Obra publicará fotos inéditas de Neruda

Fotojornalista carioca Evandro Teixeira fala ao JORNAL DA PARAÍBA sobre o seu livro, que traz registros fotográficos inéditos do escritor Pablo Neruda.

Há 40 anos, na capital chilena, em plena ditadura de Pinochet, o fotojornalista carioca Evandro Teixeira, munido com sua bem-escondida Laica a tiracolo, driblou cerca de mil jornalistas do mundo submetidos ao toque de recolher quando descobriu que Pablo Neruda, muito doente, tinha sido levado da sua casa na Isla Negra para o hospital Santa Maria.

Ele foi o único a clicar o poeta morto, acompanhou o velório e o enterro, onde uma multidão acompanhava o cortejo até o cemitério.

Esses registros praticamente inéditos farão parte do livro Vou Viver – Um Tributo a Pablo Neruda em fotos de Evandro Teixeira, que foi aprovado recentemente pela Lei Rouanet, em proposta formatada através da paraibana Casa das Artes Visuais (CAV).

“Na época, o Jornal do Brasil (veículo que representava) era censurado em tudo”, revela Evandro Teixeira, em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA. “Uma ou outra foto foi publicada. Diria que todo material é inédito”.

De acordo com o fotógrafo, ele foi barrado pelo diretor do hospital, que passava apenas boletins médicos três vezes ao dia. Quando soube que Neruda estava morto, não dormiu à noite e fez campana nos arredores do hospital no começo da manhã do dia seguinte.

“Entrei por uma portinha no fundo do hospital. Desci e o corpo do Neruda estava em uma maca, com dona Matilda (a mulher do poeta) ao lado”, relembra, apresentando-se para ela como o fotógrafo que esteve na casa de Jorge Amado quando o casal o visitou na Bahia. “Jorge era nosso irmão! Fique à vontade porque é muito importante que você esteja aqui”, retribuia a viúva.

Para o fotógrafo brasileiro, foi uma honra e uma tristeza ao mesmo tempo acompanhar o corpo do Nobel de Literatura sendo arrumado para o velório, que aconteceu em Isla Negra, a casa onde vivera e que atualmente é um museu em memória do poeta.

“Em uma subida tinha um riacho onde os militares destruíram a ponte exatamente para não passarmos”, conta Evandro, fazendo com quem estava no cortejo uma ponte improvisada com tábuas, portas e pedaços de madeira. “Chegando lá, a casa estava completamente destruída”.

Depois do pequeno velório, o fotógrafo lembra que uma multidão acompanhou o caixão até o cemitério, onde repetiam os versos do poeta – “Não estás morto, não estás morto, estás somente dormindo, como dormem as rosas em seus talhos de espinho”.

Sobre o livro Vou Viver, Evandro Teixeira selecionará entre 70 a 80 fotografias entre centenas que registrou na época, aos prantos. “Eu apertei o dedo mesmo!”, afirma. “O livro será intercalado com frases e poemas de Neruda, além do meu depoimento”.

O fotógrafo também foi convidado para uma exposição no Chile, relembrando as quatro décadas sem o escritor.

EXUMAÇÃO
No último dia 8, a morte de Pablo Neruda tomou novas dimensões após a exumação dos restos mortais do escritor, que busca determinar se ele morreu em decorrência do câncer de próstata, como afirma o atestado, ou foi envenenado, como denuncia seu ex-motorista, Manuel Araya.

“É um momento muito importante, pois Neruda morreu inesperadamente”, afirma Evandro. “Teremos novas revelações com a exumação”.

Além do livro de Evandro Teixeira, outra obra com sinal verde pela Rouanet que a CAV qualificou é Knight Paintings, do também carioca Renan Capeda, que conta com fotos realizadas em regiões como o Sertão paraibano.

A galeria já abrigou mostras de ambos os fotógrafos: Fatos em Fotos, de Teixeira, em novembro de 2011, e Pinceladas de Luz, de Capeda, em outubro do ano passado. “Tudo começou com as exposições”, conta a carioca radicada na Paraíba Manu Dsouza, responsável pelos projetos. “Eles se queixavam das dificuldades de se conseguir uma produtora para desenvolver os trabalhos”.

Os livros estão em processo de capitação de recursos e têm previsão de lançamento para 2014, com direito a exposição que passará pela Paraíba.