‘O Candidato honesto 2’, de Leandro Hassum, subestima o público

Filme que se propõe a ser sátira política é repetitivo e sem inspiração.

o candidato honesto 2
Associação com figuras reais é a única graça de O candidato honesto 2.

RESENHA DA REDAÇÃOO CANDIDATO HONESTO 2 (Brasil, 2018, 95 min.)
Direção: Roberto Santucci
Elenco: Leandro Hassum, Rosanne Mulholland, Victor Leal
★☆☆☆☆

Quatro anos após o sucesso de O candidato honesto e às vésperas de uma das eleições mais complexas e sensíveis do Brasil, a comédia O candidato honesto 2, estrelada por Leandro Hassum, chega aos cinemas da Paraíba nesta quinta-feira (30). O filme até representa um pequeno avanço em relação ao último esforço do ator, Não se aceitam devoluções, mas isso quer dizer apenas uma ou duas risadas a mais durante a exibição (partindo de um total de 0).

Quatro anos após ser preso por confessar todos os seus crimes em Brasília durante uma série de ataques de honestidade, o político João Ernesto (Hassum) é convencido a retomar sua carreira em Brasília e concorrer novamente à presidência. Dessa vez, ele consegue vencer, com a missão de realmente mudar a vida dos brasileiros.

Enquanto que o primeiro filme se baseava principalmente nos efeitos cômicos provocados pelos ataques de sinceridade de João, O candidato honesto 2 pretende entreter o público ao espelhar escândalos e figuras políticas notórios nos últimos anos no Brasil. Assim, a personagem de Hassum é bastante representativa dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff; o candidato da oposição, Pedro Rebento (Anderson Muller), é Jair Bolsonaro; o vice de João, Ivan Pires (Cassio Pandolfh) encarna com semelhança impressionante a figura do atual presidente, Michel Temer.

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Essa associação que o filme provoca no público de fato confere certa comicidade à obra – especialmente com Ivan Pires, que em todo momento é explorado como um ser maligno e vampiresco. Aqui, a direção de Roberto Santucci acerta em sua representação de Pires. O tratamento da personagem remete a vampiros clássicos como aquele de Nosferatu (1922): o vice-presidente aparece sem ser anunciado, inclusive pendurado no teto, e sua sombra é comumente utilizada para evocar seu caráter sobrenatural e maléfico. Além disso, Pires não anda – ele desliza.

Para além disso, não há muito o que elogiar em O candidato honesto 2. O filme raramente consegue arrancar uma gargalhada genuína e repete a fórmula e as piadas do primeiro, apesar dos enfoques distintos. Hassum parece ter atingido o ápice da falta de inspiração. A quase totalidade dos momentos supostamente “engraçados” de João Ernesto se resume ao protagonista gritando as expressões “eita” ou “porra” após um susto – e, para provar que até este roteiro tem momentos de complexidade, existem cenas em que ele exclama “eita porra”. Hassum até tenta sair por cima com uma cena em que se autodeprecia, mas o momento soa forçado, quase como se o ator reconhecesse que humor não é seu forte nos últimos tempos.

Além dos eita porras de Hassum, muitas das piadas do filme se baseiam no escracho de minorias. Proliferam-se, no filme, piadas homofóbicas (ditas pelo próprio João Ernesto, que contraditoriamente se revela chocado quando seu opositor Pedro Rebento queima e pisa uma bandeira LGBT); a personagem Isabel (Flavia Garrafa), é o símbolo da mulher burra e feia que corre atrás do protagonista; o ‘Ministério da Igualdade’ de Ernesto é chefiado por uma anã que é negra e lésbica (Hassum faz uma careta quando a vê). É até compreensível, dado o momento atual: ser politicamente incorreto ganhou status cool e revolucionário, mas O candidato honesto 2 se revela tão rebelde quanto o adolescentezinho de 15 anos que zomba do casal gay na escola e depois volta correndo à pornografia solitária que o aguarda em casa.

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Hassum em O candidato honesto 2.

Mas voltemos ao foco principal: o filme se propõe a satirizar o atual momento político do Brasil. Como as boas sátiras, é esperado que O candidato honesto dois seja cômico e promova pelo menos alguma reflexão. O filme falha completamente na primeira tarefa, como foi dito. E na segunda também.

E não por falta de tentativa. O roteiro, ineficiente em criar uma narrativa coesa, empilha uma série de escândalos políticos recentes sem ligação uns com os outros para culminar em uma espécie de lição de moral tão profunda quanto um pires, apontando para o comportamento ‘correto’ que seria esperado da classe política. A mensagem torna-se completamente contraditória quando Amanda (Luiza Valderato), o interesse romântico de João Ernesto, aceita propina. Existe, durante todo o filme, um reforço daquele sentimento de que todos os políticos são de fato corruptos, de que o Brasil está perdido; no final, uma mensagem digna do Minutos de sabedoria esclarece, pressupondo uma audiência imbecilizada, o que realmente aconteceu no Brasil nos últimos anos.

Em determinado momento, João Ernesto minimiza o cinema nacional e dorme durante a descrição de um longa que lembra muito Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho. Segundo ele, ninguém aguenta este tipo de filme. Até pode ser, gosto não é universal. Mas a situação para O candidato honesto 2 parece ser bem pior: do jeito que as coisas estão, até sabatinas com alguns dos candidatos à presidência conseguem ser mais engraçadas.