WJ Solha faz 75 anos e comenta momentos marcantes de sua arte

Radicado na Paraíba há mais de 50 anos, o artista, vencedor do prêmio Fernando Chinaglia, fez literatura, teatro, cinema e artes plásticas.  

Waldemar José Solha, ou WJ Solha, chega aos 75 anos neste sábado (14). Nascido em Sorocaba, no interior de São Paulo, está na Paraíba desde o início dos anos 1960, quando, aprovado num concurso do Banco do Brasil, foi nomeado para a agência de Pombal. Escritor, dramaturgo, artista plástico, ator – Solha é um dos mais importantes artistas em atividade na Paraíba.

Na virada da década de 1960 para a de 1970, foi produtor e ator de “O Salário da Morte”, primeiro longa-metragem genuinamente paraibano. Em 1974, com o romance “Israel Rêmora”, venceu o prêmio Fernando Chinaglia. Em 1979, escreveu o texto da “Cantata Para Alagamar”, musicado por José Alberto Kaplan. No livro e na peça “A Verdadeira Estória de Jesus”, defendeu a tese de que Cristo nunca existiu. Sua novela “A Canga” foi filmada por Marcus Villar, com Solha no papel principal. Em 2013, fez o papel de um velho coronel em “O Som ao Redor”, elogiadíssimo filme de Kleber Mendonça.

Às vésperas de completar 75 anos, WJ Solha está fazendo um brilhante exercício de memorialismo. No Facebook, publica diariamente textos que chama de "Cenas Indeléveis", nos quais conta histórias de sua vida e de sua arte. 

Para marcar seus 75 anos, o JORNAL DA PARAÍBA pediu que Solha comentasse cinco momentos de sua trajetória. É o que se segue.

Solha por ele mesmo

"Israel Rêmora", romance
Extremamente marcante. Pela primeira vez eu chegava, com esse meu primeiro romance, a um trabalho perfeitamente realizado. Com o aval de uma comissão julgadora da pesada – a do Prêmio Fernando Chinaglia 1974 – vi-o publicado por uma grande editora, a Record, do Rio, e – em seguida – receber uma fortuna crítica invejável. Quanta tentativa e erro pra chegar ali!

"A Verdadeira Estória de Jesus", teatro
Kubrick não aceitou que Arthur Clarke fizesse – de cara – um roteiro para “2001”. Pediu-lhe, primeiro, um romance, a fim de que a narrativa alcançasse mais densidade. Involuntariamente, fiz isso com a minha montagem de “A Verdadeira Estória”, que teve estreia no Teatro Santa Roza em 1988: tudo começara com um pequeno ensaio sobre o que havia de Platão nos Evangelhos, feito ainda em Pombal. Depois vieram pesquisas na UFPb, em João Pessoa, a partir das quais escrevi uma primeira peça, que não foi montada, e que transformei no romance publicado pela Ática em 79, que só então adaptei com a forma que levei ao palco, apoiado num elenco, iluminador e maquiador perfeitos, música de Eli-Eri Moura, coreografia de Stella Paula.

"O Som ao Redor", cinema
Não queria, mais, trabalhar como ator em cinema, porém o soberbo roteiro de Kleber Mendonça Filho derrubou minha resistência. Como “Israel Rêmora” foi meu primeiro trabalho perfeitamente realizado, o personagem que fiz nesse longa pernambucano – mesmo levando em conta o apaixonante trabalho, bem anterior, como o camponês do curta “A Canga”, de Marcus Villar, baseado em meu livro homônimo – foi o mais detalhado, estudado, burilado, graças à criação magistral de Kleber e aos diretores de elenco – Leonardo Macca e Amanda Gabriel.

"Cantata pra Alagamar", peça musical
Pela primeira vez eu escrevia versos de cordel, interrompidos por martelos agalopados, que eram desmoralizados por cocos-de-roda e gemedeiras, tudo pra contar uma luta pela reforma agrária através da não-violência, que o fabuloso personagem Dom José Maria Pires fora buscar em Gandhi. Imagine o que foi – pela primeira vez – ver esse meu texto (musicado por Kaplan) cantado na capela da Ordem Terceira da Igreja de São Francisco por grandes solistas e pelo coral da UFPb, narrado e vivido por atores como Fernando Teixeira, João Costa, Ubiratan de Assis e Buda Lira, a plateia lotada contando com presença de Dom Fragoso, Dom Ivo Loscheiter e Dom Hélder Câmara.

WJ Solha faz 75 anos e comenta momentos marcantes de sua arteHomenagem a Shakespeare, pintura
Sou fascinado pelo bardo. Daí que me decidi a fazer para ele o que Miguelângelo fizera para o Gênesis no teto da Sistina: glorificar seus principais momentos em quadros isolados que – fantasticamente – ganhariam, juntos, uma unidade enorme, fazendo o espectador sentir vontade de cair – espiritualmente – de joelhos ante a imensa imaginação daquele que foi o que melhor compreendeu o ser humano.