Bráulio Bessa fala sobre trajetória e carinho dos fãs: ‘não mereço’

Com participação fixa em programa da Rede Globo, poeta vem conquistando o país.

"Deixa esse amor para outra pessoa que mereça, porque eu não mereço". É assim que o poeta cearense Bráulio Bessa comenta como reage ao perceber a idolatria de pessoas que ele nunca viu. Com o conteúdo mais visto do portal Gshow, da Rede Globo, fruto de suas participações fixas semanais no programa ‘Encontro com Fátima Bernardes’, ele conta, em entrevista exclusiva ao JORNAL DA PARAÍBA, que prefere não chamar os admiradores de fãs, mas de ‘pessoas que o querem bem’.

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E são justamente essas pessoas, atraídas pelos poemas em cordel declamados por Bráulio, que buscam demonstrar o apreço pelo poeta de maneira intensa, sobretudo na internet. A constatação foi do próprio artista, que, para investigar o quanto impactava a vida de seus seguidores, decidiu publicar em uma de suas redes sociais a frase “se algum poema meu já lhe fez bem, me conte a sua história”.

O resultado impressionou Bráulio, que esperava ler 200 ou 300 comentários, mas se deparou com mais de 6,4 mil depoimentos em menos de 24 horas. “Eu fiquei assustado com aquilo”, revela. "Foi naquele momento em que eu entendi a reação das pessoas que chegavam chorando dizendo que me amava", completa o poeta, que sonhava em trabalhar com cultura desde os 14 anos.

Foi nesta idade que ele teve contato com a obra de Patativa do Assaré, autor cearense que o inspirou, fazendo nascer a paixão pela poesia e o desejo em viver de cultura. “Eu lembro que fiquei muito impressionado em ver como um poeta, numa cidade pequena, podia falar sobre amor, sobre paixão, de saudade, mas também podia falar de uma problemática social muito forte através da poesia”, cita ele, sobre temas como reforma agrária, desenvolvimento social, desigualdade e denúncias de corrupção que são abordados no universo de Patativa. 

Apesar de sua fama crescente, Bráulio realata, com muito bom humor, que ainda tem certo receio em aceitar que sua importância na vida das ‘pessoas que o querem bem’.  “Quando alguém chega para mim dizendo ‘você não sabe da sua importância para mim’ e eu digo logo ‘e eu nem quero saber para não ficar besta’”, revela aos risos. 

Início árduo

Bráulio explica que seu intuito inicial era divulgar a cultura popupar nordestina na internet, antes mesmo de expôr seus trabalhos autorais, e que quase desistiu por causa da realidade financeira difícil que sua família enfrentava. "Quando eu me dei conta, meu avô tinha morrido e eu via minha mãe costurar até 3h da manhã para sustentar os três meninos”, conta o poeta sobre o momento em que sentiu que precisava agir para reverter aquela situação.

Buscando uma profissão que desse dinheiro, Bráulio cursou Análise de Sistemas e deixou de escrever, abandonando o sonho de viver da poesia. “Eu desacreditei do meu sonho que era de escrever um livro”, lembra ele. “Eu não queria saber como iria ser minha vida, eu queria saber o quanto eu iria ganhar”, revela, dizendo que só ‘caiu na real’ e largou o curso no último semestre para, enfim, poder trabalhar com aquilo que sempre quis: as emoções e as palavras.

Quando questionado sobre sua poesia, Bráulio garante não saber analisar seu dom. “Eu sempre falo muito de uma construção poética”, diz, indagando as explicações alegóricas de poetas sobre como fazer poesia. “Eu me construí poeta pela vontade que eu tive de expressar sentimentos através da poesia e por transformar a sensibilidade que eu tinha dentro de mim em uma linguagem literária. Se isso é um dom ou não, eu não sei”, finaliza.