No Dia do Cinema Brasileiro, uma lista com filmes que moldaram o cinema nacional

Conheça alguns longas que conquistaram seu lugar no rol de clássicos do cinema nacional.

cinema brasileiro
Cena de Cabra marcado pra morrer (1984).

Nesta terça-feira (19) é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro. A data foi escolhida por causa da primeira gravação realizada em território brasileiro: em 1898, o cinegrafista italiano Affonso Segretto filmou sua chegada ao país ao desembarcar no Rio de Janeiro. A gravação ficou conhecida como Uma vista da Baia de Guanabara e eternizou a data de celebração ao cinema nacional.

O JORNAL DA PARAÍBA preparou uma lista com dez filmes indispensáveis para conhecer o cinema nacional, que durante décadas foi vítima de preconceitos e desconhecimento. Longe de definir um cânone de produções brasileiras de qualidade, a lista aponta alguns filmes que, ao longo dos anos, conquistaram seu lugar no rol de clássicos do cinema e indicam a riqueza da expressão artística nacional presente em outros inúmeros filmes – e ainda revelam a importante contribuição paraibana à produção cinematográfica do país. Confira:

À meia noite levarei sua alma, de José Mojica Marins (1964)

O cinema de terror nacional é comumente esquecido em listas como essa – o que é uma pena, considerando filmes como À meia noite levarei sua alma. Protagonizado e dirigido por Mojica Marins (o famoso Zé do Caixão), o longa conta a história de um coveiro obcecado em criar um filho perfeito para perpetuar seu legado. Produzido com orçamento limitadíssimo, À meia noite levarei sua alma sobreviveu ao teste do tempo e ainda consegue provocar calafrios nos espectadores.

https://www.youtube.com/watch?v=gtqpVNRGr1w

Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho (1984)

O semidocumentário de Eduardo Coutinho sobre o líder camponês paraibano João Pedro Teixeira começou a ser filmado na década de 60, mas foi interrompido em 1964 em razão do golpe militar. Vários membros da equipe foram perseguidos durante o regime. Após a queda dos militares, o filme voltou a ser produzido com a participação dos camponeses envolvidos nas filmagens originais e da viúva de João Pedro Teixeira, Elizabeth Altino Teixeira. O documentário é reconhecido como um símbolo de resistência das lutas camponesas no Sertão nordestino e um registro do período militar no Brasil.

https://www.youtube.com/watch?v=rTLtZZnKuQc

Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (2002)

Um dos filmes nacionais mais conhecidos, Cidade de Deus – que recebeu quatro indicações ao Oscar – ajudou a estabelecer um dos temas mais comuns do cinema nacional: a violência urbana, especialmente nas favelas, e suas consequências em nível social e individual. Situado nos anos 1970, o filme segue a vida de dois jovens da favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro: Buscapé, um fotógrafo que registra o cotidiano violento do lugar, e Zé Pequeno, um traficante que usa as fotos de Buscapé a seu próprio favor. A ‘cena da galinha’ de Cidade de Deus tornou-se um dos momentos mais icônicos do cinema nacional.

Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes (2005)

Rodado no Sertão da Paraíba, o longa de Marcelo Gomes se passa no sertão nordestino no ano de 1942. Johann (Peter Ketnath) é um alemão que, para fugir da Segunda Guerra Mundial, veio trabalhar como vendedor de aspirinas nas cidades do interior do Nordeste. Dirigindo seu caminhão, ele conhece Ranulpho (João Miguel), um nordestino que está tentando chegar ao Rio de Janeiro e à procura de trabalho. O filme reflete sobre o próprio papel social do cinema e foi indicado e numerosos prêmios nacionais e internacionais, como o Festival de Cannes e o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha (1964)

Um dos filmes emblemáticos do Cinema Novo – movimento que desviou o enfoque do cinema brasileiros dos padrões hollyoodianos para uma abordagem mais realista focada em questões nacionais, como a desigualdade social -, Deus e o diabo na terra do sol conta a história de Manoel (Geraldo Del Rey), um sertanejo que resolve usar o lucro de seu gado para comprar um pedaço de terra e acaba assassinando um coronel. O filme foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes e foi o selecional do Brasil ao prêmio do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

O auto da compadecida, de Guel Arraes (2000)

O filme, baseado na obra do paraibano Ariano Suassuna, foi rodado na cidade de Cabaceiras, no Sertão da Paraíba, e desde então tornou-se uma das comédias mais populares já feitas no país – somente no ano de sua estreia, o longa foi visto por mais de 2 milhões de brasileiros no cinema. A história acompanha as andanças dos amigos João Grilo (Matheus Nachtergale) e Chicó (Selton Mello) pelo Sertão paraibano, lançando um olhar sobre fenômenos como o cangaço e a religiosidade sertaneja e sobre os tipos característicos das cidades do interior do país.

O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho (2013)

O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho tece um comentário sobre a classe média nordestina (e brasileira) em O som ao redor, longa que foi aclamado pela crítica e colecionou indicações e vitórias em prêmios como o Festival do Rio, a Associação de Críticos de Toronto e o London Film Festival. Situado na cidade de Recife, o longa trata das relações de poder, dos desejos escondidos e dos preconceitos que se escondem sob os prédios de um bairro de classe média da cidade. Anos depois, o cineasta volta a tratar de aspectos da classe média do Nordeste em Aquarius (2016).

Que horas ela volta?, de Anna Muylaert (2015)

Ao abordar as sutis estruturas de poder que sustentam as divisões entre patrões e empregados domésticos no Brasil, Que horas ela volta? virou queridinho da crítica e gerou burburinho sobre suas possibilidades de indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016. Não deu, mas o longa da cineasta Anna Muylaert mostra-se relevante por tratar de uma questão incômoda e ainda presente na sociedade nacional e pela atuação tocante de Regina Casé como a empregada pernambucana Val. Em tempo: o documentário Doméstica (2012), de Gabriel Mascaro, também vale ser conferido.

Rio, 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos (1955)

Considerado o precursor do Cinema Novo e censurado pela ditadura militar pelo retrato da realidade difícil de grande parte dos cariocas, o filme de Nelson Pereira dos Santos acompanha um dia na vida de cinco crianças que vendem amendoim em diversos pontos do Rio de Janeiro.

Tatuagem, de Hilton Lacerda (2013)

O longa aborda o movimento contracultural surgido no país em plena ditadura militar, enfocando os costumes subversivos da comunidade LGBT à época. Opondo a rigidez da moralidade que cerca os amantes Clécio (Irandhir Santos) e Fininha (Jesuíta Barbosa) à anarquia de um grupo teatral do interior de Pernambuco e à descoberta da sexualidade, Lacerda constrói um filme ao mesmo tempo tocante e relevante em tempos em que o conservadorismo ameaça a livre expressão artística, política e sexual.