Grupo Ser Tão Teatro estreia nova peça no mês de fevereiro

Paraibanos preparam ‘Alegria de Náufragos’, baseada livremente em Tchekhov.

À deriva no mar de possibilidades, o horizonte é a salvação onde pode-se avistar uma ilha ou um navio para o resgate dos náufragos. No caso do grupo Ser Tão Teatro, o novo passo – ou seria remada? – encontra-se na próxima montagem do grupo paraibano, baseada livremente no conto Uma História Enfadonha, escrito em 1888 pelo russo Anton P. Tchekhov (1860-1904).

Com o título provisório de Alegria de Náufragos, a peça tem previsão de estreia para o mês de fevereiro, na sede da companhia, localizada no Largo da Igreja Frei Pedro Gonçalves, no Centro Histórico de João Pessoa.

“Esse ano, o Ser Tão vai passando por várias modificações e saídas, tanto na estrutura física como na estética e em seus integrantes, que por seleção natural e escolhas pessoais tem agora seu número reduzido, mas sempre firme e consistente. A ficha técnica ainda não está concluída, mas já temos alguns nomes que casam com a nossa proposta de trabalho”, explica o ator Thardelly Lima.

O artista conta que a pesquisa e elaboração coletiva para a nova produção começou há quase um ano, quando eles ainda estavam circulando com o premiado Flor de Macambira. “Agora não é teatro de rua. É palco”, frisa. “Chegou o momento de não depender mais da Flor…, mesmo que essa seja uma solução. Não vamos negar as nossas origens, a cultura popular ou o teatro de rua, mas somos um grupo de teatro”, justifica. “Vamos falar o que a gente pensa, colocar o dedo na ferida e na fratura exposta”.

O elenco de Alegria de Náufragos é bem reduzido em virtude de outros membros terem “abandonado o barco”. Além de Thardelly, entra em cena Rafael Guedes e a atriz convidada Celly Farias. O trio faz o processo colaborativo do texto dramático do novo projeto inspirado no conto.

“A encenação tem de fora os olhares colaborativos de César Ferrario, do Clows de Shakespeare (RN), e Giordano Casto, do Magiluth (PE)”, credita. “Importante também lembrar que trabalhamos um período com Antônio Deol (encenação) Ana Marinho (adaptando o conto) e Joyce Barbosa (preparação corporal) nesse primeiro momento”.

A trama do conto russo traz em seu centro um emérito professor que se depara, ao final da sua existência, com uma inevitável análise de si mesmo. Com currículo impecável, tendo constituído família e denominado nas palavra do próprio autor como um “homem feliz”, gradativamente ele é submetido a um doloroso processo de falência interior, onde nos últimos instantes o professor começa a adquirir clareza sobre o lado patético da sociedade e suas instituições.

“Tchekhov é bastante atual. Está casando com tudo que a gente queria falar. Reflete os sonhos futuros e os desejos que não se realizam”, aponta o ator. “Nosso texto ainda está em aberto. Ainda estamos levantando cenas e montando o quebra-cabeças”.

INTIMISTA

Viabilizado através do Fundo Municipal de Cultura (FMC) 2013, Alegria de Náufragos será encenada de maneira intimista, num palco de três lados, descortinando todo o processo dramático e técnico: além de atuar, Thardelly Lima, Rafael Guedes e Celly Freitas também vão operar a iluminação e o som da peça, tudo à vista do público.

“Será bem intimista. Queremos fugir do processo explosivo e exagerado do teatro de rua”, analisa. “Essa será a segunda montagem para palco do Ser Tão, sendo esta Alegria de Náufragos concebida para espaços alternativos, mas adaptável para palco italiano ou qualquer espaço controlado”.
No repertório da trupe paraibana, ainda poderá ser vista no alto-mar dramatúrgico o espetáculo Flor de Macambira, que ainda irá circular nesse primeiro semestre.