‘O Predador’: mesmo com sangue e ação, filme se torna entediante

Longa diverte levemente em alguns momentos, mas é prejudicado por história confusa e personagens esquecíveis.

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Cena de O Predador.

RESENHA DA REDAÇÃOO PREDADOR (EUA, 2018, 107 min.)
Direção: Shane Black
Elenco: Boyd Holbrook, Trevante Rhodes, Jacob Tremblay, Keegan-Michael Key, Olivia Munn
★★☆☆☆

Um dos grandes problemas em Hollywood é a insistência dos produtores em sugar dinheiro de franquias moribundas, que já deixaram de render criativamente há muito tempo, como os recentes A múmia (2017) e Círculo de fogo – a revolta (2018). É o caso, também, de O predador (The predator, 2018), filme que estreia nesta quinta-feira (13) nos cinemas da Paraíba.

O filme, o quarto da franquia iniciada com Predador (1987), acompanha o soldado do Exército americano Quinn McKenna (Boyd Holbrook), que, durante uma operação, testemunha a chegada de um dos alienígenas batizados de Predadores à Terra. Único sobrevivente do ataque do Predador, Quinn é levado pelo governo americano para ser lobotomizado, evitando que o segredo sobre a existência dos extraterrestres assassinos se espalhe. O Predador é posteriormente capturado, mas foge; Quinn consegue escapar das mãos do governo e, junto com um bando de outros ex-soldados considerados loucos, parte em busca do monstro (que está, por sua vez, procurando o filho do protagonista).

O Predador tem seus acertos: as cenas de ação entretêm, e o diretor Shane Black imprime uma boa dose de violência que não deixa o filme se transformar na promessa não cumprida e insossa de Megatubarão. Sangue e pancadaria, portanto, não faltam. Também há, nas entrelinhas do longa, uma mensagem já meio batida do ser humano como o pior inimigo de si mesmo – não há monstro extraterrestre que possa fazer tanto mal à Terra e à raça humana quanto o próprio homem. Esse sentido é reforçado algumas vezes, como quando o Predador afirma que gostou de ver os humanos lutando entre si e quando as silhuetas de Quinn e de pesquisadores se assemelham à clássica figura longilínea de extraterrestres. Ainda que não seja exatamente nova, é uma simbologia bem-vinda.

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Positiva é, também, a representação de uma minoria no filme. O filho de Quinn, Rory (Jacob Tremblay, excelente como sempre), tem uma forma de autismo, e embora seus colegas de escola vejam a condição como uma deficiência e ele seja diminuído por isso, o roteiro associa a síndrome a uma maior capacidade intelectual, uma característica evolutiva, superior, da raça humana.

Apesar disso, os problemas se sobrepõem. A trama, ao mesmo tempo clichê e confusa, é uma das grandes falhas do filme. A história se desenvolve sem grandes preocupações com coerência narrativa; não há preparação para as boas sequências de ação – o que pode ser um fator positivo para alguns – e a falta de história é compensada por momentos que estão ali só para encher linguiça, como a cena em que Quinn conhece os outros soldados no ônibus. É diálogo desperdiçado, ineficiente ao mesmo tempo em avançar a narrativa e em desenvolver suas personagens.

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Olivia Munn em O Predador.

Falando em personagens: de Rory à bióloga Casey Bracket (Olivia Munn), todos são apresentados apressada e descuidadamente. Até há uma tentativa de construir certa empatia entre o espectador e Rory em uma cena em que ele sofre bullying na escola, mas o momento soa deslocado em comparação ao resto do filme. O resultado é que virtualmente todos os personagens, incluindo o grupo de protagonistas, se tornam completamente dispensáveis para o público – você não se importa se eles vivem ou morrem porque não há um efetivo desenvolvimento de personalidades ali.

Assim, quando o filme se encaminha para o terceiro ato (que foi completamente refilmado depois de testes de audiência), não há nada que empolgue ou motivo o espectador a continuar assistindo. As cenas de ação, embora divirtam, não bastam por si só: é preciso alguma identificação com alguma personagem; ou pelo menos que toda aquela confusão importe por alguma razão. Infelizmente, nenhum dos casos é verdadeiro em O Predador. O máximo que o público pode sentir à medida que os minutos finais se arrastam é uma leve curiosidade sobre como a história vai acabar – isso se já não estiver cochilando.

O Predador é, portanto, mais uma sequência desnecessária que fala mais em ganhar dinheiro fácil do que em explorar criativamente uma narrativa. Há uma homenagem, logo no início do longa, ao filme de 1987, numa cena em que se passa numa floresta; mas isso parece ser uma dica para fugir do Predador de 2018 e ir rever o original.