Christiane Torloni abre o jogo sobre carreira e personagens marcantes

Atriz apresenta em João Pessoa espetáculo ‘Master Class’, sobre Maria Callas.

Divulgação
Christiane Torloni abre o jogo sobre carreira e personagens marcantes
Atriz Christiane Torloni, em imagem de divulgação do espetáculo ‘Master Class’, sobre Maria Callas

Christiane Torloni carrega no sangue a arte de atuar. Filha dos atores Matheus e Monah Delacy, fundadores do Teatro de Arena, importante grupo teatral brasileiro das décadas de 50 e 60, ela cultivou desde cedo a paixão pelos palcos e transformou o talento natural na vocação que resultaria em uma carreira longeva e de sucesso. “O teatro foi meu primeiro playground”, conta a atriz em entrevista por e-mail ao JORNAL DA PARAÍBA.

E é neste mesmo “playground” que marcou sua infância que Christiane continua a “brincar” de se transformar. Em quase 40 anos, ela já foi Salomé, Joana D’arc e até Virgem Maria. Agora, surge na pele de uma das maiores artistas de todos os tempos: a controversa Maria Callas. A personagem é a protagonista de ‘Master Class’, espetáculo que chega a João Pessoa para apresentações nos dias 19, 20 e 21 de janeiro no Teatro Paulo Pontes.

“Somos mulheres, românticas. E uma questão que talvez seja a que mais me inspire é que ela não tinha uma relação com alguém que a desafiasse. Era Callas que desafiava Callas. Isso é uma outra maneira de ver tudo. A maioria das pessoas tem o desafio de fora para dentro. Ela não, vinha de dentro dela”, revela Christiane sobre o ídolo que, de certa forma, tornou-se parte dela desde 2015, quando o espetáculo começou a ser encenado pelo país.

Maria Anna Sofia Cecília Kalogeropoulos ou simplesmente Maria Callas marcou para sempre a música erudita, sendo considerada o mito da ópera do século XX. Destoando do que era comum em apresentações antes de sua estreia, no final dos anos 40, em que a afinação se sobrepunha às emoções das personagens, Callas buscou trazer o sentimento verdadeiro das figuras a que deu vida. Isso mesmo que fosse necessário sacrificar a harmonia das notas para fazer o público sentir o drama real da história.

“A maneira como ela entendeu as personagens dela, o olhar era como o de um pintor que te faz olhar o mundo de outra maneira”, comenta Christiane, ao lembrar da ideia embrionária de interpretar Callas, que surgiu há mais ou menos 30 anos. Segundo a atriz, na época, ela e o diretor José Possi Neto, que assina a direção do espetáculo, assistiam às apresentações da lendária “La Divina” em gravações e se encantavam com cada movimento dela em cena.

“Ela entendia tanto de música quanto os maestros que a regiam. E por isso ela pôde desfrutar deles e eles dela como ninguém. Ela não era só uma cantora interessada em cantar notas”, analisa Christiane sobre o legado da diva que morreu há pouco mais de 40 anos de um infarto fulminante. Muitos, inclusive, consideram a morte de Callas como decorrente da decepção amorosa causada pelo término do relacionamento com o bilionário Aristóteles Onassis, amor de sua vida, o que serviu para atestar ainda mais sua intensidade também fora dos palcos.

Christiane Torloni abre o jogo sobre carreira e personagens marcantes
Christiane caracterizada como Maria Callas, personagem do espetáculo ‘Master Class’

Dedicação aos papéis

Para atuar como Maria Callas, Christiane se entregou. Além de procurar entender mais sobre a diva erudita, analisou, ainda, sua maneira única de interpretar clássicos e até estudou canto. “Mesmo que você nunca cante em um musical, é importante para formação. Inclusive para entender o universo das orientações que ela traz aos cantores”, explica a atriz, fazendo alusão ao foco do espetáculo: o período em que a grande soprano ministrou aulas na Julliard School of Music de Nova York, nos anos 70, guiando novos talentos.

E a tamanha dedicação de Christiane, fruto de sua devoção ao ofício de atuar aprendida em casa, é o que se reflete nas camadas densas que suas personagens, como Callas, trazem. “Meus pais me ensinaram a ter disciplina. Um ator sem disciplina não consegue levar a carreira adiante. E isso foi retransmitido ao Leo”, frisa ela sobre os ensinamentos que tenta passar ao filho, o também ator Leonardo Carvalho.

Um dos que reconheceram a disciplina e o amor à arte de Christiane foi o autor de novelas Manoel Carlos, tanto que ele decidiu imortalizá-la como uma de suas Helenas em ‘Mulheres apaixonadas’ (2003). Em entrevista recente ao programa ‘Os donos da história’, do canal Viva, ele lembrou que quando a atriz soube que iria interpretar a célebre personagem, viajou para Nova Iorque, onde ele estava, apenas para saber detalhes da novela.

Aliás, sobre a obra, um dos pontos altos da história televisiva de Christiane, ela traz somente boas lembranças. “Ser uma Helena é um prêmio porque o Maneco fica vendo você ao longo do tempo, fica te esperando. A ideia é que a gente vá melhorando, se expondo para as emoções, se expondo para os personagens e ele está lá olhando. Foi incrível, ele me contou mais da minha carreira do que eu sabia em detalhes de avaliação mesmo”, recorda.

E não foi só a Helena que marcou os telespectadores e apaixonados por teledramaturgia. Christiane é lembrada da mesma forma por figuras de temperamento forte como a mimada Jô Penteado, de ‘A gata comeu’ (1985), a complexa Dinah, de ‘A viagem’ (1993), a socialite Haydée, de ‘América’ (2005) e a vilã cômica Tereza Cristina, de ‘Fina estampa’ (2011).  

“Televisão é incrível porque você aprende fazendo. Não tive curso melhor de formação artística do que a minha experiência na TV Globo. Minha trajetória profissional foi acontecendo de forma natural. Os trabalhos foram surgindo e eu tentei aproveitar ao máximo as oportunidades que surgiram”, diz ela ao olhar para trás e refletir sobre a construção independente de sua carreira, longe das asas dos pais.

Mais uma vilã

Depois do sucesso da novela ‘Velho Chico’ (2016), em que interpretou a cantora de origem espanhola Iolanda de Sá Ribeiro, Christiane já se prepara para voltar às telinhas. Ela está confirmada para a próxima novela das 19h, ‘Verão 90 graus’, que vai substituir ‘Deus salve o rei’. De acordo com a atriz, o trabalho será dirigido por Jorge Fernando e as gravações devem começar em maio.

“A trama se passa nos anos 1980 e vou viver Mercedes, uma adorável vilã que é dona de uma gravadora e está totalmente conectada com o mundo da música. A novela tem uma pesquisa muito boa sobre todos esses fatos que aconteceram entre os anos 1980 e 90, um momento de ouro no Rio de Janeiro. Vou fazer par romântico com Alexandre Borges. Vai ser uma novela solar, com muita referência musical”, finaliza ela sobre o próximo desafio.

Serviço
Master Class
Onde: Teatro Paulo Pontes, Rua Abdias Gomes, 800, Tambauzinho, João Pessoa
Quando: 19 e 20 de janeiro, às 20h, e 21 de janeiro, às 18h
Ingresso: R$ 100 (inteira) R$ 50 (meia)
Vendas: Outer, no Manaíra Shopping, e site OntIckets