Carlinhos Vergueiro faz tributo a Nelson Cavaquinho

O centenário de nascimento do cantor Nelson Cavaquinho (1911-1986), um dos grandes nomes do nosso samba, ganhou um importante tributo. Trata-se de Carlinhos Vergueiro Interpreta Nelson Cavaquinho (Biscoito Fino, R$ 35,00, em média), CD orquestrado pelo cantor e compositor paulista (radicado no Rio), que teve o prazer de conviver, por quase duas décadas, com o imortal intérprete de ‘Folhas Secas’.

Vergueiro concebeu uma bela homenagem a um ídolo. Em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA, por telefone, ele diz que tinha 17 anos, ali, no final dos anos 60, quando conheceu o sambista, então com quase 60 anos, e a amizade durou até o fim da vida do cantor.

“Ele frequentava o Bar do Zé (São Paulo) e eu jogava bola pelo time do bar. Ao contrário do que muita gente diz, Nelson era muito alegre. E foi o boêmio com a maior resistência que eu vi. Eu o encontrava à noite, no bar; no outro dia, pela manhã, eu saía para jogar bola e quando voltava, umas 10 horas, ele ainda estava lá!”, lembra.

Ao longo dos anos, Vergueiro compartilhou a amizade, a boemia, e também os palcos com Nelson Cavaquinho. Chegou a produzir seu derradeiro disco, Flores em Vida (1984), ao lado da cantora Cristina Buarque, uma das convidadas deste tributo.

“Nelson era muito boêmio e muito querido. Sempre com seu violão, tinha prazer de tocar para as pessoas, fosse no palco, fosse no meio da rua, na feira, na praça. A última parada dele antes de ir para casa era a Praça Tiradentes. Ele parava ali e ficava tocando, para dois, três, quatro pessoas. Ele fez shows maravilhosos para esse público”, recorda o músico.

Carlinhos Vergueiro também tomou emprestado canções do repertório de Nelson em sua trajetória artística. “Por muito tempo, cantei mais de 50 músicas de Nelson Cavaquinho que eu conheço bem e que eu gosto”, comenta.

Essa base o levou a selecionar o apurado repertório de Carlinhos Vergueiro Interpreta Nelson Cavaquinho, que equilibra grandes clássicos do sambista (‘Palhaço’, ‘Luz negra’, ‘Folhas secas’), com canções pouco conhecidas, como ‘Palavras malditas’, música que, 50 anos depois de gravada, foi resgatada tanto no disco de Carlinhos, quanto no de Beth Carvalho, lançado este ano.

O repertório do disco - que tem, ao todo, 12 faixas e um encarte repleto de fotos e letras - ganhou arranjo de um especialista em Nelson Cavaquinho: o bandolinista, arranjador e pesquisador Afonso Machado, autor do livro Nelson Cavaquinho - Violão Carioca, lançado este ano. Ao lado do filho Tiago Machado (que havia feito o arranjo de ‘Trem das Onze’ para o disco anterior de Vergueiros, Dá Licença de Contar), Afonso respeita as estruturas melódicas das canções em arranjos competentes.

Além de Afonso, o disco conta com outros especialistas. Tem a citada Cristina Buarque em outra pérola desconhecida de Nelson, ‘Beija-flor’, e o irmão ultrafamoso, Chico, no registro de ‘Nome sagrado’. Tem também o sambista Wilson das Neves em interpretação irretocável para ‘Folhas secas’ e o percussionista Marcelinho Moreira em ‘Pranto de Poeta’.

Vergueiro fez questão de incluir canções feitas por Nelson Cavaquinho que acabaram não levando o crédito do sambista. É o caso da famosa ‘O meu pecado’, gravada originalmente por Elizeth Cardoso e creditada apenas a Zé Ketti. “Nelson compunha e vendia ou trocava as músicas. Tem música creditada até a um pai de santo, José Ribeiro de Sousa, que deve ter feito bons serviços a ele”, revela.

Para encerrar, o músico diz que em 2012, dará sequência à turnê do disco, ainda inédita no Nordeste. "Adoraria voltar ao Nordeste, em especial a João Pessoa, onde fiz um show maravilhoso em 1986. Foi num projeto Pixinguinha, com (a cantora) Fátima Guedes, aí no teatro Paulo Pontes. Fui recebido com muito carinho e ovacionado. Foi um show que eu nunca vou esquecer".