Cultura
26 de abril de 2022
12:42

Coletivo cultural se prepara para lançar álbum com músicas sobre João Pessoa

Penharol Samba Clube reúne músicos da capital paraibana e propõe falar de lugares, festas e personalidades populares da cidade. Álbum pode ser adquirido via campanha de financiamento coletivo.

Matéria por Phelipe Caldas

Oito músicas. Que dialogam muito fortemente com lugares de João Pessoa, que lembram espécies de crônicas musicadas sobre a cidade natal dos compositores. É essa a ideia por trás do Penharol Samba Clube, o primeiro álbum do coletivo cultural homônimo que foi criado durante a pandemia e que se prepara para lançar oficialmente a primeira leva de composições autorais.

O projeto do álbum, inclusive, conta com uma campanha de financiamento coletivo ainda em curso, em que as pessoas podem adquirir desde a versão digital das músicas até o CD físico com mais alguns mimos. Quem aderir à campanha, a propósito, deve receber o produto final até julho. Mas mesmo depois disso o disco seguirá sendo vendido.

Um dos integrantes do coletivo, o estudante Davi Franca explica que todos os compositores têm entre 18 e 25 anos. A ideia surgiu em meio à pandemia, devido à necessidade de ocupar a mente durante o período de quarentena. Amigos conversaram por telefone, resolveram começar a compor e não pararam mais. Inicialmente à distância. Depois, com a vacinação e a diminuição dos casos de Covid-19, num pequeno estúdio que o grupo resolveu abrir.

 Capa do primeiro álbum do Penharol Samba Clube, produzida por Davi Sousa Fonseca 

“No alto da pandemia, eu recebi a ligação de um colega de tempos de colégio, Lucas Gondim. Não éramos nem tão próximos à época. Ele era um excelente letrista e queria alguém para musicar as letras dele. Foi assim que começou o projeto, a princípio como algo remoto”, destaca Davi. “Aos poucos foi entrando mais gente”, completa.

A meta da campanha, de mil reais, já foi atingida. Mas essa deve seguir ao menos por mais uma semana. Davi Franca explica que o objetivo é investir o dinheiro arrecadado no próprio coletivo. “O objetivo é melhorar o estúdio, comprar novos equipamentos, investir em distribuição de áudio, mixagem, remasterização, arte de divulgação”, explica.

O trabalho é intenso. O coletivo se reúne ao menos dois dias por semana no estúdio localizado no bairro de Miramar. Quando isso acontece, não têm hora para parar. “A gente grava sem pena, quase sem pausa”, brinca.

Em meio às gravações, outros temas se misturam. Os integrantes discutem também arte e política:

“A gente nunca quis ser artista, mas queremos reconhecimento pelo nosso trabalho. A gente quer que a arte se espalhe. É a arte pela arte”, filosofa.

Ele indica também que o coletivo, na verdade, é um movimento. Que vai para além do trabalho com música:

O Penharol é um coletivo. Não é apenas uma banda. É mais do que isso. É um grupo formado por pessoas que acreditam na Paraíba.
Davi Franca, compositor
 Davi Franca e Kelson Pacífico em meio às gravações do álbum 

Regionalismo sem estereótipos

Ao todo, seis pessoas participam diretamente do álbum. Seja como compositores, instrumentistas ou cantores. Todos fazem de tudo. De 15 músicas autorais que o coletivo já possui, oito estarão no álbum. E, em resumo, é música sobre a Paraíba feita por paraibanos.

“Nossas músicas falam da gente. A gente tenta fazer um regionalismo sem caretices. Porque a gente já está farto de estereótipos. Então com nossa música a gente que botar para fora o que a gente sente, o que acredita”, pontua Davi.

O próprio nome do coletivo já é uma referência a João Pessoa. “Penharol” é referência a dois pontos turísticos da cidade, sendo uma junção de Penha e farol. Fazem, assim, alusão à Praia da Penha e ao Farol do Cabo Branco.

 Ao todo, seis pessoas participam do álbum do Penharol: gravações acontecem em um estúdio e depois o resultado é enviado para passar por mixagem e masterização 

Para além disso, muitas das músicas revelam já nos títulos esse diálogo com João Pessoa. “Aurora da Penha”, “Num Cafuçu”, “Embolada a Caixa D’água” são alguns dos exemplos. Mas até mesmo a música “Deus Castigou”, que não revela nada local à princípio, se passa nas Muriçocas do Miramar.

“Todas as músicas têm sua parcela paraibesca”, explica.

Com relação aos ritmos, Davi explica que é uma miscelância de repente, frevo, axé, samba, bossa, pifo. “É bem eclético. Incluímos aquilo o que é nacional e aquilo o que é regional. Foi o que tentamos”.

Por fim, ele comenta que o projeto é uma tentativa de retorno à cultura popular, de fazer com que as pessoas consumam o que é da terra e não apenas o que é de fora. E, em mais uma referência ao essencialmente local, Davi declama sobre a música do coletivo.

A poesia corre na nossa veia como as águas serpenteiam às margens do Sanhauá.
Davi Franca