Instinto Selvagem, aos 30 anos, continua um grande filme

Instinto Selvagem, aos 30 anos, continua um grande filme

Em 2022, Instinto Selvagem completará 30 anos e, restaurado, ganhará uma cópia em 4K.

Imagine aquela cruzada de pernas de Sharon Stone em 4K.

Aos 30 anos, um filme já pode ser considerado um clássico.

É o caso de Instinto Selvagem ou o filme de Paul Verhoeven permanece na memória de quem o viu na época só como um grande sucesso que mistura erotismo a uma atraente trama policial?

Gosto muito de Instinto Selvagem.

Mas não pela cruzada de pernas da personagem Catherine Tramell ou pelas (na época) ousadas cenas de sexo protagonizadas por Michael Douglas e Sharon Stone.

O que mais me atrai nesse thriller, desde sua estreia na tela grande do Cine Tambaú, é a sua semelhança com Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock.

Instinto Selvagem não é um remake de Um Corpo que Cai. Claro que não.

Digamos que Instinto Selvagem atualiza Um Corpo que Cai.

É como se Verhoeven transpusesse a São Francisco dos anos 1950, do filme de Hitchcock, para a São Francisco dos anos 1990, do seu filme. Trazendo juntos personagens que se remetem uns aos outros.

A cidade é a mesma. O policial de Hitchcock (James Stewart) não pode trabalhar pela soma de culpa com acrofobia. Em Verhoeven, o policial (Michael Douglas) vive sob os olhares de uma psicóloga por causa da dependência química.

Em Hitchcock, Kim Novak é uma, mas depois se transforma em duas.

Em Verhoeven, Sharon Stone nos faz confundir a realidade com a ficção, já que ela é escritora. Ou seja: são duas em uma.

Em Verhoeven, há cenas fortes de sexo.

Em Hitchcock, não. Mas há erotismo insinuado quando o espectador sabe que James Stewart despiu as roupas molhadas de Kim Novak e a esquentou com um roupão.

Identificar essas semelhanças – há outras – é uma delícia.

Aí, se você quiser fazer a brincadeira ainda mais divertida, veja Trágica Obsessão, que Brian De Palma realizou em 1976. Este sim, um tributo ostensivo ao filme do mestre Hitchcock.