A cabocla virou zulusa

Filha de Oneide Bastos, cantora Patrícia Bastos foi indicada em duas categorias do Prêmio da Música Brasileira por seu álbum ‘Eu Sou Cabocla’.

Indicada em duas categorias do Prêmio da Música Brasileira por seu álbum anterior, Eu Sou Cabocla (2009), Patrícia Bastos faz, no Amapá, um trabalho de garimpagem musical similar ao que faz atualmente, na Paraíba, a sua colega de selo Socorro Lira.

Zulusa (Independente, R$ 25), quinto álbum da intérprete amapense distribuído nacionalmente pela Tratore, registra o encontro das tradições musicais indígena, africana e europeia. Influências de um percurso musical que, no caso de Patrícia Bastos, começou no berço.

Filha de Oneide Bastos, cresceu em uma casa livre de fronteiras musicais. "Além de minha mãe, meu pai era um pesquisador musical que tinha verdadeiro amor pela música", diz ela. "Cresci ouvindo os vinis que ele trazia para casa, desde os de choro, samba e seresta até os que ele conseguia na fronteira com a Guiana (Francesa), de cúmbia e zouk".

Começando a carreira como cantora de bailes nos quais repassava o repertório herdado dos pais, Patrícia Bastos iniciou um trabalho de pesquisa e intercâmbio com outros artistas, procedimento que culminou em Zulusa, que reúne a colaboração de vários compositores, a exemplo de Dante Ozzetti (irmão de Ná Ozzetti), que assina a produção do disco junto com Du Moreira.

"Depois do Pixinguinha (Eu Sou Cabocla ganho o prêmio Pixinguinha, da Funarte), senti a necessidade de fazer algo voltado para os ritmos amazônicos e escolher um repertório baseado neste neologismo: zulusa", explica Patrícia, referindo-se à aglutinação de ‘zulu’ e ‘lusa’. "Chamei o Dante Ozzeti, que vem trabalhando comigo desde 2008, depois que conheci os trabalhos que ele fazia com a Ceumar e a Ná Ozzeti. Viajamos bastante pelo Amapá, conhecendo a nossa cultura, pela qual ele ficou super interessado".

Luiz Tatit participou do projeto com ‘Causou’, canção escrita a quatro mãos com Dante que introduziu o cacicó, outro ritmo típido da região Norte, na concepção do disco: "O resultado foi maravilhoso. O cacicó, como o batuque e o marabaixo, não são muito divulgados aqui. Tentei tocá-los de uma forma mais moderna. Cantar minha aldeia, mas cantá-la de forma universal".

TECNOBREGA
Para Patrícia, a atenção que o mercado fonográfico brasileiro está dando para o tecnobrega é importante pois oferece uma "porta" para que as pessoas conheçam gêneros que vão além do gênero de artistas como Gaby Amarantos: "Eu não tenho preconceito com essa música porque cresci ouvindo isso", admite. "O tecnobrega faz mexer, e a gente daqui adora festa, adora dançar. É importante, mas há algo além desta porta, se você entrar. Tem também o carimbó, o boi, a MPB, a bossa nova, tem de tudo", exalta.

E afirma sua identidade, com uma certa acidez: "Eu não preciso colocar uma árvore de Natal na cabeça para dizer que sou do Norte".