relacionou o ofício do escritor com o ato de formular perguntas.

Tatiana Salem Levy contrapôs: "Eu sou mais ingênua que ele. Preciso acreditar em algumas coisas para escrever. Para mim, não existe uma única verdade e escrever é uma forma de tentar chegar a essas verdades".

A mesa a seguir, uma das mais divertidas do evento, foi embalada pelo carisma meio gauche de Reinaldo Moraes, autor de Pornopopeia (2009). A espontaneidade de Moraes não conheceu limites, desde o momento em que admitiu usar o que chamou de "cigarrinho de artista" como instrumento de trabalho, até quando justificou o fato de ter ficado quase 30 anos sem publicar romances (intervalo entre Tanto Faz, 1981, e Pornopopeia) por força dos hábitos desregrados de uma vida que se confunde com a dos seus personagens

"Eu só encontro uma explicação (para o hiato): casei duas vezes, tive vários bicos, e enquanto eu não estava enrolado com a família ou com o trabalho eu estava na gandaia", confessou o autor.

Sérgio Sant’Anna também colaborou com o anedotário narrando, de cabo a rabo, seu O Livro de Praga (2011), romance derivado de sua participação no projeto ‘Amores expressos’, da Cia. das Letras: "Eu fiquei hospedado em um hotel maravilhoso na frente do Rio Vltava e passava o dia andando pela cidade", contou Sant’Anna, que se disse incapaz de atender à proposta da coleção de escrever "uma história de amor" e escreveu uma série de contos com relatos cheios de aventuras sexuais, as quais o ficcionista chamava de "transações".

O sábado, último dia do evento, foi marcado por discussões em torno dos centenários de Nelson Rodrigues e Jorge Amado e pela participação de Ana Miranda, que comentou obras como Boca do Inferno (1989), seu romance histórico sobre Gregório de Matos.

Ana Miranda voltou na mesa que encerrou a Flipipa e leu uma paródia do poema ‘Canção do Exílio’, feita por Luís Fernado Veríssimo. O escritor era a grande atração do sábado e, por sua ausência, acabou se tornando o principal homenageado do evento.