Olhar curioso pela cidade

Artista visual Íris Helena lança ‘olhar sobre a cidade’ e abre sua terceira exposição individual, que fica em cartaz na biblioteca do Espaço Cultural.

A confissão que se presta a título da terceira individual da carreira de Íris Helena (Caminho por Uma Rua que Passa por Muitos Países) é quase um registro do percurso que a artista fez ano passado, descobrindo vários Brasis dentro de um só.

"O ano de 2012 foi muito produtivo para minha carreira e para a minha vida. Participei do programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural e graças a ele pude conhecer outras regiões do país e inúmeros artistas brasileiros", conta a jovem, que participa amanhã da abertura da exposição, em cartaz até 31 de janeiro na biblioteca do Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa.

Composta por 15 peças (entre fotografias emolduradas, fotografias impressas em pos-its – técnica que é sua marca pessoal -, objeto fotográfico, livro de artista e vídeo), a mostra é, segundo Íris Helena, um desdobramento oriundo de um tema clássico em sua arte: o olhar sobre a cidade.

"O meu olhar para cidade é sempre de curiosidade", diz ela. "Passando pelos mesmos lugares sempre vejo coisas que eu nunca havia reparado. É como se a cidade sempre se apresentasse diferente, o movimento nunca se faz igual. Isso me fascina profundamente".

O diálogo com a paisagem urbana foi inspirado por leituras como o sugestivo As Cidades Invisíveis (1972), do italiano Ítalo Calvino (1923-1985): "A leitura foi o pontapé inicial do processo criativo. Começo a ler pelo prazer da leitura, e quando me dou conta, já estou rabiscando anotações num caderno", afirma Íris Helena, que também colocou as engrenagens da criação para funcionarem a partir da análise de autores como Marco Polo (1254-1324) e Xavier de Maistre (1763-1852).

Prestes a iniciar o mestrado em artes visuais na Universidade de Brasília (UnB), a artista elogia alguns pares de sua geração, como a dupla Dani & Cris Calaço, e critica a política cultural do Estado: "Quase não temos eventos de reflexão e crítica artística, quase não fazemos intercâmbio de pesquisadores e artistas para fazermos essa troca, temos pouquíssimos salões e prêmios de incentivo em artes visuais. Assim fica muito mais difícil trabalhar".